quarta-feira, 7 de outubro de 2015

EU SEI OS SEUS PIORES SEGREDOS     
MILTON  MACIEL     

Ei, pessoa! É, você mesmo, pessoinha, que está lendo isso aqui! Você, sim. Eu descobri os seus segredos mais incômodos, sabia?  Pode crer! Você já vai ver. Como? Quem sou eu? Ora, você já vai ver também, não se afobe, não apresse o rio. Bem, de qualquer forma, eu  sou o cara que sabe os seus piores segredos. Inclusive aquele mais brabo, que ninguém pode saber, mas ninguém mesmo, senão você se ferra total, pessoa. Quer ver o que eu sei?

Pois então pára tudo. Não, é tudo mesmo! Pára tudo e pensa pra valer nesse seu podre mais brabo aí. Tá, eu sei que você tem um monte, mas é o pior deles, o mais cabeludão, é: AQUELE!!!  Agora pensa no medão que você tem que alguém fique sabendo disso. Pensa bem, pessoa! Está pensando? Imagina então se alguém descobre e começa a espalhar ISSO por aí, joga no ventilador. Acaba com você! Pois acontece que EU sei tudo!

A sua sorte é que comigo o seu segredo cabeludo está protegido. Eu não conto nada pra ninguém. Sou capaz do mais completo e abismal silêncio. Aliás, por causa disso, eu mesmo me dei dois apelidos: Túmulo Fechado e Sepulcro Caiado.

Que sorte a sua que fui eu quem descobriu essa coisa horrorosa. Francamente... Você, hein? Quem diria! Pessoinha, em você existe um feio lobo por baixo dessa pele bonitinha de ovelhinha. Mas a mim você não engana, não. Agora eu sei de tudo. Mas, como já afirmei, sorte sua é que eu sei guardar um segredo. É, não só você, mas todas as outras pessoas que eu flagrei, estão mais do que seguras comigo. Segredo total. Absoluto!

A menos, é claro, que uma pessoa não saiba reconhecer, não saiba demonstrar gratidão por esse meu proceder idôneo, essa minha canina lealdade para com uma pessoa pecadora e portadora de um segredo aviltante. Explico melhor: Já houve até quem equivocadamente pensasse que eu sou um chantagista qualquer, desses chantagistazinhos miúdos e baratos de periferia, que cobram pra não revelar segredinhos torpes de alcova, de viadagem ou de desfalques, de fofoca de comadre ou de cabeleireiro.

Argh! Eu tenho nojo dessa gente baixa e rasteira! Chantagistazinhos chinfrins! Aliás, eu tenho nojo de tudo que não tenha classe e um bom tamanho. Por isso mesmo eu só opero na descoberta de segredo brabo pra valer. Dos maiores! E de gente importante que nem tu, pessoinha. Gente que tem, além de importância e nome a zelar, uma sólida retaguarda financeira.

Não, não se assuste, já falei que eu não sou chantagista. Imagine, longe de mim a ideia malévola de lhe extorquir dinheiro em troca da manutenção do seu segredo. Nunca, eu tenho a minha ética e dela não me afasto um milímetro. Eu não cobro nada para manter o seu horrível segredo absolutamente secreto e protegido. Fique tranqüila, pessoa.

Agora, eu agradeço e aceito a gratidão das pessoas que eu protejo da execração pública ou de parte de pessoas amadas, de pessoas cornas amadas, familiares, empregadores, fiscais federais, etc. Não posso impedir que pessoas realmente generosas – como você, pessoa, tenho certeza – queiram demonstrar a sua enorme gratidão pela proteção que eu garanto a seus tenebrosos segredos. Nesse caso, elas, pelo geral, me fazem impressionantes e significativas doações espontâneas, que eu não sou capaz de recusar, por medo de vir a ferir suas suscetibilidades.

O meu Camaro amarelo, por exemplo, foi doação de uma dessas pessoas imensamente reconhecidas. Eu descobri o segredo de sapatagem dela e não contei pra ninguém, mas pra ninguém mesmo. É, quando eu digo ninguém, é porque é ninguém e fim de papo. Nem o arqui-tri-corno do marido dela ficou sabendo. Afinal, lembram? – eu sou o famoso Sepulcro Caiado! E isso que ela traía o marido com a irmã dele e com a namorada da irmã dele, ao mesmo tempo. Você, por acaso, ficou sabendo quem ela é? Claro que não, eu não contei até hoje.

