O OVO DO CUCO. Ou: O político brasileiro corrupto
MILTON MACIEL
O cuco é um diabo de um passarinho malandro. É evidente que alguns dos seus genes acabaram passando, sabe-se lá como, para os seres humanos primitivos e chegaram aos de hoje, estando inequivocamente presentes no DNA dos políticos brasileiros corruptos (Nunca devemos deixar de mencionar que existem 4,0333333...% de políticos honestos)
Mas o cuco não faz ninho próprio, sobrevive como espécie às custas do ninho, dos filhotes e do trabalho de outros passarinhos, que explora como parasita (Não lembra mesmo aqueles caras que eu mencionei?)
Pois a malandra da cuca é especializadíssima. Diferentes variedades da espécie botam ovos das mais diversas cores e tamanhos, cada uma delas uma réplica perfeita do ovo de outra passarinha. Mas bota os ovos no ninho da coitada da outra. Espera que ela saia, joga fora um dos ovos da parasitada e deixa no lugar um ovo de cuco, que a outra choca junto com os seus, sem perceber o logro.
O ovo de cuco eclode antes dos outros. E o cuquinho, mau-caráter pela própria natureza (mas me diga se não é igualzinho àqueles tais!), joga os ovos da hospedeira para fora do ninho e fica só ele recebendo a comidinha da mamãe adotiva, tipo político que se alimenta de merenda escolar. Ou de verbas de empreiteira, o que dá na mesma, porque as minhocas que ele come e os ovos dos filhotes que ele joga fora para morrer são NOSSOS, vêm dos nossos impostos.
O único no ninho, um só a comer, o cuco cresce enormemente e em 21 dias já deixa o ninho e se manda por aí. Os cientistas acreditam, no entanto, que ele pode se aposentar com apenas oito dias de mandato, quer dizer, de ninho, se quiser.
Na foto (da Super Interessante), diferentes ovos de cuco. A enorme variedade de cores e tamanhos mostra que os cucos malandros são de TODOS os partidos políticos na Cucolândia Tupiniquim.
domingo, 30 de abril de 2017
sábado, 29 de abril de 2017
AUDIÊNCIA PUBLICA DA COMISSÃO DE SEGURANÇA
da
Câmara de Vereadores de Joinville
MILTON MACIEL
Em 12 de
abril foi realizada uma Audiência Pública pela Comissão de Segurança da Câmara
de Vereadores, que tem à frente o vereador Richard Harrison, do PMDB. Ele é
policial Militar há 28 anos e foi diretor da Penitenciária Industrial de
Joinville durante 9 anos, de 2007 a 2016, sendo, portanto, um político novo e
um especialista em segurança antigo, com enorme experiência no sistema
prisional. Para mim essa condição de insider
do vereador insuflou um novo ânimo. Recordo-me de uma sessão similar,
realizada 4 anos antes, em maio de 2013, por iniciativa do vereador Claudio
Aragão, com a presença de autoridades e das polícias militar e civil. Nela era
apontado um déficit de pelo menos 150 policiais só na região Sul da cidade! Uma das queixas dizia que Joinville
inteira tinha só 41 câmeras da PM, enquanto que Florianópolis tinha 284. O
documento final elaborado seria entregue dali a dias ao Secretário Estadual de
Segurança, César Grubba, pedindo soluções rápidas para Joinville. Elas vieram?
Não!
Pelo que se
viu e ouviu na Audiência Pública deste abril, a coisa de fato mudou. Para PIOR!
A queixa generalizada foi contra o abandono que a segurança de Joinville recebe
por parte do governo estadual, cuja Secretaria de Segurança não mandou nenhum
representante ao evento. O próprio vereador Harrison já havia declarado, em
janeiro, que quando ingressou na PM, em 1988, Joinville tinha 380 mil
habitantes, 1170 policiais, apenas 90 presos e 104 vagas no sistema prisional.
