VOCÊ ESCREVE MAL? E DAÍ? Isso não é
desculpa para não ser um bom escritor
MILTON MACIEL
Você escreve mal? Ótimo! Ao menos você
escreve! Escrever mal é o ponto de partida para escrever bem. Aliás, falando
nisso, lembra daquela sua letrinha miserável, dos seus garranchos ilegíveis no
primeiro ano de escola? Melhorou demais depois, não foi? NÃO?! Piorou?!... Bem,
ao menos um elogio você merece: você é uma pessoa sincera!
Você acha ou
sabe que escreve mal. Por isso desistiu de tentar ser escritor. Pois olhe, vou
lhe dizer, você foi frouxo e desistiu... antes do tempo. Deveria ter perseverado.
Se você escreve mal, isso é ótimo, é sinal que está no bom caminho. Está mil
furos acima de quem não escreve nada.
Este, sim, nunca vai escrever direito. Você, só porque escreve mal, não tem
desculpa para não se tornar um bom escritor. Isso você aprende, não nasce
sabendo. Como tudo na vida.
Mas o que
fazer então? – você pode perguntar – Tomar aulas de gramática?
Não, é muito
mais fácil. Fácil e divertido.
LEIA
um livro por semana
Escreva
diariamente para se exercitar
Estude
técnica de escrita
Em pouco
tempo você aumenta extraordinariamente seu vocabulário, sua compreensão, seu nível
de conhecimentos e assimila diferentes estilos de escrita, de diferentes
escritores.
É só isso
que você precisa fazer para evoluir de um mau para um bom escritor. Ler todos os dias. E escrever
todos os dias. E estudar quase todos os dias. É
como o jogador de futebol, que tem que treinar todos os dias (o que equivale ao
seu escrever) e assistir jogos ou vídeos de jogos todos os dias (o seu ler, seu
estudar).
ESCREVER TODOS OS DIAS? E A INSEGURANÇA?
Como o
jogador de futebol com seus treinos diários, se eu quero tocar piano direito,
tenho que estudar e ensaiar todos os dias. Um candidato a escritor tem que
fazer exatamente a mesma coisa: escrever todos os dias.
E sem essa
que é preciso esperar pela inspiração. Como disse um grande escritor americano:
“Só escrevo quando estou inspirado. Por isso tenho que estar inspirado todos os
dias à mesma hora, às 9 da manhã”.
É isso. A
“falta de inspiração” e o famoso ”bloqueio do escritor” são apenas MEDO. Medo
de não conseguir produzir uma coisa que OS OUTROS aprovem. Trocando em
miúdos, é MEDO DOS OUTROS. Ora, os outros que se danem! Como gosto de dizer,
eles não pagam as minhas contas. Por que eu vou ter medo deles e lhes dar tal
poder sobre minha vida?
Quer ver uma
prova clara do que estou afirmando aqui, sobre medos dos outros e necessidade
de aprovação? Vá para o Facebook. Ali as pessoas postam coisas que elas
escrevem resumidamente, postam coisa que os outros escrevem, postam fotografias
e, principalmente, repostam material de terceiros. E ficam esperando. Esperando.
E esperando...
Esperando o
que, mesmo? O CURTIR de outras pessoas. Melhor ainda, o comentário concordante
ou elogioso, o repostar da postagem ou repostagem delas. O que é isso que fez,
faz e aumenta diariamente a fortuna pessoal (64 bilhões de dólares) de Mark
Zuckerberg, o dono do Facebook?
É a insegurança e a necessidade de
aprovação e elogio dos seres humanos normais. E a vaidade e até mesmo o
narcisismo, em muitos casos. Isso é muito natural. Acontece conosco desde que
aprendemos a fazer gracinhas, quando criancinhas, para agradar os adultos.
– Olha só,
doutora, ela já sabe dizer mã-mã. Não é
uma gracinha?
– Mas, minha
senhora, isso é só um gugu-dadá!
– Sim, mas
que gugu-dadá mais bonitinho! Ela quer dizer mamãe, eu sei. Não é uma gracinha?
Ou vem o pai
orgulhoso:
– Baixa a
fralda, filhão! Ele só tem quatro anos, mais um ano e já vai deixar as fraldas.
Baixa aí, filhão, mostra pro vizinho o seu saco roxo. Isso aí é dos meus, puxou
o pai, vai ser macho pra cacete!
Não admira
que, anos depois, o marmanjo esteja postando frases machistas ou xingando pelo
Facebook, para mostrar que tem aquilo roxo e poder receber um elogiozinho a
mais da tribo dos seus iguais. Um like,
um curtir, um comentário. Pelamordedeus!
A coisa
continua infância afora. Aprendemos a mostrar o que rende aprovação e elogio. E
a esconder muito bem o que resulta em desaprovação, rejeição ou castigo. O que
contribui para criar o que Jung denominou nossa “Sombra”. Quanto maior nosso
grau de insegurança, quanto maior o nosso grau de vaidade ou narcisismo, mais
vamos precisar da aprovação dos outros. Dos curtir e dos comentários elogiosos.
Não é uma gracinha?