Por aí você vê como você pode ficar tranqüila, pessoa. Seu horrível segredo está em boas mãos. E eu não quero nada, absolutamente nada de você como condição para ficar em silêncio. Pode acreditar.

Agora, em contrapartida, eu espero não ter com você mais uma decepção traumatizante. Já chega a de ter descoberto sua barbaridade. Você, hein, quem diria?! Mas não vou ter, não, é claro que você não é do tipo capaz de cometer uma ingratidão horrorosa com o seu protetor aqui, não é mesmo? Com toda certeza você vai querer me presentear espontaneamente com um mimo delicado qualquer, sem exageros por que eu sou um moço tímido e fico logo sem jeito quando as pessoas querem me dar coisas de grande valor.

Eu me contento com pouco. Pra você ver como isso é verdade, vou até lhe dar uma ajuda e indicar umas coisinhas que eu gostaria de ganhar ou de que estou precisando. Por exemplo, eu apreciaria muito um gesto de gratidão consubstanciado (Hehê, português supimpa! Sou dos bons nisso também.) em algo simples e pouco espalhafatoso, como uma macinho modesto de notas de cem reais, totalizando não mais do que cem mil (convém que não seja menos do que isso também, questão de volume, sabe como é?). Ou um plano de viagem de volta ao mundo em 60 dias da Porcellatur, que é mais ou menos nesse mesmo valor modesto também.

Agora, precisar, precisar mesmo, eu não estou precisando de nada. É que eu sou um cara simples de todo, humilde como poucos. Só se a pessoinha achar por bem me presentear com um título de sócio remido do Paulistano, para a família, não é?

Ah, você quer saber como é que eu descobri o seu segredo? Ora, eu digo, eu não tenho segredos, não sou como você. Pra começo de conversa, eu tenho contratadas cinco agências de detetives. São as melhores do país, sabe. Sim, claro que são caríssimas. Mas sabe como é, eu tenho essa enorme felicidade de ser sempre contemplado com tantas demonstrações de gratidão das pessoas que protejo, que dá para pagar as agências com uma fração apenas do que recebo.

Mas as minhas melhores fontes não me custam quase nada. Como a quase totalidade das pessoas que eu investigo para proteger, preocupado com o sigilo total sobre as vidas delas, são mulheres, eu faço consultas espirituais pedindo que me informem se uma determinada fulana é digna de confiança e do meu amor, minto que quero casar com ela. Se for casada, digo que ela vai largar o marido. Se for muito velha, digo que tenho um fraco pela terceira idade. Ou mesmo pela quarta, se for o caso. O fato é que funciona. Por uma miserinha tipo 50 ou 100 reais, saio de lá com a ficha completa. Como foi no seu caso, pessoinha simpática.

As santas criaturas que me garantem o meu trabalho benemérito são Pai Tutufum e Mãe Cigana. É fazer a pergunta e lá vem chumbo grosso. Como é difícil encontrar uma pessoa sem podres, hoje em dia! Uma única vez aconteceu, uma tal  de Neuza Osório, de quem os dois guias espirituais só falaram coisa boa. Nunca mais esqueci esse nome. Tenho ódio dela até hoje, daquela inútil que não prestava pra nada, pelo menos pra mim.

Mas é isso, pessoinha. Você já pode imaginar o que Pai Tutufum me contou a seu respeito, não é? Pois é. Ele entregou você totalmente pessoa, me contou sua vida todinha, desde que você tinha sete anos e já estava começando a aprontar. Aí ele deu o serviço completo e até eu fiquei de cabelo em pé quando soube DAQUILO!

Mas você pode ficar tranqüila e confiante, pessoinha. Minha boca é um túmulo, já disse, eu sou o Sepulcro Caiado, lembra? De mim ninguém jamais vai ficar sabendo essa indignidade. Eu sou seu protetor. E sou o grande amigo das pessoas que, como eu, sabem valorizar esse sacrossanto valor humano que é a GRATIDÃO, como deve ser o seu caso.

Sim, porque se não for, bem... EU ODEIO PESSOAS INGRATAS! Nem sei o que sou capaz de fazer com elas...

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