E, em janeiro de 2017, tendo quase 570 mil habitantes, contava com apenas 700
policiais, civis e militares, e uma população carcerária que explodiu para 1300
presos, com os presídios superlotados que conhecemos hoje. Se isso não é
abandono, então o que é, uma vez que a responsabilidade pelos investimentos em
segurança pública é do governo estadual?
Nossa população
cresceu 50% e o contingente policial
decresceu
40%. Isso é um acinte, um
desrespeito total com a população que mais produz riquezas para Santa Catarina!
Não admira,
portanto, que Joinville tenha hoje um homicídio a cada dois dias, um escore
muito mais alto que o da muito mais bem policiada Florianópolis. A capital tem
467 km2 de área. Em Joinville, 400 km 2 é a área só do
distrito de Pirabeiraba! Sai dessa Pirabeiraba 25% - uma quarta parte! – de
toda a riqueza produzida no município. E, no entanto, Pirabeiraba precisa
mendigar câmaras de monitoramento de segurança da PM ao Estado. E não é
atendida!
A Audiência
Pública de 12 de abril serviu para deixar muito clara a situação calamitosa de
abandono da segurança de Joinville e que nós, os joinvilenses, só poderemos
contar é conosco mesmos, que precisamos nos posicionar contra essa situação e
contra quem a causou, quem deixa nossos policiais militares e civis nas
condições aflitivas em que eles se debatem na luta brutal contra o crime
organizado.
2018 está às
portas e com ele aportarão aqui em nossa cidade, outra vez, levas e mais levas
de políticos que foram responsáveis por essa traição, pedindo votos. Somos o
maior colégio eleitoral do Estado. Precisamos usar nossa força de união em
busca de soluções para a Segurança, sem poder contar com os recursos de quem é
obrigado a provê-los à maior cidade de Santa Catarina. Temos que usar menos
ingenuamente nosso título eleitoral para virar esse jogo. Hora de dar um basta
em tudo isso! Ou o certo seria escrever dar
o troco?
sexta-feira, 28 de abril de 2017
DAS DELÍCIAS DE ESCREVER ROMANCE HISTÓRICO
(ou: O OVO DO CUCO)
MILTON MACIEL
O cuco é um
diabo de um passarinho esperto. Não faz ninho próprio nem cuida das crias. Bota
os ovos, devidamente camuflados, no ninho de outra espécie de pássaro, que vai
chocá-lo e alimentar o filhote de cuco. Que sai do ovo antes dos filhotes
legítimos e joga os ovos de onde estes nasceriam para afora do ninho,
matando-os. Os pais adotivos o alimentam e ele cresce sozinho, fica enorme em
21 dias e se manda, para viver sua vida.
Pois é, eu
me sinto meio cuco quando escrevo romances históricos, coisa que adoro fazer. Primeiro
vou para o ninho do pássaro historiador. E é ali que coloco meus ovos de cuco,
de ficção. Explico melhor.
O
historiador está completamente preso à realidade objetiva dos fatos históricos.
Ele conta o que de fato aconteceu. Ou, ao menos, o que a sua pesquisa o leva a
concluir, honestamente, que aconteceu. Não pode tomar licença alguma.
Já o
romancista histórico chega ao ninho onde o historiador botou seus ovos cinza-chumbo
da realidade e começa a entremeá-los com os seus próprios ovos multicoloridos
da imaginação e da emoção. É meio-cuco. Se for cuco completo, joga fora do
ninho todos os ovos do historiador e os substitui inteiramente por ovos
imaginários. Eu prefiro ser meio-cuco. Deixo os ovos fundamentais da história,
sem mudar sua posição. Atenho-me a personagens, datas e eventos reais. E, em
cima e ao lado deles, coloco os meus.
