UM ESTRANHO CERCO - ficção científica
MILTON MACIEL
O Coxo entrou esbaforido na caverna, segurando o rifle com as duas mãos:
– Não adianta. As coisas nos cercaram. Não tentem sair!
– Mas que diabo são essas coisas?! O que é que elas querem? – perguntou Ivan, agitando os braços nervosamente, enquanto olhava a cena incompreensível lá fora.
– Nos matar, isso é o mínimo, já deu pra ver – disse a moça – Eu também quero saber quem são essas coisas. Mas com esse nevoeiro...
– É, não se vê nada em plena manhã. É o nevoeiro mais esquisito que eu já vi. Não dissipa nunca. E nunca fica mais claro. Afinal, o que aconteceu com o sol? Que horas são? – Ivan falava mais para si mesmo do que para os outros. Surpreendeu-se quando veio uma resposta:
– 7:40. Era para estar dia claro, mas segue tudo turvo, cinzento. Tem algo muito errado nesse nevoeiro – o Coxo sacudia a cabeça para os lados – Nunca vi algo assim em toda a minha vida. O que você acha, Professor?
O Professor andava de um lado para o outro, pensando, batendo de vez em quando a bota contra a areia fofa do piso da imensa caverna. Era uma formação natural gigantesca, com mais de 1000 metros quadrados, com uma abóbada alta de mais de 10 metros e uma entrada enorme, pela qual entrava luz suficiente para iluminar tudo fartamente. Por fim ele respondeu:
– Não acho nada. Preciso sair e dar uma outra olhada naquelas coisas.
– Claro – o Coxo sorriu, irônico – E ser fritado por elas, como já aconteceu com dois dos nossos.
– Você tem certeza que eles estão mortos?
– Caíram ao meu lado, Professor. Duros, olhos abertos, arregalados. Vieram aquelas coisas e eles foram atingidos. Eu escapei por milagre.
– Fuzil ou metralhadora? – perguntou Ivan, lacônico.
– Aí é que está. Nem uma coisa nem outra. Não houve um único estampido de tiro. Nada. Vieram aquelas três coisas do nada, no meio do nevoeiro. De repente acenderam as luzes, eram como globos enormes, verdes. E nos atingiram com uma coisa esquisita, o barulho que eu ouvi lembra o que se escuta quando a gente sacode um chicote grande no ar.
A moça ergueu-se surpresa:
– Chicote? Como um estalo?
– Não – respondeu o coxo – Não como um estalo, é uma coisa mais comprida, como se fosse um sopro, um assobio longo, mas com o som de chicote. Aí eles caíram varados por algo, foi instantâneo, morte na mesma hora. E sem sangue algum.
O professor não conseguiu mais se conter:
– Eu vou lá fora. Preciso ver isso com os meus olhos. Tá difícil de acreditar no que você está dizendo, Coxo.
– Vá por sua conta e risco. Eu já falei que as coisas nos cercaram. Vão fritar você.
Ivan e a moça fizeram menção de acompanhá-lo. O Professor fez-lhes sinal para ficarem onde estavam.
– Ninguém mais vai comigo. Se metade do que o Coxo disse for verdade, basta um cadáver a mais lá fora. Vou levar o AR-15.
Disse isso, apanhou o fuzil e saiu pela abertura principal da caverna, três vezes mais alta que ele. Dentro, o silêncio foi total. Tanto o Coxo, como Ivan e a moça, assim como os outros quatro mercenários, permaneceram todos em pé sobre a areia como estavam, com os ouvidos aguçados, tentando escutar os ruídos que viessem do exterior. Era 6 de abril e o nevoeiro lá fora não fazia o menor sentido nessa época do ano.
O pequeno grupo de doze pessoas estava há quatro dias fugindo das forças do Governo. Exceto o Professor, o Coxo e a moça, eram todos mercenários a soldo do movimento revolucionário. Foram alcançados duas vezes, deram combate rápido e fugiram, estavam em número muito menor que o do inimigo. Em cada uma dessas escaramuças, perderam um homem, ferido mortalmente.
