MILTON MACIEL
SER HOMEM É MUITO MAIS FÁCIL
Fisicamente, a menina não custava mais do que o
menino (eu disse fisicamente, não
vamos falar neste ponto de roupinhas ou cabelinhos, que são comportamentais) até que chegou à
puberdade.
Aí botou peitos e menstruou. Pronto: começou a
despesa! Já pode ficar grávida (Não, não
pode!), já pode ter complicações hormonais, infecções, já precisa de
absorvente, anticoncep-cional, roupinha (de cima e de baixo) sexy, moda,
pintura, cosméticos. Deus nos livre e guarde: começou o gasto sem fim, o
desmonte impiedoso e cruel de toda uma vida financeira, o desrespeito gritante
ao sacrossanto suor da mulher que trabalha!
Agora a menina ficou muito mais cara que o menino!
E vai seguir assim durante o resto da vida, até o
fim, quando se descobre que um penico para uma velhinha, que uma bengala para
uma velhinha, totalmente iguais aos dos velhinhos, custam 30% a mais. Só porque
a velhinha é mulher! Ah, são as malditas causas mercadológicas, motivo da
terceira sessão deste livro, o arqui-injusto imposto da vagina.
Bem no meio do caminho, entre a menarca e a velhice
muito avançada, surgem o climatério e a menopausa.
– Oba! Não
menstruar nunca mais! É fim de todos os
problemas!
Antes fosse. É o fim de alguns problemas, sim: risco
de gravidez, por exemplo. Absorvente. TPM. Cólica. Mas... é o começo de outros
problemas. E que problemas! Será que é trocar seis por meia dúzia?
Parece que o departamento de projetos da Mãe natureza
resolveu pegar pesado com a mulher. Não lhe dá descanso nem na hora de parar de
menstruar. Vai aos poucos trocando umas aflições por outras, deixando-as, por
um longo tempo, na base do tudo junto e misturado.
Nós, homens, vivemos um declínio tranquilo da nossa
fertilidade e da nossa virilidade, nossa possível andropausa ocorrendo mais
tarde e de forma incomparavelmente mais suave do que as complexas fases de
climatério e menopausa femininos. Os homens sempre viram no seu declínio o
grande fantasma da impotência. Pois até nisso se viram privilegiados: foi
inventado o comprimido azul e seus concorrentes. E hoje discute-se,
acerrimamente, as conveniências ou não da reposição hormonal masculina.
Prolongou-se ainda mais a vida útil do minhocão. E, convenhamos, o comprimido
azul é bem barato.
Nós, homens, somos de fato fisicamente mais rústicos
e muito menos complicados que as mulheres. À complexidade do útero opomos a
simplicidade da próstata (que demora muito mais tempo para crescer e dar
problema; e, se ainda morremos muito de câncer de próstata, é por puro
machismo, por medo de tomar no... rabinho e perder a tão ciosamente defendida
virgindade para um frio e desamante proctologista ou urologista).
Opomos a extrema simplicidade de um meato urinário à
ampla complexidade, amplidão e delicadeza de uma vagina, e mais um meato.adicional na mulher.
E opomos a simplicidade da nossa andropausa à absurda
complexidade do climatério e da menopausa.
Não há como negar: ser homem é muito mais fácil, mais
barato, menos doloroso e menos arriscado que ser mulher.
E, claro, incomparavelmente mais barato! Caro,
mesmo, é ser mulher.
Uma coisa que me incomoda e que me leva a repetir sem
cessar essa afirmação, é constatar que os homens não percebem as causas reais
por trás dessa realidade. Pensam que é tudo uma coisa de gastar
descontroladamente com roupas, sapatos, bolsas, cosméticos e até jóias. Ora
isso é só uma parte do conjunto todo..
Estou me esforçando ao máximo – e abusando quiçá da
paciência de quem me lê – para deixar muito evidente, neste livro, que há
outras causas que não só as ligadas a uma errônea ideia de desperdício e luxo
com roupas e acessórios.
Os custos biológicos e mercadológicos são igualmente
muito grandes e os homens não os percebam. E grande parte das mulheres também,
o que é mais estarrecedor.
Mais do que me incomodar, irrita-me sobremaneira ver
que a há homens que não conseguem entender todos os sofrimentos inerentes à
condição feminina. Ou os desconhecem, ou os conhecem superficialmente e, acima
de tudo, quando os conhecem, não valorizam as pessoas que são submetidas a eles
todos os dias de uma longa vida.
Não reconhecer o valor de uma pessoa que vai à luta
diariamente em sua dupla jornada de trabalho, enfrentando condução, trânsito,
escritório, loja ou fábrica, colegas de trabalho, concorrentes, chefes,
salários ou ganhos baixos, responsabilidades, horários, broncas, panelas,
filhos, escolas, doenças em família e muito mais – tudo a bordo de um corpo que
massacra com TPM, ou menstruação e cólica, ou corrimento e coceira, ou
gravidez, ou amamentação, ou fogachos de climatério, ou cansaço e astenia. E que, ainda por cima, tem que estar coberto
por lingerie e roupa da moda, que não pode ser repetida no trabalho ou na festa,
o sapato e o saldo bancário apertados, o cartão de crédito e a cintura de
pneuzinhos estourando os dois... Ah, e ainda por cima, chegando em casa e tendo
que dar muita atenção ao parceiro, ao tal dono do minhoco sempre faminto, virar
gata sedutora e tirar um tesão, sabe-se lá de onde, para encarar a tarefa final
do roteiro do dia, antes de ir dar mais uma olhada nas crianças.
Acho de uma grossura extrema não saber reconhecer e
acompanhar a via crucis de sua companheira quando ela começa a enfrentar o
climatério, quando em meio aos transtornos e sofrimentos que cercam a menopausa,
uma mulher vai chegando ao seu ponto de maior valor na vida, a maturidade.
Caramba, com é difícil tudo isso! Só porque, ao
nascer, a opção foi uma vagina...
Como gaúcho que sou, depois de conviver com esposas,
filhas (3) e netas (2) e um grande número de mulheres das quais tenho sido
amigo, professor ou consultor, costumo declarar com autoridade:
– Olha aqui, tchê:
pra poder ser mulher, tu tens que ser muito macho!
CONTINUA
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