O historiador
escreve em seu livro o que aconteceu. Eu escrevo no meu, sobre o mesmo
acontecimento, o que o personagem SENTIU, imaginou, sonhou, sofreu, riu, se
emocionou, planejou. Dou-lhe VIDA, transformo-o em um ser real de carne e osso,
ele que até então era só um ente histórico, formado de antecedentes,
consequentes, datas e números. Uma múmia. O engraçado, o divertido é que, para tornar
meu personagem real, de carne e osso, bem como o leitor aprecia, eu fantasio e
uso a imaginação. O personagem real histórico se torna o personagem real
humano, na base da fantasia. Não é um paradoxo?
E aí vem o
melhor da festa: a gente INVENTA personagens que não existiram e os coloca em
ação com os personagens reais. É o máximo para o autor. Quem não lembra o bom
Alexandre Dumas? É claro que precisa
haver coerência, muita pesquisa histórica, conhecimento total do que se sabe
sobre os personagens e os acontecimentos reais, sua época, seus costumes, suas
roupas, cabelos, adereços, maquiagens, sua religião, sua alimentação, suas
tecnologias, suas necessidades e seus medos. Os personagens fictícios precisam
encaixar-se dentro desse ambiente, desses cenários e desse modelo
comportamental.
Mas, feito
esse encaixe, a gente tem uma enorme liberdade para criar. Se o historiador
descobriu que o rei deitou com a esposa do marquês, ele faz o registro
secamente. Já eu entro na alcova real e ... sai de baixo! Ou de cima, conforme
o gosto dos personagens. Só o bom senso e, necessariamente, o bom gosto, ditam
os limites do que eu posso contar, como testemunha ocular do doce embate que sou.
Em O CERCO,
que se passa na Gália romana em 451 DC, o fato central é a batalha dos Campos
Catalaúnicos, travada entre gauleses, romanos, visigodos, alanos, burgúndios e
francos, coligados, contra os hunos e seus aliados, gépides, ostrogodos e
alamanos. São reais o Imperador Valentiniano III, o general Flávio Aécio, e os
reis de todos esses povos combatentes, a começar por Átila, rei dos hunos. É
real o resultado final da batalha. Mas o resto...
Curti demais
inventando três sacerdotisas celtas e um eunuco ostrogodo, quatro personagens
femininas que são as grandes protagonistas desse entrevero do mundo dos machos
guerreiros. São elas que salvam os francos e vencem a guerra. O rei dos francos
se apaixona desesperadamente pela sacerdotisa mais jovem. Ele é real. E
acontece que a moça também é! Virou rainha dos francos de verdade, Vérica,
esposa do rei Meroveu. Só não era sacerdotisa. Eu a fiz ser. E ela, que era
para ser apenas a quinta protagonista da história, tornou-se a principal, eclipsando
todos os outros personagens masculinos e femininos, mais uma vez confirmando
Jorge Amado, que sempre afirmou que é o personagem, não o autor, quem escreve o
romance, como conto no livro “ ARTE E A TÉCNICA DO ROMANCE”. Pura verdade!
É dessa menina
de 17 anos, sacerdotisa e guerreira, uma excepcional arqueira, que vai surgir
depois, no futuro próximo, como neto seu, Clóvis, o rei dos francos Salianos (atual
Bélgica), que vai unificar pela força todas as cinco tribos dos francos e dar
origem REAL à nação moderna que se chama FRANÇA. Realidade e fantasia, em
íntima mistura, são o cerne do romance histórico. Simples assim.
Mais uma vez
o meu preito de gratidão aos historiadores que pesquisaram exaustivamente os
fatos e que, desse rei e dessa rainha, conseguiram pouco mais do que comprovar sua
existência real histórica, deixando-me livre para reinventá-los da maneira que
mais entusiasma os meus leitores. Graças ao rigor dos historiadores, encontrei um
ninho onde colocar meus ovos de cuco. Adorei. E aí não parei mais.
Repeti a
dose mais uma vez, ainda na Gália, só que em 368 A.D., com “ALINE DE TROYES,
uma guerreira gaulesa”. Depois, no Brasil colônia, 1513 a 1592, com “JOÃO RAMALHO
NO PARAÍSO” e “JOÃO RAMALHO FUNDADOR”. E agora, no mês de Abril ainda em curso,
conclui mais um romance histórico.