O Professor guiou-os então para a caverna onde estava escondido o arsenal de armas, munição e explosivos que lhes restava. Aquele era um lugar que não constava nos mapas, não havia estradas vicinais por ali, os soldados que os perseguiam não tinham como localizá-los facilmente. Além do mais, vinham em jipes militares, totalmente inúteis para transitar por aqueles leitos íngremes e pedregosos. Teriam que vir atrás dos guerrilheiros a pé, perderiam a vantagem das três metralhadoras fixas dos veículos.
O Coxo tivera oportunidade de ver bem os perseguidores e contar seu contingente: eram 30 homens no início, haviam perdido três nos combates, um fatalmente, os outros dois feridos. Ficaram três com estes, para cuidá-los nos veículos, 24 tinham vindo no encalço dos fugitivos. A pé.
O plano era esconderem-se na caverna e armar o ataque ao acampamento dos soldados no meio da noite, usando os explosivos. Mas então algo havia acontecido.
Na noite anterior, ouviram tiros de fuzil e rajadas de metralhadoras, vindos de onde esperavam estar o acampamento inimigo. O estranho é que os estampidos partiam todos de um único ponto, sem haver revide de tiros vindos de outro. E, depois de um curto espaço de tempo, o silêncio fez-se total.
Subindo ao respiradouro superior da caverna, Ivan e um dos mercenários voltaram rapidamente, dizendo que viram no horizonte luzes fortes, de estranho tom esverdeado, no meio de um vasto nevoeiro, algo completamente inexplicável em abril.
Tiraram as sortes e o Coxo e dois mercenários foram escolhidos para se esgueirarem furtivamente até algum lugar onde pudessem fazer uma observação mais próxima do
acampamento inimigo. Chegaram perto o suficiente para verem algo inimaginável: todos os soldados estendidos pelo chão, imóveis, em posições estranhíssimas.
Ousaram chegar mais perto: estavam todos mortos, 24 homens! Marcas de perfuração nas roupas, diversas, mas nenhum sangue visível. Todos de olhos abertos, esbugalhados...
O Coxo e os dois mercenários abandonaram suas armas, pegaram outras mais novas no chão. Apanharam mais armas e munição, tanto quanto poderiam carregar, e trataram de voltar o mais rápido possível à caverna, para dar a boa nova aos camaradas.
Foi quando estavam quase chegando que o estranho nevoeiro surgiu junto com o amanhecer, súbito, inteiriço, denso, incompreensível. No meio dele acenderam-se três luzes, como grandes globos esverdeados. Os três homens abandonaram suas cargas e trataram de correr o mais depressa que podiam para a caverna. Mas as três luzes os seguiram e cercaram. Então os estranhos ruídos que lembravam estalar de chicotes vieram às dezenas e os mercenários tombaram inertes, de olhos abertos.
O Coxo observou-os rapidamente e rolou pelo chão, esgueirando-se até à entrada da caverna. Por alguma estranha razão, as coisas verdes, ou aqueles que as dirigiam, não entraram, permanecendo lá fora. Os camaradas que estavam dentro da caverna chegaram à entrada, olharam a cena insólita, mas o Coxo os fez recuar incontinenti. Seguiu-se o tenso diálogo, até que o Professor tomou a decisão de sair rapidamente.
Cerca de um minuto depois todos ouviram os estampidos do AR-15 em sucessão, sem parar. Os ruídos de chicote espocaram no ar e o Coxo fechou os olhos, despedindo-se do Professor. Seguiu-se o silêncio.
A moça gritou e correu para a entrada. A tempo de ajudar o Professor a se arrastar para dentro. Vinha lívido, pálido, caminhava com dificuldade. Na manga do casaco militar um furo chamuscado, o braço esquerdo pendendo inerte. Nenhum sangramento.
O ferido conseguiu falar:
– É mesmo tudo o que o Coxo disse. Só que eu tive menos sorte do que ele.
– Mas muito mais sorte que os outros dois que estão lá fora – retrucou o Coxo.
– É verdade. Pagaram só o meu braço. Perdi o fuzil.
– Armas é o que mais temos de sobra aqui dentro – observou Ivan, soturno.
A moça aproximou-se, levantou a manga do casaco, todos puderam ver a marca de entrada e saída da munição que atingira o Professor. Não sangrava.