É
absolutamente normal, portanto, querer mostrar o que a gente acha que faz bem
feito e o que acha bonito. Assim como mostrar nossa opinião, a favor ou contra
seja o que for. Estamos em busca de apreciação e reconhecimento, em busca de
uma vitrine onde podemos nos expor e isso é apenas natural. Vale obviamente
para quem escreve.
Então,
quando chega a hora de escrever e expor o escrito à apreciação dos outros (Aprovação,
elogio, pelamordedeus!), os medos e
os bloqueios se fazem sentir com facilidade. Por que agora você não está seguro
de si mesmo, tem medo da rejeição, da crítica, do puxão de orelhas público que
o desmontaria psicologicamente. Isso provoca os bloqueios e aborta no
nascedouro a carreira de muito bom escritor em potencial.
Portanto,
meu amigo, não desista. Você escreve mal? Ótimo! Ao menos você escreve! Escrever
mal é o ponto de partida para escrever bem. Como já disse, isso se aprende. E é
mais fácil do que você pode supor. Já indiquei o caminho. Mas, primeiro, você
precisa se descondicionar do medo atávico, que não só fica atravessado no meio
do caminho do seu aprendizado como escritor, mas pode provocar grandes períodos
de intenso bloqueio, quando você tenta escrever de novo.
E isso
inclui não dar bola para o que dizem alguns dos seus desincentivadores maiores:
1 – Os que afirmam
que ninguém pode ensinar alguém a escrever bem. Que escritor tem um dom
especial para a escrita, que já nasce feito. Uma espécie de geração espontânea,
como os bebês, que, sabemos todos nós hoje em dia, não são trazidos por cegonhas,
mas nascem debaixo dos pés de repolho. Bobagem. De todos os grandes músicos da
história, poucos foram os Mozarts que podiam tocar e até compor aos 5 anos de
idade. Mas, mesmo no caso excepcional de Mozart, houve o estímulo constante e a
cobrança inclemente de seu pai.
Dondinho fez
a mesma coisa com seu filho, no qual o pai, como futebolista profissional que havia
sido, soube reconhecer um traço de talento incomum. O filho conta, em suas
memórias, que chegava a chorar de raiva do pai e de dor no pé, de tanto que era
obrigado, todo santo dia, a ficar em casa batendo bola contra a parede, só com
o pé esquerdo, até que foi enfim capaz de jogar tão bem com esse pé quanto com
o direito. Moleque ainda, 16 anos, foi levado pelo pai para um time de futebol.
Ali impressionou pela sua incrível capacidade. Tinha o apelido de Gasolina e
virou uma espécie de moleque de recado para os jogadores adultos. Mas começou a
treinar junto com estes e uma coisa logo chamou a atenção de todos: ele
treinava mais do que qualquer um dos
doutros. Luzes do campo desligadas, ele ainda ensaiava cobranças de faltas sob
a escassa luz do luar e da rua distante. Ele educou o seu talento, maximizando-o. Pouco depois o mundo
maravilhou-se, quando ele surgiu com o nome de Pelé.
2 – Os que
dizem outra bobagem: que aprender a escrever se aprende só escrevendo. Você coloca uma folha ou tela em branco à sua frente,
espera a inspiração e sai escrevendo. Não vá atrás disso, você vai acabar se
decepcionando e desistindo sem necessidade. Você aprende a escrever da mesma
forma que aprendeu a ler e a escrever na escolinha. Alguém ensinou a você. Mas só conseguiu fazê-lo porque você quis aprender. Agora é a mesma coisa. É preciso
que você queira aprender. E aí você procura quem pode ensinar a você. E quem
pode?
Em primeiro
lugar, os outros escritores. E, para aprender com eles, você só precisa LER.
Mas ler muito, como quem quer mesmo aprender a escrever direito, escrever como
eles escrevem. É fácil, seu consciente e seu inconsciente trabalham juntos,
você aprende e também assimila por osmose. Além de fácil, é divertido. E,
claro, instrutivo. Você cresce muito mentalmente.
Em segundo
lugar, os livros e cursos que ensinam as técnicas que os escritores usam. Aí você
precisa tomar cuidado, porque vão aparecer de novo as cassandras desestimuladoras,
afirmando agora que você não pode aprender a escrever com livros e instrutores
de escrita. É mais ou menos como se elas lhe garantissem que, para aprender a
fazer cirurgia cardíaca, o único modo é pegar um bisturi e sair cortando peitos
por aí, até aprender sozinho. Sem precisar de anos de faculdade cortando
cachorro e cadáver, nem anos de residência, sob a supervisão de cirurgiões
cardíacos muito experientes.
Esqueça os
outros! Eles não pagam suas contas, você não precisa da aprovação deles.
Escreva para você, escreva para treinar e aprender, não precisa sair mostrando
tudo o que escreve para mendigar aprovação. Com o tempo você vai dominar a arte
e a técnica, basta perseverar e trabalhar para isso. E um dia você, homem ou
mulher, vai poder mostrar – por escrito – para esse pessoalzinho cacete que
você tem aquilo roxo! Simbolicamente, é claro.
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