Por uma
dessas estranhíssimas “coincidências” (que não existem, Jung as chama de
sincronicidades), escrevei, sob encomenda, como ghost writer, um romance que se passa na Bélgica Valônia (justo
aquele reino de Meroveu e de Clóvis!), na Alemanha, na França e no Brasil. Um romance
histórico da Segunda Guerra Mundial. Uma encomenda dos filhos brasileiros de um
casal de heróis da Resistência Belga. Que gostaram tanto do resultado que me
pediram para aparecer como coautor, uma absoluta realidade neste nosso mundo ultra
discreto de ghost writers, onde escrevemos
as histórias e desaparecemos para sempre, como bons fantasminhas, na hora da
publicação. O livro recebeu o nome de “A GUERRA DE JACQUES”.
Sou atraído
abismalmente para a França. Minha avó era descendente de um marechal de
Napoleão que morreu antes de Waterloo e eu aprendi o francês ainda na infância.
As sequelas de O Cerco se passam, uma na Bretanha francesa e outra na...
Bélgica, no tempo de Clóvis. E os dois livros de João Ramalho fazem parte de
uma quadrilogia, uma série cujo nome é... “De França e Brasil”, com “Villegaignon
no Inferno” e “Monsieur Le Prince Essomericq”
Creio que tenho
o inconsciente de um CUCO... francês.
81% DOS NORTE-AMERICANOS QUEREM ESCREVER UM LIVRO
MILTON MACIEL
Mas menos de 1% vai conseguir efetivamente escrever e publicar ao menos um livro na vida. É o que mostra uma pesquisa divulgada pelo New York Times. A causa?
É que as pessoas acreditam que é DIFÍCIL DEMAIS escrever um livro. E, por isso, muitas das que teriam condições de aprender e desenvolver sua capacidade de comunicação através da não-ficção ou da ficção NEM TENTAM.
Elas não percebem que, nesse mercado, o escritor de sucesso é chamado de best SELLER, não de best WRITER.
Os maiores vendedores mundiais na atualidade são J. R. R. Tolkien, Joan Rowling, Dan Brown, Paulo Coelho e Stephen King. Todos eles escritores de ficção de gênero, nenhum deles escreveu ficção literária. Nenhum deles é um best writer - melhor escritor. Mas todos são best sellers.
Você não precisa escrever ficção como Marcel Proust ou Jorge Amado. Fora a ficção literária, há 63 gêneros e subgêneros diferentes que podem ser o seu caminho natural de ingresso na literatura de ficção. Isso sem mencionar que é muito mais fácil ainda começar com a não-ficção. Então não tenha medo: ESCREVA! Tudo o que você precisa para chegar lá é LER MUITO! E isso você pode fazer.
Foto: TOLKIEN
MILTON MACIEL
Mas menos de 1% vai conseguir efetivamente escrever e publicar ao menos um livro na vida. É o que mostra uma pesquisa divulgada pelo New York Times. A causa?
É que as pessoas acreditam que é DIFÍCIL DEMAIS escrever um livro. E, por isso, muitas das que teriam condições de aprender e desenvolver sua capacidade de comunicação através da não-ficção ou da ficção NEM TENTAM.
Elas não percebem que, nesse mercado, o escritor de sucesso é chamado de best SELLER, não de best WRITER.
Os maiores vendedores mundiais na atualidade são J. R. R. Tolkien, Joan Rowling, Dan Brown, Paulo Coelho e Stephen King. Todos eles escritores de ficção de gênero, nenhum deles escreveu ficção literária. Nenhum deles é um best writer - melhor escritor. Mas todos são best sellers.
