MILTON MACIEL
Depois que foi lançado o LUA OCULTA nas livrarias, no último dia 7 de
maio, fiquei contratualmente impedido, pela editora, de continuar postando, no
meu blog e no Face e seus grupos, os capítulos finais do romance, que acabou
ficando com a bagatela de 1088 páginas e mais alto do que a lista telefônica amarela
de São Paulo. É que nesses oito capítulos finais há uma reviravolta e aparecem
culpados por crimes onde não estavam sendo imaginados pelos leitores. E há o
fechamento, através de um grande flash
back, dez anos depois.
Em compensação, começo hoje a postar, em partes, um livro que não é de
ficção, como o LUA OCULTA, ou seja, não tem enredo que envolva romance, sedução,
sexualidade, futebol, humor, flamenco, mulheres que batem em homens, serial killers e detetives, desfilando suas
ações em Santa Catarina, Pernambuco e Paris.
Este novo livro é a 2ª. edição, muito ampliada, do meu bem-sucedido COMO É CARO SER MULHER, que terá seu lançamento nacional no próximo dia 10 de
Junho.
O que COMO É CARO SER MULHER se propõe é mostrar, exatamente como o
título diz, que é muito caro, caríssimo, ser mulher no mundo de hoje. As causas
que levam a vida de uma mulher a custar mais caro que a de um homem equivalente
são três: causas biológicas, causas comportamentais e causas mercadológicas. Mostro-as em detalhes mais
adiante.
Seguramente, é muito mais caro ser mulher do que ser homem. E, para a
mulher que trabalha, é muito mais difícil conseguir juntar tanto dinheiro
quanto o seu colega de trabalho, que exerce a mesma profissão, no mesmo cargo e
na mesma empresa.
Isso porque o mundo é cruelmente exigente com as despesas de uma mulher,
forçosamente muito maiores do que as
de um homem. No livro eu vou mostrando isso em números reais.
Para escrever COMO É CARO SER MULHER, desenvolvi, durante dois anos,
uma ampla pesquisa nos Estados Unidos e, depois, no Brasil, países entre os
quais tenho alternado minha residência desde 2007. A parte nova foi
acrescentada em 2016, em Santa Catarina.
Este é um livro de economia feminista. E pretende, com isso, ser um
livro de autodefesa para a mulher. Participo, como coautor, de um outro livro
de autodefesa feminina, A BELA MORDE A FERA (Idel, São Paulo, 2009), junto com
a autora Ellen Snortland, advogada e professora universitária de Los Angeles, Califórnia,
onde o assunto é autodefesa física e psicológica da mulher ante os diversos
tipos de agressão que ela recebe constantemente: psicológica, midiática,
profissional, física e sexual.
Considero o COMO É CARO um livro de autodefesa porque ele vai, aos
poucos e com muito humor, tratando de um assunto muito sério e até revoltante:
a exploração das vulnerabilidades e do trabalho da mulher por um sistema extremamente
ganancioso, que vai drenando as economias das mulheres e as encaminhando para certos
complexos industriais, comerciais e financeiros. Estes, em conjunto, vão tomar
uma enorme parte do dinheiro que a mulher vai ganhar ao longo de uma vida inteira
de trabalho e sacrifícios (só do pescoço
para cima, a parte mais barata, dos 14 aos 65 anos, um gasto total equivalente
ao preço de um carro médio zero quilômetro, 42 mil reais) E, com isso,
tornam muito mais difícil a ascensão econômica e social da mulher. Nutrem-se do
que eu chamo “o suor sacrossanto da mulher que trabalha”. E qual a mulher que
não trabalha? Ou fora ou em casa ou no estudo, esforço nunca para de lhe ser
cobrado. Como canta Rita Lee, em ‘Cor-de-rosa Choque’: “Dondoca é um tipo em extinção”.
As três causas
As causas que levam a vida de uma mulher a custar mais caro que a de
um homem equivalente são três: causas biológicas, causas comportamentais e
causas mercadológicas.
Causas biológicas são ônus adicionais,
advindos de se possuir seios, útero e seus anexos. Coisas que decididamente o
homem não tem. São custos involuntários, completamente inevitáveis pela mulher.
Causas comportamentais
provêm dos costumes fixados pela cultura patriarcal, como a moda, por exemplo.
Estes custos não são necessariamente obrigatórios, mas as mulheres se vêm
pressionadas a incorrer neles, forçadas pelo peso do ambiente cultural. Para
dar um pano de fundo, divido-os em capítulos que têm os nomes: a cruel
obrigação de ser bela; a cruel obrigação de ser magra; a cruel obrigação
de ser jovem (para sempre), a cruel obrigação de andar na moda; a cruel
obrigação de ter homem (mesmo quando
ela é homo); a cruel obrigação de ser mãe (de filhos e marido); a cruel
obrigação de ser profissional de sucesso; a cruel obrigação de ser rica.
Causas mercadológicas advém
de custos adicionais ainda mais injustos, porque, como vamos mostrar, as
mulheres são levadas a pagar mais do que os homens pelos mesmíssimos produtos, ao
passo que ganham menos pelo mesmo trabalho. Por exemplo, o mesmo
desodorante na embalagem verde custa 30% mais barato que o da embalagem cor-de-rosa,
para mulher. Certamente a tinta cor-de-rosa deve ser caríssima! Nos Estados
Unidos, chamávamos a isso o imposto da vagina (vagina tax).
CONTINUA
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