quinta-feira, 25 de abril de 2013


RITINHA – 3  
MILTON  MACIEL 

Final da parte 2
  Bastião se queimou de vez com aquela história. Mas já não bastava tudo o que aquela criança tinha sofrido, ainda tinham que fazer mais essa maldade com ela?! Estendeu o braço sobre a menina, abriu a porta do lado do passageiro e falou:

– Pois desça qui nóis vai cumê do bom e do milhó qui tivé nessa joça! Desça qui nóis vai intrá junto e ocê vai sentá do meu lado. I ai di quem si atreva a querê buli com ocê! – e empurrou com cuidado Ritinha para fora da cabine.

   A menina desceu assustada, tinha pavor enorme de discussão e de brigas e estava traumatisadíssima com a surra que levara de João Boto. Ficou com medo de entrar, do que iria acontecer, da...

PARTE 3
... da humilhação que iria passar mais uma vez. E mais medo ainda, quando pensou no dia seguinte, quando aquele moço forte não estaria mais por ali para lhe dar garantia. Mas Bastião já havia descido e, tomando-a pelo braço, a carregou com firmeza até à entrada da lanchonete. Ritinha entrou tremendo, de olhos baixos, mas a fome era tão grande que ela faria qualquer coisa para poder botar algo na boca.

   A gerente estava na porta e fez um sinal ao segurança, o qual falou com voz autoritária:

– Quenga não entra!

– I ocê tá vendo sua mãe querendo entrá, seu cabra safado? Podi sê qui a quenga di sua mãe num entre, mais minha irmãzinha aqui pode entrá sim! Eu só quero vê quem é macho di querê impidi!

   O segurança olhou para a gerente, desconcertado. Esta, por sua vez, também estava atônita. Mas falou logo, com arrogância:

– Que sua irmã, que nada! Deixe disso, homem. Isso é uma vagabundinha que apareceu por aqui, pra fazer a vida no posto, uma sem-vergonha. Aqui ela não entra, isto é casa de respeito, não é lugar para uma nojenta que nem essa...

   Paaaft!!!

 Bastião mandou um tremendo tapa na cara da mulher, que rodopiou duas vezes no ar antes de se estatelar em cima de um sofá de espera, apavorada com a reação do homem.

   O segurança fez menção de puxar a arma, mas Bastião imobilizou seu braço com um aperto de mão que mais parecia uma tenaz de aço. Mantendo o braço do homem seguro, enquanto este gemia de dor, o irmão de Ritinha falou:
– Num tente fazê isso, sinão le tomo a arma e ocê é um cabra morto. Pensando bem, é milhó eu fica cum ela por inquanto. Na saída le adivolvo. Vá qui ocê num mi iscuta e resorve fazê bobage. Na certa ocê é pai di família, num quero le disgraçá.

   O homem, assustadíssimo, fez com a cabeça que sim. Adiantou-se a abrir o coldre da arma, que era meio complicado, e deixou que Bastião pegasse o revólver. Guardando-o na cintura, o pistoleiro deu dois passos adiante e, com um safanão, ergueu a gerente pelo braço.

– I ocê, sua merda, vai serví a gente di garçonete, intendeu? Vai trazê i levá os prato di Ritinha. E vai si adiscurpá, vai pidí perdão e vai falá muito mansa cum ela. Sinão termino di le arrevirá os corno e dexo essa sua cara mais feia do que já é. Vô tê o maió gosto di le fazê um monte di cicatriz na cara cum a pexera, ah si vô! Vamo mulé, se avie, si mexa, vá levá a gente pra milhó mesa dessa joça e é pra já! – e foi empurrando a gerente casa adentro.

   Os fregueses, entre assustados e divertidos com a cena, ao verem aquela mulher arrogante e antipática humilhada, ficaram sem ação. Os funcionários adoraram a situação: sentiam a alma lavada, havia justiça neste mundo, Senhor!

– Venha minha irmã, vamo sentá i cumê – falou Bastião, levando a menina pela mão até à mesa indicada pela gerente apavorada.

   Sentaram-se. Bastião fez com um dedo sinal para que a gerente ficasse em pé junto à mesa, à disposição. Um solícito garçom, todo sorridente, trouxe o cardápio, mas foi logo avisando:

– Seu Bastião, aqui está o menu, mas pro senhor eu recomendo o melhor da casa: nossa buchada de bode está de tinir, uma maravilha. E olhe que está prontinha, quentinha, não carece esperar nada. Se o senhor me autoriza, trago pra vocês num minutinho.

– Tá, eu le agradeço e le pergunto: ocê mi conhece? Di donde?

– Pois se até tirei foto com o senhor e seu irmão Jeremias, apertando a mão de seu pai, lá em frente ao hospital de Dr. Epaminondas.

– Ah, intão é isso! Me adiscurpe si não mi alembro, foi tanta gente e tantos dia.