Você não precisa escrever ficção como Marcel Proust ou Jorge Amado. Fora a ficção literária, há 63 gêneros e subgêneros diferentes que podem ser o seu caminho natural de ingresso na literatura de ficção. Isso sem mencionar que é muito mais fácil ainda começar com a não-ficção. Então não tenha medo: ESCREVA! Tudo o que você precisa para chegar lá é LER MUITO! E isso você pode fazer.
Foto: TOLKIEN
sábado, 22 de abril de 2017
MILTON MACIEL
Ah, se eu não te amasse assim tão loucamente,
Se eu existisse por mim próprio, inda que pouco!
E se eu pudesse ser de ti independente,
Se não agisse o tempo inteiro como um louco!
Ah, se eu tivesse outra ideia em minha mente,
Que não aquela de ser só um escravo teu...
Pudesse eu... viver como antigamente,
Sem a loucura que meu juízo acometeu!
Em vão eu busco afastar-me do teu lado,
Mas o teu visgo me aprisiona inteiramente
E inteiramente eu me vejo apaixonado.
Tento fugir, mas por mais que eu me debata,
Mais me aproximo de ti, como um demente,
E dessa tua indiferença que me mata!
segunda-feira, 17 de abril de 2017
O OVO OU A GALINHA? O CORRUPTO OU O CORRUPTOR?
MILTON MACIEL
Quem veio
antes: o ovo ou a galinha? No fim eu vou lhe dar uma dica para buscar a resposta
sobre esse que foi, certamente, o primeiro cisma da humanidade. Mas agora a
pergunta é outra:
QUEM É MAIS
BANDIDO: O CORRUPTO OU O CORRUPTOR?
Parece incrível,
mas ainda há muita gente que se confunde com isso. Contudo, a resposta certa é
muito fácil. Basta que eu lhe faça uma outra pergunta:
E se o homem
sondado pelo corruptor for incorruptível? Pronto, está aí!
Se o homem for
HONESTO, não há nada que o corruptor possa fazer. Sem corrupto não pode haver
corruptor. Ele que enfie o seu dinheiro no ra...so armário.
Então é
assim que a coisa viceja, desde que o homem é homem: só pode ser comprado quem
está à venda. O corrupto está à venda e acredita que todo homem tem um preço.
Tudo o que o corruptor precisa fazer é chegar nesse preço. A rigor,
tecnicamente, O CORRUPTOR NÃO EXISTE. Porque não é ele que corrompe o corrupto.
Este JÁ É CORRUPTO PELA PRÓPRIA NATUREZA e só estava deitado em berço
esplêndido à espera da oportunidade de exercer sua inerente desonestidade. Se o
corruptor não fosse A, seria B ou C. Porque a maçã já estava podre!
Então você tem
que responder uma pergunta mais prática agora:
QUEM É PIOR:
CUNHA OU ODEBRECHT?
Você vê como
não adianta pensar que sem Odebrecht não existiria Cunha? Pois se o Cunha vem
se vendendo aos mais diversos “corruptores”, desde os seus tempos de funcionário
miúdo do Estado do Rio de Janeiro! Muito antes de algum Odebrecht entrar em sua
vida. Agora pense o contrário: E se Eduardo Cunha fosse um homem honesto e
incorruptível. Aí os Odebrecht bandidos da vida iam ter que enviar o seu dinheiro
sujo no cu...me do monte de sua fortuna.
Portanto, o
corrupto é o maior bandido. É ele que permite que exista o corruptor. Geralmente
é o mais pé-de-chinelo, também. Porque o outro, o corruptor, apenas o reflexo
no espelho da desonestidade interna do corrupto, tem que ter muito dinheiro
para comprá-lo. E aí a figura total é sempre a mesma, no mundo inteiro, quer se
use nomes como Enron, Alstom, Siemens, Odebrecht ou OAS.
Não há como não dar um outro crédito ao corruptor, que o corrupto não tem. O corruptor executa obras com competência técnica de primeira linha e gera milhares de empregos. É o seu lado positivo. O lado negativo é que ele paga o corrupto com o NOSSO dinheiro, através do superfaturamento.