– Antes que me perguntem, não dói nada. Nada mesmo. Mas não consigo comandar meu braço. E examinei bem nossos caras lá fora, antes que começassem a atirar em mim. Bem mortos. Foi quando as luzes se acenderam no nevoeiro. Na hora não pensei em nada, acho que foi automático, disparei toda a munição do fuzil em direção àquelas três coisas. Aí elas revidaram. Eu rolei no chão e me arrastei para cá. Então algo passou pelo meu braço, eu fiquei paralisado por uns segundos, larguei o fuzil, depois segui me arrastando para a caverna.
– E ela recolheu você – completou o Coxo.
– Sim, ela me salvou, talvez. Devo agradec...
Então o Professor fraquejou, rodopiou sobre si mesmo e estatelou-se no piso de areia.
A moça jogou-se ao chão, tomou a cabeça do homem desacordado e colocou-a em seu colo. Não disse uma palavra, mas seus olhos se encheram de lágrimas. Sua expressão era de pânico e desespero. Mas o Coxo auscultou o desacordado e falou, categórico:
– É o choque. Ele está respirando bem, o pulso está lento, mas forte. Vai acordar.
De fato, menos de três minutos depois, o Professor recuperou os sentidos e ergueu-se, sentando no chão. Então todos trataram de confabular e tentaram entender a esdrúxula situação em que se encontravam.
Um dos mercenários perguntou:
– Afinal, quem são esses caras?
– Pensei que fossem unidades do Governo, com armamento mais moderno, veículos especiais. Até que vi os caras aniquilarem os soldados do próprio Governo – disse o Coxo – Por um instante cheguei a acreditar em milagres. Nosso lado tinha conseguido reforço, era uma unidade super equipada nossa, exterminando os que nos perseguiam. Isso até eles nos perseguirem e começarem a nos exterminar também. Agora não sei mais nada.
Ivan, objetivo como sempre, dirigiu-se a todos, mas, em especial, aos quatro mercenários seus comandados:
– É simples: os caras lá fora querem nos pegar. Ou eles nos cercam e nos matam de fome e de sede; ou eles invadem esta joça e nos matam aqui dentro; ou nós saímos com as nossas armas e eles nos matam com a maldita munição moderna deles lá fora. Bem, nós somos pagos para lutar, para matar e... para morrer. Somos soldados. Soldados da fortuna, mas soldados. Então eu decido que devemos lutar.
Os quatro mercenários confabularam entre si rapidamente, até que um deles falou:
– Bem, se a alternativa é morrer ou morrer, nós também achamos que o negócio é morrer lutando. Mas, chefe, não existe um meio melhor do que sair por aí dando tiro de AR-15 e de B&T MP9?
– Certo, meu velho. Sei o que você está pensando, o mesmo que eu pensei. Fico feliz que vocês queiram agir como soldados agora, porque eu iria fazer o que tem que ser feito, ainda que sozinho. Mas vamos lá: nós temos um tremendo arsenal de explosivos aqui. Temos granadas, temos bazucas. Com isso os verdes lá fora não estão contando. Então nós cinco saímos atirando.
– Isso, chefe. Só que não de fuzil e metralhadora. Saímos de bazuca e granada pra cima deles. Aí eu quero ver eles terem tempo de acionar as tais armas modernas deles.
– Mas... e nós? – perguntou o Professor, levantando do chão – Também posso atirar com a mão e o braço direito.
– E nós também – falou a moça, apontando para o Coxo.
Ivan foi taxativo:
– Não! Nós cinco somos ex-militares, sabemos usar essas armas e explosivos. E somos pagos para fazer isso. Vocês só sabem atirar com armas leves, isso não tem a menor chance com os caras da luz verde lá fora. Cinco de nós chega para darmos combate, o fator surpresa vai estar a nosso favor. Além do que, se ficarmos aqui, morremos todos, nós e vocês, tão logo esses bandidos resolvam invadir a caverna. Isto aqui não é uma fortaleza ou casamata, não tem portão, nada impede que os caras entrem à hora que quiserem.
– De acordo, chefe. Então vamos lá, vamos logo, vamos dar as boas-vindas a esses idiotas lá fora, antes que eles resolvam se convidar para entrar.
Os cinco combatentes foram ao depósito de armas e voltaram com cinturões de granadas. Cada um trazia um bazuca armada, pronta para atirar.