   Quando o garçom falou aquilo, os fregueses nas mesas próximas começaram a se levantar de seus lugares e a cercar a mesa de Ritinha e Bastião.

– É mesmo, gente! Olhem só, é um dos homens que justiçaram João Boto.

– Sim, é ele mesmo. É um dos filhos de Dito Timbó. Um herói!

– Que presepada que vocês aprontaram com o João Boto, hein!

   Aí foi a vez de atentarem em Ritinha:

– Então essa é a menina?! Pobrezinha!

– Tão criancinha!... Que desgraçado, ainda bem que cortaram os colhões dele.

– Pois num é? Tinha coisa mais merecida, mais bem feita?

– Pois se tinha! Pois se não levaram ele de noivinha pra casar na delegacia?

– Poxa, olhando essa criança de perto, chega a doer na alma.

– E veja só: eu vi e ouvi tudo, essa nojenta aqui destratando a coitadinha, chamando de puta e de tudo que é coisa ruim. Pois vou lhe dizer: enquanto essa coisa ruim for gerente desta casa, eu não boto mais meus pés aqui!

– Pois você tem toda a razão, compadre. Eu também vou fazer o mesmo. Aliás, acho que vou proibir todos os nossos funcionários de virem almoçar aqui enquanto essa tipa emproada estiver empesteando este restaurante. Por isso é que esta coisa está entrando em decadência. Também, com um diabo feio desses dando as cartas!

   Para completar o azar da gerente, não bastasse o tapa, o susto e as frases iradas dos fregueses, nesse momento vinha entrando o dono do estabelecimento. Alguém tinha corrido a avisá-lo do acontecido, sua casa era bem próxima. O patrão, que era um homem prático, não hesitou um segundo, não ia perder mais clientes por causa daquela coroa mal-amada, azeda, sempre em pé de guerra com cozinheiras, garçons, auxiliares, até com fregueses ela conseguia implicar. Estava na hora. Errar é humano. Sabia reconhecer o erro: fizera a escolha errada! Aproximou-se da mesa que virara o epicentro das atenções, reconheceu Ritinha, reconheceu Bastião, celebridade instantânea, junto com seus irmãos e o pai, não se falava outra coisa na cidade próxima. Dirigiu-se à gerente, com voz áspera:

– Dona Matilde, eu ouvi tudo o que esses fregueses estavam falando. Vou lhe dizer uma coisa, curta e grossa. Uma vez a senhora me disse bem assim, se referindo a esta mocinha aqui e suas colegas: ou elas ou eu. Pois lhe digo que na hora eu fui um besta, eu fiz a escolha errada, fiquei com a senhora. Pois agora eu estou corrigindo meu erro. Fico com as moças, como sempre foi antes. Dona Matilde, vá catar suas coisas, ponha-se daqui pra fora, estou lhe despedindo por justa causa!

   A gerente engoliu o choro, era orgulhosa demais para dar esse gosto àquela cambada de idiotas, patrão e funcionários, uns arrematados imbecis. Mas, antes de sair, compreendendo o perigo que corria, agora que estava sabendo quem era aquele homem, um filho do terrível Dito Timbó, resolveu limpar sua barra com o homem. Ao mesmo, tempo caiu a outra ficha: aquela menina a quem havia destratado seguidas vezes era então, ela também, filha de Dito Timbó!

   Céus, estava encalacrada! Corria risco de vida, aqueles bandidos desalmados podiam acabar com ela em dois tempos. Precisava fazer algo agora. Amanhã correria à delegacia. Ia dar parte do homem que a agredira e pedir proteção ao sargento Elias. O sargento saberia dar o justo castigo àquele agressor! Mas agora precisava engolir o orgulho e tratar de salvar a pele. Perdeu o resto da pose e caiu de joelhos em frente a Ritinha. Implorou perdão. Disse que aquilo não era coisa sua, era um demônio que às vezes a ‘atentava’, que iria pedir ajuda ao pastor.

   A menina estava em estado de choque. Tudo aquilo havia acontecido de uma maneira tão rápida que a deixara tonta. Então aquele rapaz que a estava defendendo era filho de Dito Timbó?! Ela ficara sabendo que este homem, famoso e respeitado matador, havia justiçado João Boto e que o desgraçado estava na cadeia, devidamente capado, servindo de repasto aos outros presos.  CONTINUA                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

SOFRER FAZ PARTE DO EFÊMERO 
MILTON  MACIEL 

Enquanto o consciente chora pela infelicidade,
o inconsciente festeja pela compreensão.
                                             (ditado sufi)

Não chore pelo que não teve,
não se lamente pelo que perdeu.
Não se envenene pelo já sofrido.
Sofrer...  faz parte do Efêmero!

O lamuriar-se é torpe trava triste,
tem um contrato com a infelicidade,
mantém você entregue ao travo amargo
da incompreensão, revolta, da saudade.

