MILTON
MACIEL
Livra-me, Livro,
do SILÊNCIO
Porque de ti
vem o som de vozes e palavras,
Que ouço na
mente, ora suaves, ora bravas,
Ora sussurros,
meiga poesia, acerba prosa.
Vem-me o
sonido da música harmoniosa
Que cantas desde
as pautas e das claves.
Enches-me os
olhos com imagens multicores,
Falas de
vida, de sonhar, falas de amores
E também
gritas o sofrer das horas graves.
Livra-me, Livro,
da SOLIDÃO
Porque que em
ti está o melhor remédio
Para o
olvido, o abandono, para o tédio,
Quando a
vida lá fora faz-se escura.
Abro tuas páginas
e então, magia pura!,
Saio do meu,
pois mergulho no teu mundo.
Horas a fio
tu me embalas e me aqueces,
Mostras caminhos,
aventuras, mostras preces,
E que outros
vivem em abismo mais profundo.
Livra-me, Livro,
da IGNORÂNCIA
Porque é contigo
que aprendemos passo a passo.
Desde pequenos
foste-nos régua e compasso,
Pois que
ensinar é tua mais nobre missão.
Do mero bê-á-bá
até os textos de profissão,
Foram tuas
páginas as mãos que nos guiaram
Encadearam-se
dentro de ti milhões de mentes,
Desde os
primórdios até os tempos mais presentes,
Que do cegar
da ignorância nos livraram.
Livra-me,
Livro, do ORGULHO
Muitos de
nós em tuas folhas se embebedam,
Sobe-lhes à
mente o saber tal qual o vinho.
É em saber
mais, só saber mais, que se obsedam.
Mas, sem compartir,
o saber se faz mesquinho!
Mostra-nos,
Livro, quando nos julgarmos sábios,
Mil bibliotecas
com milhões de alfarrábios,
A que jamais
chegaremos numa só jornada.
Lembra-nos sempre,
com teu paternal carinho,
Que nós, no
fundo, não sabemos quase NADA!
(Ilustração: Câmara Brasileira do Livro)
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