O que se seguiu foi uma verdadeira batalha campal. Da entrada da caverna, os homens de Ivan abriram fogo com as bazucas contra as esferas esverdeadas. Cinco explosões foram ouvidas. A seguir largaram as bazucas e correram para fora, em direção aos alvos, cada um arremessando uma granada com cada uma das mãos. Mais dez explosões se seguiram. Mas, pouco depois, começaram a zunir os ruídos de estalos de chicote, ininterruptos, até que o silêncio de fez total.
Da entrada da caverna, a moça, o Coxo e o Professor viram Ivan e seus soldados estirados no chão. As coisas verdes continuavam iluminadas, em meio a um nevoeiro ainda mais denso. Tinham vencido.
O Professor levou os outros dois para a escada de corda que subia até o respiradouro da caverna. E ordenou:
– César, chegou a hora. Não há um minuto a perder. Logo esses malditos vão entrar aqui e terminar com todos nós. Então eu vou preparar a recepção para eles. Não é algo que tenha que ser feito, já mandei montar tudo para uma emergência dessas desde o início, vocês sabem. Então vocês têm que ir agora, saiam por cima e corram o mais que puderem em direção ao oeste. Levem a reserva de água e mantimentos regulamentar. E armas leves, para não dificultar a marcha. Submetralhadoras só.
A moça entrou em desespero, agarrou-se ao Professor, mas César, o Coxo, conseguiu desprendê-la e fazê-la entender que ela tinha a obrigação de se salvar e dar continuidade à luta, caso algo acontecesse ao Professor. Só ela teria força moral para isso, para manter a flama dos resistentes ao regime acesa.
O Professor conseguiu convencê-la que iria encontrar-se com eles assim que fizesse tudo o que precisava ser feito. Sairia também pelo respiradouro e correria para se salvar. Mas antes precisava ficar a acionar os dispositivos de emergência. E podia fazê-lo perfeitamente usando um braço só. Despediu-se da moça com um beijo leve na face, um sorriso largo e um tranquilizador “até já’.
Deu um grande abraço em César e falou bem baixo, para que só ele pudesse ouvi-lo:
– Vá, meu irmão, você sabe muito bem o que vai acontecer comigo hoje. É inevitável. Salve Laila, só ela pode garantir a continuidade do nosso movimento. Nossos seguidores serão fiéis a ela como foram fiéis a mim e, antes de mim, ao nosso pai. Você é tio dela e meu irmão, sei que vai cuidar muito bem da minha filha única. Leve o meu tesouro, proteja-a. E leve com ela o futuro da nossa luta, a semente da nossa vitória, pela qual vou fazer o que tem que ser feito agora.
O Coxo forçou Laila a subir a escada de corda e seguiu atrás dela. Do topo do monte, os dois correram rumo oeste, sem se arriscar a chegar à beira para olhar as estranhas coisas em frente à entrada da caverna. Poderiam ser vistos ou detectados por instrumentos.
Dentro da caverna, o Professor dirigiu-se ao painel oculto e puxou todas as quatro alavancas. Imediatamente os fluidos começaram a correr nos dutos e comunicaram entre si todas bases do paiol de explosivos. Era a solução final. Tudo tinha sido disposto assim desde o início. Antes perder tudo do que deixar o arsenal cair nas mãos do odiado inimigo. A diferença única era que, agora, o Professor não sabia mais quem era o inimigo.
E a segurança extrema exigira, desde o começo do plano, que a detonação fosse manual. Não era possível correr o risco de tentar uma detonação à distância, por via eletrônica, ou por via de um detonador convencional com um fio ultralongo. A margem para erro era zero. Zero absoluto. Alguém teria que estar ali no momento derradeiro. Suas mãos acionariam os dispositivos e a detonação. Seria sua última ação em vida.
Com tudo pronto e colocando-se na pequena câmara do fundo da caverna, ele ficou esperando o momento em que os inimigos iriam fatalmente entrar. Saber quem eram eles e por que queriam matar tanto governistas quanto guerrilheiros não tinha mais nenhuma importância. Eram inimigos e ponto final.
Teve tempo então de olhar um pouco para o seu passado, ao mesmo tempo em que sentia uma profunda paz invadi-lo mais e mais a cada instante. Sim, entregava sua filha ao mundo e entregava o movimento revolucionário a ela e a César, o Coxo, apelido que este escolhera usar depois de ferido em combate, meses atrás.
