PARA QUEM VOCÊ ESCREVE?
MILTON MACIEL
Comecemos pela cozinha, onde eu, por sinal, sou péssimo. Você vai fazer um arroz com legumes a la carbonara. Vai usar a receita de sua falecida avó, porque ela é a que mais satisfaz o seu paladar.
Horas depois você a está servindo a seus familiares e convidados. Sua sogra incluída. O pessoal se divide. Uns adoram, outros devoram por pura fome, uns comem por cortesia, outros disfarçam dizendo que estão de regime.
Sua sogra não gosta. Ela é a crítica. E ali, na frente de todos, desanca o seu arroz à carbonara, mostrando o que, para ela, são os seus erros óbvios.
Ela é a crítica, já disse. E se você também for, já aviso: esse tal arroz com legumes à carbonara não existe. Eu é que inventei – não a receita, só o nome. Até porque, se depender de mim, todo arroz deveria ser, obrigatoriamente, à carreteiro. Que eu não sei fazer, é óbvio. Na verdade, só sei fazer – e bem feito, como gaúcho da fronteira que sou, ainda que hoje arranchado nesta Europa – um acompanhamentozinho simples para esse arroz: churrasco de costela, picanha e linguiça.
Pois é, para quem você fez o arroz? Para todos, é óbvio. Mas fez qual receita: aquela de que você mais gosta. E gostos são tão diferentes quanto são diferentes as pessoas. Logo, se você fez o arroz para agradar a todos, não podia dar certo mesmo.
Você vai agradar muito algumas pessoas e pouco a outras. Vai desagradar a mais algumas e ainda vai ter que passar pela avaliação do crítico de gastronomia de plantão. No caso, sua sogra.
Agora vamos fazer uma troca. O que você está cozinhando – e dificilmente será na cozinha – é o seu LIVRO. Para quem você o está preparando? Para TODOS? Pois então prepare-se para a mesma recepção que seu arroz à carbonara recebeu. Agrada a uns, desagrada a outros, uns amam, outros odeiam e, ainda por cima, os críticos vão fazer o papel para o qual foram projetados.
Isso nos leva ao fundamental ponto de partida, que tem que ser definido antes que você comece sua obra. Para QUEM você escreve?
A tendência do escritor, ainda mais do inexperiente, é pensar que está escrevendo para todos. Ora, esse todos simplesmente não existe, é impossível! Você terá um tema e um estilo. O tema jamais interessará a todos e seu estilo jamais agradará a todos.
Por causa do seu tema e do seu estilo, você escreve sempre para um NICHO de leitores, um nicho do mercado. Veja o exemplo dos mais bem sucedidos vendedores da atualidade, como Tolkien, Rowling ou Paulo Coelho. Eles têm legiões inteiras de leitores e admiradores, vendem milhões de livros mas... são também detestados por outras legiões inteiras.
Então prepare-se, é assim que a coisa funciona. Joan Rowling, depois de pastar meses a fio na maior dureza, escrevendo sua história do bruxinho Harry Poter em trens e lanchonetes, não conseguiu que nenhum editor aceitasse publicar seu livro.
Até que um deles, que não achou graça nenhuma no que leu, deu o primeiro capítulo para sua filha de 12 anos ler. No outro dia a garota já o tinha devorado e pedia entusiasmada para ler o resto do livro. Estava ali o nicho para o livro, o esperto editor percebeu na hora. Bem, o resto é História...
A primeira pessoa que você tem que agradar é você mesmo. Você tem que ter prazer, entusiasmo, para poder perseverar na criação da sua obra. A seguir, defina o seu nicho e adapte-se a ele. Nunca escreva pensando em seus colegas escritores, em meio acadêmico, em crítica. Escreva pensando no seu público leitor, no seu particular nicho. Nas filhas adolescentes dos editores, se você se chama Joan Rowling ou escreve ficção Jovem Adulto. Entenda: seus colegas escritores, o meio acadêmico e os críticos... não vão comprar seus livros! Se Paulo Coelho tivesse pensado em agradar àqueles ou tivesse temor da crítica desfavorável, jamais teria chegado a um centésimo do que alcançou.
Pois então escolha se você quer ser Marcel Proust ou Paulo Coelho. Ou, muito melhor do que ser eles, ser você mesmo. E mantenha-se firme, persevere. Aí escreva só para você e para o seu público leitor. Os outros que se danem, mande-os para aquele lugar, não são eles que vão pagar as suas contas. Mas seus leitores vão!
São eles e só eles os seus legítimos patrões. E, como diz o ditado argentino que adoro repetir, “el que paga que lo mande”. Dê bastante atenção a essa gente boa – para você muito boa! – que vive por aí, espalhada por todo este vasto mundo, e se pergunte: Caramba, quem se dispõe a gastar do seu dinheiro para comprar o que eu publico?
Pois é nesta gente boa que você tem que se centrar. Conheça a fundo como são essas pessoas, do que elas gostam, por que compram os livros que você escreve. Conheça-as pessoalmente, fale com elas nas feiras de livros, nos eventos, nos lançamentos, nas suas palestras; e, nacional e internacionalmente, com enorme facilidade, pela Internet.
Cultive o seu público e procure se preparar cada vez mais para prestar a essas pessoas um serviço cada vez melhor, levando-lhes entretenimento, emoção, informação e educando-as enquanto leitoras, sem querer se fazer grande às custas dos seus leitores, arrotando erudição desnecessariamente para cima deles. E, ao mesmo tempo, sem nivelar por baixo.
Se você quer ser um escritor que vende livros,
pense nisto em primeiro lugar: PARA QUEM VOCÊ ESCREVE?
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