Não se vergaste com a ansiedade,
não alimente o esboroar do hoje
pelo tremer por medo de um futuro
que não existe, que nem é verdade.

Pois o único que por lá pode acontecer
é tão somente o que TEM que acontecer!


SER FELIZ É OLHAR PARA  TRÁS
MILTON  MACIEL

O verdadeiro amor está muito mais
em ter tido a felicidade de partilhar:
Doces e duros momentos,
as alegrias e os contratempos,
os altos e baixos do dia-a-dia simples,
a cumplicidade do agora.

Está muito mais no acumular de experiências e vivências
que constroem um passado de compreensão e tolerância.
De amizade e carinho. De superação de divergências.
De adaptação e mútua concessão.
De aceitação e admiração recíproca.
E de respeito e trégua duramente aprendidos.

As pessoas nem sempre percebem que
Ser feliz é um olhar PARA TRÁS!
Ao contrário..., elas tendem a viver infelizes
Por causa de um veneno chamado
MEDO DO FUTURO, medo de perder.

Só que aquilo que você tem dentro de si
não pode mais ser perdido.
É tesouro indestrutível!

Uma relação pode acabar,
o afeto de amanhã pode mudar.
Mas tudo o que foi vivido não muda,
está guardado para SEMPRE,
per omnia secula seculorum.

HÁ QUE OLHAR PARA TRÁS.
E reviver na mente cada bom momento,
cada conquista, cada carinho, cada encantamento,
cada triunfo sobre si mesmo;
E tudo ver com reconhecimento!

Portanto, ser feliz é, acima de tudo,
um estado de contínua GRATIDÃO. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013


O POETA E O GUASCA - 3a. parte    
MILTON  MACIEL
(Vamos compondo, vamos postando)

ULTIMA ESTROFE DA PARTE 2:

Ansioso por conhecê-lo
Esperou que o som parasse,
Que voz do guasca calasse
E que ele pudesse vê-lo.
Pediu que entrasse o gaúcho
No seu ambiente de luxo.

                   III

Rogou-lhe: “Traga a sanfona,
Entre que aqui está quentinho”.
O guasca entrou de mansinho,
Trazendo sua cordeona:
“Puxa, doutor da cidade,
Tá quente barbaridade!”

Tirou chapéu e casaco,
Sentindo a falta da brisa.
Quase que tira a camisa,
Já suando no sovaco.
Só não o fez por respeito,
Pra se comportar direito.

O outro, todo entrouxado,
Mostrava que frio sentia,
Mas cordialmente sorria
Pra seu novo convidado:
“Você é bom acordeonista
E canta como um artista.”

“Bondade sua, meu patrão!
Sou só um guasca da campanha
Que menos toca que arranha,
Lhe dando essa falsa  impressão.
E que cantar? Canto nada!
Voz de taquara rachada!”

“Não é verdade, por favor!
Você é um artista completo.
E esse seu falar direto
Me impressionou, sim senhor!
E os versos lindos, de trova,
De sua dor a maior prova,

Me deixaram extasiado
Por sua simplicidade.
Me tocaram de verdade.
São versos de apaixonado,
Uma beleza completa!
Por favor, quem é o poeta?”

“Bueno, poeta não tem não,
Que é verso de índio xucro.
Mas tô saindo no lucro
Se lhe agrada à compreensão,
Já que o autor desse embrulhado
É aqui este seu criado.”
RITINHA - 2a. parte
MILTON   MACIEL

Final da primeira parte: 
– Pois ocê disse qui nóis tá cum sorte porque tem muita minina nova, di menor, aqui? É isso?

– Não! A sorte de vocês é que agora tem uma quenguinha nova, uma que descabaçaram faz menos de um mês, é carnezinha nova, bonita de ser ver. Vocês precisam esperar por ela, ela sempre vem pra cá de noite. Não tarda muito e elas começam a chegar. E aí procuram pelos homens de caminhão. Se vocês querem uma sugestão, façam o seguinte. Tão vendo aquele caminhão azul ali, do Espírito Santo? Pois ele foi deixado aí pelo motorista. Está com problema mecânico mais sério e o homem pegou um ônibus pra buscar a peça que falta lá em Juazeiro.  A chave está aqui com a gente. Então vocês entram no caminhão e ficam esperando lá dentro. Quando virem as meninotas chegando, façam o...

Parte 2:  ...façam o seguinte: acendam a luz da cabine e liguem o rádio, assim elas vão ver que tem freguês no posto. Sabe como é, aqui é um lugar pequeno, não tem muito movimento e tem noites que não pernoita nenhum motorista por aqui. Quando tem freguês, elas caem matando, vocês vão ver.

– E ocê faiz isso por nóis, é? Abre a porta do caminhão pra gente?