O Professor deixara a Universidade quando seu pai, o Presidente, fora deposto e assassinado pelos militares golpistas. Saíra do laboratório de física diretamente para a clandestinidade e, daí, para o exterior. Ali, ao longo de dois anos, havia passado por todos os treinamentos. Voltara ao país, para liderar o movimento secreto e preparar a insurgência. Quando esta eclodiu, em 12 de setembro, Laila já havia imposto sua participação ativa no movimento, estava com 25 anos, não houve como dissuadi-la.
Desde então estivera sempre com ele e com o tio. Agora era a primeira vez que se separavam. E a última, certamente.
Sua filha era forte e decidida. Tinha combinado em si o melhor de seus pais: a retidão de caráter de sua falecida mãe, o idealismo, o senso de justiça e a coragem do pai. Era uma líder nata e uma mulher de bela figura, que impressionava todos que a conheciam.
Nada estava definido. O governo militar era muito forte, desviara impressionantes quantidades de dinheiro público para consolidar tanto seu poder armado quanto a corrupção de políticos e magistrados. O país afundara numa espiral inflacionária e grande parte das conquistas econômicas e sociais, obtidas no período democrático de seu pai e antecessores, estava se perdendo. Por isso mesmo a resistência popular também aumentava e o recrutamento de voluntários continuava crescente. Laila saberia manter essa chama acesa, tinha certeza.
Estava como que antegozando essa convicção quando ruídos à entrada da caverna anunciaram a entrada dos invasores. A hora tinha chegado!
O Professor olhou pela pequena vigia oculta na parede da câmara do fundo. Viu a abóbada, as paredes de rocha, o piso de areia da enorme caverna tingirem-se de luz verde. Uma névoa espessa invadiu o ambiente e impediu uma visão nítida do que se passava à sua frente. As esferas verdes, muito maiores do que um homem, tiveram que entrar na caverna uma após a outra. Pareciam flutuar na névoa cinzenta, a uma altura de três metros acima do piso da grande formação natural.
Como físico, o Professor tentou conjecturar que tipo de máquinas seriam aquelas. As esferas pareciam ser a parte superior de um mecanismo muito maior, que possivelmente deslocava-se sobre o solo, apoiado sobre rodas ou lagartas. A névoa impedia qualquer visualização dessa parte. E se fossem esferas que flutuavam no ar, com a ajuda da névoa? Tentou rapidamente formular uma hipótese baseada em magneto-hidrodinâmica, em fluidos condutores, talvez um plasma presente naquela névoa. As coisas deslocavam-se sem fazer barulho algum!
Mas não tinha tempo para conjecturas. Tinha o tempo curto e exato para agir. Fosse quem fosse o inimigo, ele estava dotado de uma tecnologia muito superior às que ele pudera conhecer. Mas agora ele não tinha nenhuma curiosidade em conhecer mais uma. Bastava-lhe saber que sua velha tecnologia de explosivos tinha tudo para dar conta de um insidioso inimigo que, se não fosse destruído, iria ao encalço de sua filha e a destruiria. E isso ele não poderia permitir jamais.
Pensou, quase divertido, que chegava enfim o momento de saber se existia vida após a morte. Tinha lá suas convicções e, ao mesmo tempo, suas dúvidas. Agora, no entanto, iria ter, enfim, certezas.
Sorriu ao pensar que, se existisse, ele em breve iria saber quem era o inimigo das esferas verdes. Quem, quantos, por que. Tantas respostas ao mesmo tempo, tão logo acionasse a pequeno dispositivo sob sua mão direita.
Esperou que as coisas verdes se distribuíssem pela caverna. Certamente estavam atrás dele e das outras pessoas. Mas estas, Laila e seu tio César, já estavam bem longe e a salvo da explosão. Imaginou, com um sorriso de paz, a revolução vitoriosa, Laila à frente do governo que fora de seu avô. Haveria visão mais bela?
Então sua mão desceu mansamente sobre o pequeno cilindro horizontal do detonador. Que se comprovou à prova de falhas.
Uma dezena de explosões espetaculares irrompeu do solo e fez desabar todo o teto da caverna. Grande parte do morro deslizou para dentro do buraco aberto. Lá dentro, tudo e todos, fossem quem fossem esse todos, foram esmagados sob milhares de toneladas de rocha.
Findos os deslizamentos, veio o silêncio e o nevoeiro desapareceu.
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