Não há como não dar um outro crédito ao corruptor, que o corrupto não tem. O corruptor executa obras com competência técnica de primeira linha e gera milhares de empregos. É o seu lado positivo. O lado negativo é que ele paga o corrupto com o NOSSO dinheiro, através do superfaturamento.
Agora chegou
o turno da Odebrecht. Já não era sem tempo.
Embora o
corrupto seja pior, o corruptor é tão podre quanto o que “parece” que é corrompido,
mas que já vem podre dentro da embalagem. Porque é o corruptor que permite que a
desonestidade inerente do corrupto seja usada CONTRA A SOCIEDADE em que os dois
vivem e da qual os dois se tornam predadores. São igualmente ervas daninhas,
parasitas que precisam ser extirpados juntos.
E, no dia
milagroso em que isso pudesse acontecer, lá em Utopia, bastaria que a gente
arrancasse só um tipo de erva daninha logo que ela surgisse: o corrupto.
E, para terminar,
eu lhe faço mais uma pergunta:
QUEM É PIOR:
O CARRANCUDO FILHO OU O SORRIDENTE PAI? O QUE ESTÁ DENTRO OU O QUE ESTÁ FORA DA
GAIOLA? MARCELO OU EMÍLIO ODEBRECHT?
E a resposta
vem de uma pergunta derradeira: QUEM APRENDEU COM QUEM?
Ah, eu
prometi lá no começo: O ovo ou a galinha? Bem, busque a solução para isto em
domingo, 16 de abril de 2017
TERMINEI !
MILTON MACIEL
Está
escrito o meu 10o romance, “A GUERRA DE JACQUES”. Acabei esta noite,
às 3 da manhã, depois de escrever as últimas 64 páginas em dois dias, ritmo de
batucada, 440 páginas totais. Três dias inteiros sem tocar piano, teclado só de computador!
Começou para
ser mais um dos livros que escrevo como “ghost
writer”, escritor fantasma, onde meu nome não aparece como autor. Mas os
clientes, lá pela metade do trabalho, me pediram para que eu figurasse como
co-autor.
Foi
memorável. Estudei e pesquisei como um louco, li 12 livros em um mês, deixei o Dr.
Google enfarado de tanto me ver: a história se passava nos últimos anos da 2ª
Guerra Mundial e eu ignorava muitos dos seus horrores! Estudei mais de 50 mapas, assisti dezenas de filmes e vídeos.
Então comecei a escrever. Saltei de
trens que, atravessando Bélgica e Holanda, levavam prisioneiros belgas e
franceses para o trabalho escravo na Alemanha. Bombardeei cidades inglesas e
alemãs, destruí incontáveis Stukas, Spitfires, Messerschmitts e fortalezas
voadores B-29 em tremendas batalhas aéreas. Esmaguei Londres, Bruxelas e
Antuérpia com bombas voadoras V1 e V2. Destruí altos fornos, aciarias,
estradas, pontes, ferrovias, represas, botei abaixo hospitais lotados, escolas,
edifícios, casas humildes, dizimei exércitos e populações civis inocentes aos
milhares e milhares. Sem piedade. Porque EU era a Guerra!
Mas, no
fim, fui derrotado, porque a trama é uma história de AMOR. Do amor entre um
rapaz e uma moça da Bélgica que, unidos, vencem dez vezes a morte e mil vezes a
desesperança; em Bruxelas, em Essen, Alemanha, em Paris, França, a bordo de um
navio mercante no Atlântico e na nova pátria que os acolheu amorosamente, por
onde entraram pelo Rio de Janeiro para irem viver todo o resto de suas longas vidas na
São Paulo da garoa. A história é baseada em pessoas e fatos da vida real! Ela
me foi encomendada pelos filhos brasileiros, hoje sexagenários, desse casal de
heróis da Resistência Belga.