– Claro, meu camarada, porque não ajudar quem precisa? Aí, se um de vocêS quiser deixar uma cervejinha, muito que bem. Mas não precisa, se não tiver. Eu faço a coisa do mesmo jeito. E... Olhe, lá vêm elas! Olhem lá, bem na direção daquela placa acesa, estão vendo? Duas meninas, justo o que você precisam, uma pra cada um. Deixa eu correr no escritório e pegar a chave, você já se encaminhem prO caminhão. Rápido!

   Momentos depois os dois irmãos já estavam na cabine do veículo. Osmar tinha alguma noção de painel de automóvel, procurou ansioso pelo botão de luz no caminhão e acabou dando com ele, depois de várias tentativas mal sucedidas. Esqueceram de ligar o rádio, estavam tensos os dois.

   Coisa de dois minutos se passaram e viram duas meninas muito novas se aproximando. Bastião avaliou as idades: uma aparentava uns quatorze anos. A outra era muito mais jovem ainda: Ritinha?

   Os dois homens ficaram estáticos, observando as moças que agora chegavam junto ao caminhão. A mais velha, mais experiente, escalou os degraus externos e bateu no vidro da porta de Osmar, que estava ainda fechado:

– TIO, ME QUEIRA POR FAVOR, ESTOU COM FOME!... Vamos nós dois? Eu faço gostoso, você vai ver.

   Osmar encarou a mocinha. Era de fato muito linda, o viço de sua pouca idade acendeu um fogaréu no homem. O corpinho era bem feito, a menina já era bem formada, tinha carnes, tinha os peitos bem salientes, empinados. Ela era alta, delgada, elegante, tinha uma carinha de indiazinha linda, os cabelos negros e bem compridos. E OLHOS VERDES! Um tesão! Na hora Osmar esqueceu seu propósito e passou a pensar com os bagos, ficou cego de desejo:

– E onde é qui a gente vai? E quanto custa?

    A mocinha saltou ao chão com um sorriso de felicidade e disse:

– Venha comigo, é aqui mesmo, tem os quartinhos dos fundos, atrás da borracharia. É ali que a gente se vira. O quarto custa dez reais, e eu cobro só cinco. Mas se o moço não quiser o quarto, a gente faz aqui no caminhão mesmo, mas aí tem que ser uma de cada vez, juntas nós temos vergonha.

   Osmar, excitadíssimo, pulou da cabine e já se atracou com a garota, tratando de beijá-la e de passar as mãos por todo o corpo dela.

– Aqui não, seu moço. Vamos pro quarto, é logo ali atrás.

– Bastião, ocê ispere pela Rita. Eu num posso agora!...

   Bastião ainda estava olhando, admirado, a rápida mudança de planos do irmão, quando ouviu as batidas no vidro de sua porta. Uma vozinha delicada, algo hesitante, falou:

– Moço, me queira, por favor. Por favor...

   Bastião voltou-se para fora e viu aquele palminho de rosto bonito, sutil, delicado, com marcas evidentes de equimoses, amarronzadas pelo tempo. Havia um marca feia, como uma cicatriz, no pescoço. Uma criança assustada, uma criança com olhos súplices, uma criança perdida. Era Ritinha, sem dúvida.

   Baixou o vidro e ficou mais um tempo a encarar a menina, que estacou sem saber o que fazer ou falar. Era evidente que não tinha experiência nenhuma de vida, de putaria...

– Ritinha? – foi a pergunta de Bastião, meio sem jeito.

– Sim. O senhor já soube de mim? Veio por minha causa também, como os outros?

– É, vim atrais di ocê. Que bom qui le encontrei.

– Olhe, moço. Eu também cobro só cinco reais e, como a minha colega já foi com o seu amigo para o quarto, a gente pode ficar aqui mesmo na cabine, poupa o seu dinheiro.

   Bastião resolveu esticar um pouco aquele assunto, queria saber até onde a menina iria:

– E ocê faiz o que? – e viu que a menina destrancava a porta e entrava para a cabine. Ela respondeu, já sentada no banco:

– Olhe moço, não vou lhe mentir. Se o senhor veio atrás de mim é porque já conhece a minha história. Então vai entender que eu não posso fazer tudo o que as outras fazem, não posso ainda, o senhor compreende?

– Não sei si intendi dereito. Num pode o que?

– Moço, aquele maldito que está na cadeia agora me machucou demais, é isso. Então eu não posso... dar, entende? Tem que fazer só por fora e eu uso as mãos, pode ser?

   Bastião provocou:

– Ah, mas assim num tem graça! Cumo é qui ocê qué cobrá o mesmo qui sua amiga, qui faiz di um tudo, cum certeza?

– Então o moço me dá menos. Mas, por favor, me queira assim mesmo. A gente tem passado muita fome, sabe. Tá muito difícil ter cliente no posto e não quero homem aqui da cidade, não.

– Ara! E por causa di que?

– Ah, moço, eu tenho vergonha sabe. É tudo gente conhecida da minha família, é muito pior pra mim. E também tem esse problema meu, que eu estou muito machucada lá. A médica do posto de saúde que me atendeu me avisou para não ter nada por um bom tempo. Então está muito difícil começar nesta profissão, sabe? O pior é que os homens vêm aqui atrás de mim, vêm os da cidade, que estão sabendo do meu caso, acho isso um horror. Aí eu me escondo. Só vou com gente de fora, como o senhor. Mas aí, quando eu digo que não posso fazer, a maior parte não aceita. Querem de um tudo e eu não posso. E nem sei direito ainda...

– Pois fique sussegada, qui eu vô le dá o dinhero assim mesmo. Ocê disse que tem passado fome?

– Muita, seu moço. Se não fosse por essa minha colega, que pode ganhar mais do que eu, acho que eu já tinha morrido. Ela compra comida pra ela e pra mim, é um anjo que Deus botou no meu caminho, teve dó da minha desgraça. Me levou para morar no quartinho que ela paga. E ela fica me ensinando tudo o que eu devo fazer com os homens, sabe? Ela entende de um tudo, está há mais de dois anos na profissão. Só que eu ainda não posso, é difícil.

– Pois toca a cumê, intão! Vamo lá na lanchonete qui eu le pago o jantá.

– Não dá, moço. Eles não deixam a gente entrar lá e sentar para comer. A gente pode comprar a comida, mas tem entrar pelos fundos, pela cozinha.

– Ué, mas por causa di que? – quis saber Bastião, admirado.

– Porque a gente é puta e a gerente nova é crente. Antes puta podia entrar, mas agora ela não deixa, disse para o dono que era a gente ou ela. Ele preferiu ela, é claro! A lanchonete é grande, é restaurante também e vem muitos clientes da cidade. Aí eles não querem puta misturada com gente decente, é o que disseram para nós ainda ontem, mais uma vez.

  Bastião se queimou de vez com aquela história: Mas já não bastava tudo o que aquela criança tinha sofrido, ainda tinham que fazer mais essa maldade com ela?! Estendeu o braço sobre a menina, abriu a porta do lado do passageiro e falou:

– Pois desça qui nóis vai cumê do bom e do milhó qui tivé nessa joça! Desça qui nóis vai intra junto e ocê vai sentá do meu lado. I ai di quem si atreva a querê buli com ocê! – e empurrou com cuidado Ritinha para fora da cabine.

   A menina desceu assustada, tinha pavor enorme de discussão e de brigas e estava traumatisadís-sima com a surra que levara de João Boto. Ficou com medo de entrar, do que iria acontecer, da...
CONTINUA 
(RITINHA é o capítulo 3 do livro A ESPERA E A NOIVINHA - Milton Maciel - IDEL - SP)

terça-feira, 23 de abril de 2013


O  POETA E O GUASCA - parte 2
MILTON MACIEL 
(Vamos compondo, vamos postando...)
           

Diz que o homem tem fardão
De uma tal de Academia,
De tão bom que é na Poesia!
Mas sofre com a situação:
Morde-lhe o frio, qual cruzeira,
Pois treme em frente à lareira.   
(Última estrofe de ontem)

                    II
Mesmo assim vai à vidraça,
A chamá-lo o firmamento.
E o sublime do momento
É tanto... que até o frio passa!
É quando ouve a voz chorona,
Que vem de uma cordeona.
 
Mal entreouve a melodia...
Mas parece tão bonita,
Que sua alma fica aflita
E lhe inspira a ousadia:
Correa vidraça de lado,
Vergasta-o o ar gelado!

Mais que homem, ele é Poeta,
É a Beleza o que o inspira.
E o ar gelado que aspira
Não intimida o esteta.
Bebe a melodia triste:
“Deus, é a mais bela que existe!”

Agora canta o gaiteiro.
E os versos que ele entona,
Ao som de sua cordeona,
São um poema verdadeiro.
E eis que Poeta se encanta
Com o que o gaúcho canta.

“Tirana do meu desejo,
Guria do meu encanto,
Ó deusa do meu espanto,
Quanto faz que não te vejo?!
Por falta de ti, guria,
Morro um pouco a cada dia”

“Lembra do dia da dança
Quando eu disse o meu amor?
Pois ali, sem tirar nem por,
Tu não me deste esperança!
Desde então, apaixonado,
Vivo triste, abichornado.”

“Foste embora pra cidade
Cuidar da tua carreira
Me deixaste, sorrateira.
Mas tenho dignidade:
Minha dor, desde o começo,
Só à sanfona confesso.”

O poeta ouvia, extasiado,
Aquela simplicidade!
Os seus versos de cidade
Eram um emaranhado
De construções tão complexas
Que eram soltas, desconexas.

De vanguarda, sua poesia,
Que tantos prêmios lhe dera
Parecia uma quimera
Ante aquela nostalgia
No guasca o emocionava
A dor que comunicava.