Agora vou
para aquele período de umbral, em que sinto uma falta brutal de Jacques e de
Loulou, de Phillipe Delmas e Émile Heide, de Lucien, Mireille, Jean Pierre
Tissot, do Coronel Parucker da Wermacht, do cabo Dieter Maluco da SS, de
Copacabana, do Zé Carioca, do cônsul belga em São Paulo, Lars Verlinde, que
ensina a Jacques porque se deve amar o Brasil. Vivi meses com eles todos os
dias, tornaram-se parte de mim. Ou eu, deles. Vou ficar muitos dias sem poder criar
personagens novos, porque estou ainda em íntima comunhão com os de Jacques
Rosen.
É um período
muito estranho esse. Assisti à gravação de uma entrevista de Clarice Lispector,
aos seus 56 anos (faleceria um ano depois), em que ela dizia que estava MORTA,
que só voltava a viver quando começava a escrever de novo. Sei muito bem o que
ela quis dizer. Uma parte de nós morre junto com o fim da nossa história.
Mas,
felizmente, renasce depois, quando novos personagens começam a nascer ainda
hesitantes dos nossos dedos aflitos nos teclados, para encenarem novas histórias
que nos levarão novamente a viver, florescer e morrer, ad infinitum, até o fim da nossa finitude.
Joinville,
16/4/17 MM
quinta-feira, 13 de abril de 2017
SOU AMADO?
MILTON MACIEL
MILTON MACIEL
Para que saber se amado sou ou não,
Se o que conta é somente o amor que sinto,
Que me guia como um fio num labirinto,
Que extrapola a própria lógica e a razão?
É um amor imune ao tempo que se arrasta,
É um amor que vence o não e a vida exorta.
Sou amado? Sim. Talvez. Ou não! Que importa?
Que importa? Se eu amo e isso é tudo que me basta!
quinta-feira, 6 de abril de 2017
MILTON MACIEL
Em azul, pétalas, seus olhos reproduzem.
O cinza-chumbo de Saturno marca o tempo.
E no correr das horas trânsfugas contemplo
Esta rotina a corroer-me qual ferrugem.
Esvaem-se-me em suor longas horas massacrantes,
Neste trabalho que me mata pouco a pouco,
Porque nele, o tempo todo, como um louco,
Só em você penso. E em seus olhos fascinantes.
segunda-feira, 3 de abril de 2017
A PEQUENA PROSTITUTA
MILTON MACIEL
Av. Robert Kennedy, a beira-mar da praia de Ponta Verde, Maceió – 1999. O último dos meus quatro anos em Alagoas, onde assumi uma Secretaria de Agricultura. Paro meu carro no sinal. Uma mãozinha pequena bate no vidro, do meu lado.
Dou esmolas por princípio, sempre tenho notas no carro para isso (Desde 2009 faço isso em Miami também, onde – sinal dos novos tempos – não é mais incomum encontrar pedintes nos sinais: os homeless, os desempregados e os veteranos de guerra, estes geralmente com sérios problemas mentais).
É uma menina pequena, franzina, olhinhos tristes. Ela bate no vidro e me faz um sinal que decodifico como sendo para eu parar: a mãozinha aberta, mostrando todos os dedos estendidos. Baixo o vidro, dou-lhe uma nota de 2 reais. Ela faz sinal com a cabeça que não. Então escuto a frase que vai mudar minha vida para sempre:
– Tio, me queira. Por favor! Tô com fome... Eu cobro só CINCO.
É quando a brutalidade da compreensão me entra mente adentro: a mãozinha espalmada mostrava o preço do programa: cinco reais! Cinco reais para vender seu corpinho que, vim a saber pouco depois, tinha só DEZ anos de vida!
Fecho-lhe então a pequena mão, agora com uma nota de dez dentro, e lhe digo, disfarçando o nó na garganta:
– Se você está com fome, vá comer. E levanto o vidro, restaurando o ar condicionado, para que ela entenda que não quero o programa.