Ansioso por conhecê-lo
Esperou que o som parasse,
Que a voz do guasca calasse
E que ele pudesse vê-lo.
Pediu que entrasse o gaúcho
No seu ambiente de luxo.

(CONTINUA AMANHÃ)

RITINHA  
MILTON  MACIEL  
Capítulo 3 de
A ESPERA E A NOIVINHA  
Milton Maciel – IDEL – SP.

Hoje continuo a apresentar o trabalho que, até hoje, foi o que mais me falou ao coração.  Por isso faço questão de compartilhá-lo com todos aqueles que não compraram ou não comprarem meu livro. Apesar dos que vieram antes e depois dele, dentre os meus próprios, ele é o meu livro favorito. Considero-o minha obra-prima.

Já mostrei o que aconteceu com o homem que estuprou Ritinha, de 10 anos apenas, no capítulo A NOIVINHA. Agora temos à frente a saga desta criança incrivelmente corajosa, que, na sua desgraça, jogada à rua, encontra amor e proteção na pessoa de uma outra criança, Gabi/Iracema, que aos 14 anos, já é prostituta há mais de dois, tendo sido escrava sexual em um garimpo no Pará desde os doze.

 A história está ambientada junto a Barbalha, Missão Velha e Juazeiro de Norte, no Ceará, região que percorri dando consultoria para engenhos de açúcar, nos anos em que fui Presidente da Associação de Agricultura Orgânica e Secretário de Agricultura em Alagoas, vivendo-os então na belíssima Maceió. Foi quando conheci de perto a dramática história das meninas prostituídas à força e a saga dos pistoleiros de aluguel. Combino-os todos em três livros meus: Este, A Espera e a Noivinha; Lolita de Aracaju, a Mais Jovem Dona de Bordel do Mundo; e Lolita de Aracaju e o Padre, Um Amor de Redenção, este ainda inédito, em fase de editoração.

Ritinha é filha de Marta com Dito Timbó, o mais famoso matador de aluguel do Ceará. Machista e preconceituoso ao extremo, Dito abandona as filhas mulheres que vai gerando, nos inúmeros casos que tem pelo Nordeste todo. Vem castigar o estuprador da criança apenas por uma questão de orgulho e tradição, porque não acredita que ela possa ser sua filha. Seus três filhos mais velhos, que o idolatram e são também pistoleiros, acompanham o pai nessa empreitada de punição ao agressor João Boto, por eles convertido na Noivinha.

Nesta série para blog, alguns termos mais cruentos do livro são omitidos ou trocados. Cenas de sexo realistas são também omitidas ou “suavizadas”, como a cena do estupro. Tudo em respeito à impossibilidade que temos, no blog, de discernir quem é nosso público leitor. Não se trata de autocensura, mas de deixar o texto acessível a um público maior, inclusive falsos(as) moralistas e crianças de mais precoce gosto pela leitura. Mas advirto que, mesmo com essas pequenas tesouradas, o texto ainda é muito “forte” e apimentado. E, acima de tudo, realístico. Não coloquei açúcar na sua água. Não o recomendo, portanto, para as Polyanas de plantão. Não serve também para crentes fanáticos religiosos, de mentalidade retrógrada. Não o abram, porque o satanás obscurantista que vive dentro de seus corações endurecidos e de suas mentes bitoladas, vai saltar nas páginas do livro e parecer, por mero reflexo, que é delas que se origina.

RITINHA
Enquanto Dito timbó se entendia com Marta e Manuela, seus três filhos – Osmar, Bastião e Jeremias – procuravam entrar em contato com Ritinha. Bastião era o mais interessado. Estava encantado com a idéia de ter uma irmã criança e, ao mesmo tempo, extremamente penalizado com o que havia acontecido com ela. Osmar também ficara sensibilizado com a situação da menina e manifestava que, ainda que chegassem à conclusão que ela não era irmã deles, deviam fazer alguma coisa por ela. Tirá-la da estrada era o mínimo que deviam fazer.

Já Jeremias era mais conservador. Irmão mais velho, era o que mais se assemelhava NA forma de pensar ao pai. Para ele, assim como para Dito Timbó, o caso de Ritinha era um caso perdido. Já lhe haviam comido os tampos, portanto não era mais donzela. Ora, menina nova que não é mais donzela, não pode dar em coisa que preste. Não importa que ela tenha sido descabaçada à força, resistindo e apanhando do agressor. O que importa é que o cabaço não tem mais existência. Então, o que ia impedir essa menina de andar depois por aí, se deitando com os meninos da idade dela? Ou dando para rapazes e homens mais velhos? Nada! O resultado é que ia arranjar barriga em seguida. Além do mais, mulher comida acaba tomando gosto pela coisa e aí vai querer mais e mais. Acaba virando uma desavergonhada, uma qualquer, uma mulher fácil que qualquer um leva pra cama. Daí a se tornar puta é só mais um passinho.

No caso de Ritinha, raciocinava Jeremias, nem tinha sido preciso esperar tempo algum. Nem bem o homem tinha lhe feito o serviço, a desavergonhada já estava pelas estradas vendendo o xibiu e o rabo. Tá se vendo que não prestava mesmo. Se não fosse o padrasto, algum outro ia logo enfiar nela e fazer dela mais uma mulher arrombada. Essa aí não tinha mais jeito, painho Dito é que tinha razão. Já tinha escolhido ser puta e, se já estava na putaria há vários dias, é porque queria; devia gostar, a sem-vergonha. Jeremias sacudia a cabeça, achava uma besteira o que queriam fazer aqueles seus irmãos mais moços, uns sentimentais sem cabeça, sem juízo.

  Pois então painho já não tinha falado o que pensava sobre a menina? Que era mesmo um caso perdido e que ele, Dito Timbó, mesmo que lhe provassem com documento e exame de laboratório, desses que estavam na moda agora, que a menina era filha dele no duro, ele é que não ia querer saber de uma filha puta. Se ela escolheu esse caminho, azar dela. Pois que seguisse agora por ele. Ninguém tinha obrigado, foi para a sem-vergonhice por que quis – esse era o pensar do velho Timbó. Jeremias assinava em cruz, rezava pelo mesmo catecismo do pai.

   Mas aqueles meninos, seus irmãos mais moços, eram uns sonhadores sem juízo. Onde já se viu não seguir a idéia de painho? Por que perderem tempo atrás da putinha? Só se eles estavam querendo era outra coisa. Como a menina dificilmente seria mesmo irmã deles, vai ver que o que atiçava a curiosidade dos dois era mesmo a vontade de comer a tal Ritinha. Ainda mais que o povo falava que ela era por demais bonita, uma formosura de rosto e com um corpinho que já tinha a bunda empinada e as pernas grossas, só faltava mesmo era crescerem os peitos.

   Pensando assim, Jeremias ficou mais tranqüilo. Mas que danados, aqueles irmãos seus! Pois tá na cara que só podia ser isso, por isso é que estavam querendo achar a tal da menina. Queriam era comer a bonitinha, era isso! E ele se preocupando à toa, com medo que os desmiolados fossem fazer coisa que desagradasse o velho, algo impensável para ele, Jeremias. Para este filho mais velho, era Deus no céu e Dito Timbó na Terra. No íntimo era até Dito Timbó no céu e Dito Timbó na Terra, isso sim! Palavra de painho não só era uma ordem, mas era algo de sagrado. Na sua simplicidade rústica, Jeremias endeusava o pai completamente.

   Contente com sua conclusão a respeito do interesse daqueles dois malandros pela mocinha, Jeremias resolveu não acompanhar mais os irmãos. Ia ser perda de tempo demais. Primeiro um, depois o outro, iam se meter em algum quarto com a putinha e sabe-se lá quanto tempo iam levar cada um. Ele é que não ia ficar horas esperando feito besta. Despediu-se dos irmãos e embarafustou-se no bar do posto de gasolina, tão logo chegaram a ele. Foi para os fundos, onde corria um carteado solto, diz que aposta alta, coisa de mais de cinco reais. Taí, Jeremias gostava de um carteado, quem sabe não era hoje o seu dia de sorte? Avisou aos manos que ia ficar por ali no jogo e eles partiram em busca de informações sobre a garota.

   Com certeza Jeremias ficaria decepcionado e, de novo, preocu-pado, se soubesse que na cabeça de seus irmãos não passara jamais a idéia de procurar a menina como mulher da vida.  Ambos tinham a genuína intenção de encontrar a criança e ajudá-la do jeito que fosse possível. Para Osmar, podia ser sua irmã e por isso ele devia ajudar. Para Bastião, mais sentimental ainda, era só uma criança de dez anos, abusada e machucada por um boçal, que já tinha recebido o castigo merecido, mas era só por isso que ele devia ajudá-la. Se fosse sua irmã, tanto melhor. Se não fosse, não era por isso que Bastião ia deixar de lhe estender a mão. Não é porque ele era bandido matador que não tinha dó dos outros.

   Pois se algumas vezes chegava a sentir dó de sua futura vítima!
Mais de uma vez enjeitara encomenda por causa disso, não estava convencido de que o encomendado merecia morrer; De uma certa feita, até tinha devolvido o adiantamento do pagamento. O contratante ficou furioso e desacatou Bastião por causa disso, na frente de um monte de gente. Bastião atirou o dinheiro nas fuças do homem e deu-lhe uns bons tabefes na cara. Depois, por segurança, esperou o desgramado atrás do muro do cemitério e o despachou ali mesmo, com um único disparo no peito. Aproveitou o lugar e jogou o corpo do homem para dentro, por cima do muro, que não era lá muito alto: Vai, coisa ruim, agora tu já pode, tu já é um deles! Depois desse rápido episódio de somenos importância, Bastião nunca mais teve dificuldade com seus cancelamentos de contratos verbais.