O sinal abre enfim e eu a observo pelos dois retrovisores. Ela corre, pula, grita algo para o rapaz que atendia na barraca de praia ao lado do sinal. Meu espírito de escritor me faz parar bruscamente. Desço, falo com o guarda ali perto, peço-lhe cinco minutos de carro mal estacionado, é uma emergência. Ele concede. Me manda levantar o capô.
Sento na barraca seguinte à da menina, meio escondido por uma coluna de madeira. Observo-a. Vejo que ela pede comida e refrigerante, vejo-a comer avidamente, desesperadamente. É verdade que estava com fome! Mas noto algo estranho também. Ela tem uma bolsa sobre o colo e, a cada vez que o rapaz atendente lhe volta as costas, ela joga algo, que parece com a comida que tem no prato, dentro da bolsa.
Prato esvaziado, garrafa também, a menina dá ao rapaz a nota de dez e espera pelo troco. Sai outra vez pulando, agora num pé só, como uma criança. Mas volta ao “ponto”. Param outros carros no sinal, ela anda pelo calçadão junto a eles, bate nos vidros outra vez. O terceiro carro que ela aborda, com sua mãozinha espalmada, abre-lhe a porta de trás. E ela entra, vai mais uma vez fazer seu trabalho humilhante, desesperado, sofrido, doloroso, cruel.
Vou ao guarda, excedi em muito meus cinco minutos, explico-lhe francamente o que quero. Ele me dá uma força, diz para eu ir em frente. Então vou à barraca onde a garota comeu e converso com o rapaz. Peço-lhe que me informe sobre a menina. Por sorte ele havia prestado atenção quando ela me abordou e lembrava bem de mim, foi solícito.
Assim fiquei sabendo que a criança tinha só dez anos e que se “virava” naquele sinal umas três vezes por semana. Então perguntei ao moço se ele havia notado que ela jogava comida na bolsa sobre o colo, enquanto comia. Ele fez sinal que sim. Apresentei-lhe minha brilhante conclusão:
– Ela leva comida para comer mais tarde, não é? Só não sei por que o faz escondida.
– Mais tarde o que, seu moço! Eu me viro de costas a toda hora porque ela tem vergonha, faço que não vejo. Mas ela leva comida é pros IRMÃOZINHOS dela. Tem mais quatro em casa e só ela é que garante a bóia pra todos. A mãe é variada, lesa das idéias, num sabe? Some no mundo, volta de barriga, e as crianças... Vixe!
Eu não podia saber, mas naquele momento estavam nascendo meus romances sobre prostituição infantil. No livro “A Espera e a Noivinha”, coloquei as mesmas palavras da menina de Maceió na boca de outra criança da mesma idade, Ritinha, com a cena ambientada na cidade de Barbalha, no Ceará, localidade que conheci quando, consultor do SEBRAE no Nordeste, dei consultoria a engenhos de açúcar em várias áreas rurais da região.
Nunca mais soube da menina, embora tenha passado a prestar muita atenção àquele sinal da Ponta Verde. Por alguma razão, ela mudou de ‘ponto’. Pouco depois acabou meu mandato e voltei para o Sul, desta vez não para São Paulo, mas para Santa Catarina. E foi ali, na praia da Enseada, em São Francisco do Sul, e em Joinville, que nasceram meus livros sobre a saga das meninas prostitutas em Sergipe, Alagoas, Ceará e nos garimpos do Pará. Dentro do gaúcho da fronteira que retornava ao Sul, vinha inteiro o Nordeste, cujo povo aprendi a respeitar e amar profundamente.
Mas eu estava inteiramente impregnado, indelevelmente marcado por uma mãozinha espalmada, sinalizando um preço absurdo em todos os sentidos. E por uma vozinha suave, tímida, quase sussurrada, inesquecível, que me disse:
– Tio, me queira. Por favor! To com fome... Eu cobro só CINCO.
Bendita hora em que eu aprendi, anos antes, que devia dar esmolas! (MM)
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