   Mas este caso da menina Ritinha era coisa muito séria. Bastião havia pensado muito, durante os dias em que esperavam que a ferida de João Boto cicatrizasse. Ouvira a opinião do pai e, pela primeira vez, apanhou-se discordando do velho. Ficou muito chateado com isso e foi desabafar com mano Osmar. Para sua surpresa, também o irmão mais moço pensava como ele. Osmar era um porreta de um homem inteligente, estudado, sabia até ler um pouco. Pois Osmar disse para Bastião que o pai deles era um homem de certa idade, não que fosse velho, mas era de outro tempo. As coisas agora eram diferentes, os homens tinham que seguir seu próprio tempo.

   Bastião ficou tremendamente impressionado com essa frase. Não se cansava de repeti-la mentalmente. Ele, Bastião, era um homem moderno, devia seguir o seu tempo, era isso. E, pelo que conseguira entender dessa coisa de seguir o seu tempo, isso parecia que era pensar diferente de painho!

   E, desta vez, Bastião pensava diferente mesmo. Sua opinião era uma, a do pai era outra. Não achava certo abandonar uma criança de dez anos na rua e na prostituição, depois de ter passado por tudo o que ela passou. Não importava, para Bastião, que a menina fosse sua irmã ou não. Importava que era uma grande injustiça o que tinha acontecido com ela. Ele pedira e obtivera de Dito Timbó licença para que ele e os irmãos o acompanhassem na missão de correção contra João Boto. Essa missão estava cumprida e encerrada. Mas, para Bastião, o trabalho ainda não estava completo. Uma reparação total à menina não podia envolver apenas a punição a seu estuprador. Afinal, isso fora feito muito mais como cumprimento do ritual de vingança da família ofendida. E, também, porque o homem havia ousado dizer que não temia um homem velho como Dito Timbó.

  Pois painho aceitara vir mais para castigar a ousadia do desinfeliz do que para reparar a honra da família. Era evidente que ele não havia acreditado que Ritinha fosse mesmo sua filha. Assim sendo, que honra havia para lavar?

   E se houvesse? E se Ritinha fosse mesmo uma Timbó, irmã dele e de todos os tantos filhos e filhas de Dito? Então não era mesmo pior a coisa? Não era o caso de a família se unir não só para castrar e matar o descabaçador, mas para ajudar a irmã desgraçada pelo maldito? Por que razão painho – e Jeremias também, outro jegue de teimoso – se recusavam a ajudar e, até mesmo, a conhecer a menina? Jeremias viera com eles a muito custo, mas, ao chegar ao posto de gasolina, não quis mais acompanhá-los e se meteu num jogo de carteado no bar.

    Pois ele e Osmar haviam de localizar Ritinha e falar com ela. Revelar-se-iam seus irmãos e lhe ofereceriam ajuda e proteção.   Os dois irmãos dirigiram-se então aos frentistas do posto, para pedir informação. Fizeram-se de interessados em fazer programa com prostitutas menores de idade. Osmar, espertíssimo, foi logo conversando e brincando com os homens, dizendo que estava a perigo, necessitado de mulher, mas que só gostava de cabritinha bem novinha.

   Os frentistas não se fizeram de rogados.

– Pois olhe, camarada, vocês estão com sorte. Menina menor fazendo a vida aqui é o que mais tem, afinal aqui é ponto de pernoite de caminhoneiros. Há um grupo de umas três ou quatro assim, bem novinhas. Mas tem uma coisa: elas preferem caminhoneiro, não gostam muito de fazer programa com homem daqui, se puderem vão com um forasteiro de passagem. Acho que é porque todas elas têm família aqui, menos uma que veio de fora, foi largada aqui por um caminhoneiro que prometeu mundos e fundos para ela, mas não pretendia cumprir nada, é claro. É sempre assim...

– Pois ocê disse qui nóis tá cum sorte porque tem muita minina nova, di menor, aqui, é isso?

– Não! A sorte de vocês é que agora tem uma quenguinha nova, uma que descabaçaram faz menos de um mês, é carnezinha nova, coisa bonita de se ver. Vocês precisam esperar por ela, ela sempre vem pra cá de noite. Não tarda muito e elas começam a chegar. E aí procuram pelos homens de caminhão. Se vocês querem uma sugestão, façam o seguinte. Tão vendo aquele caminhão azul ali, do Espírito Santo? Pois ele foi deixado aí pelo motorista. Está com problema mecânico mais sério e o homem pegou um ônibus para buscar a peça que falta lá em Juazeiro.  A chave está aqui com a gente. Então vocês entram no caminhão e ficam esperando lá dentro. Quando virem as meninotas chegando, façam o...
CONTINUA