quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O FECHAMENTO DE LIVRARIAS – 8ª. parte
Eu, o leitor BANDIDO!
MILTON MACIEL


2019. Ainda serão tempos bicudos. Agentes literários e editoras de grande porte em stand by, freadas estas pelo enorme capital que têm retido nos pantanosos débitos de Cultura e Saraiva e no encolhimento do mercado de livrarias de menor porte. Se as tiragens anêmicas pré-crise livreira já eram um complicador para todas as editoras, elevando custos e preços finais ante um mercado em retração via bolso do consumidor, o problema tende a se manter ainda. Menos capital, menos lançamentos, menores tiragens.

Mas a vida continuará, redes livreiras de médio porte e livrarias independentes sobreviverão. Ainda teremos leitores, cujo número experimentará ao menos o crescimento orgânico populacional. Ou seja, uma reação é possível.

Mas, bicudos ou não, os tempos são outros. São tempos de INTERNET e isso mudou tudo definitivamente. As vendas são cada vez mais ONLINE e os MARKETPLACES já reinam soberanos. Por outro lado, Ebooks e audiobooks, que não ocupam espaço físico de estocagem, vão cobrando consistentemente mais “espaço” aos livros de papel. E as caras instalações e elevados custos operacionais das grandes lojas livreiras ressentem-se, evidentemente, da migração dos clientes para os espaços virtuais.

VENDA ONLINE x VENDA FÍSICA: o calvário das livrarias

Vou dar um exemplo bem prático dessa transição, mostrando minhas próprias compras de livros nos últimos 2 meses (Sim, eu leio muiiito! um mínimo de 6 horas por dia. Até porque eu estudo muito e grande parte do que eu leio é material de estudo). As compras envolvem livros para meu uso e para uso na minha escola de formação de escritores em São Paulo:

Livros em papel:

NOVOS
1789 – de Pedro Dória. R$ 32,00. Compra online, retirada na Livraria Curitiba do Shopping Garten de Joinville, sem custo. Histórias da Inconfidência, integra-se à base de pesquisa para mais um romance histórico que estou escrevendo, Negra Leocádia, sobre a escravidão no século XVIII.

A Resistência – de Julián Fuks , Prêmo Jabuti 2016, melhor romance -  R$ 39,90. Compra online, retirada na loja do Garten, sem frete (Comprei dois volumes, um para mim, outro para dar de presente. Foram as únicas duas vezes em que entrei numa livraria nos últimos 2 meses).

Contra os filhos – da chilena Lina Meruane. Comprado online, da Amazon, pagando frete: R$ 32,80. Postado, ainda não chegou

USADOS  (Todos comprados online, através da Estante Virtual):

Três livros de Francisco Marins, que foi o autor mais importante da minha infância. Bateu saudade.
Os Segredos de Taquarapoca,
Nas terras do Rei Café (infantis) e
Clarão na Serra (adulto) = Total R$ 33,00 com postagem incluída.

Entre facas, algodão – de João Almino (da ABL)  – R$ 25,40, com postagem

O Quinze -  Rachel de Queiroz – R$ 17,00, com postagem (ao ler o do Almino, resolvi reler o da Rachel, mesma temática)

Contos do país dos gaúchos, de Julián Murguía –  R$ 11,95, com postagem; indicação do Zabot. Chegou hoje! Pequeno, dá para ler em 2 horas, muito bom.

Essa coisa brilhante que é a chuva – de Cíntia Moscovich, livro de contos premiado em 2012 com o Prêmio Portugal Telecom e com o Clarice Lispector (da Biblioteca Nacional). Só chega na semana que vem, estou curiosíssimo, nunca li nada dessa autora gaúcha. R$ 27,40 com postagem

O menino que comeu uma biblioteca – da Letícia Wierzchowski – Idem, curioso, só chega na semana que vem. R$ 29,30 com postagem.


Ebooks

E-BOOKS Kindle, da Amazon USA:

Empréstimo – Kindle Unlimited (pago 10 dólares por mês, fixo, débito automático na minha conta do BofA):
Política:
Fire and fury – Michael Wolff
Fear – Bob Woodward (peguei os dois para me ajudarem a detestar ainda mais o OranguTrump).

Compra
Literatura:
Walden – de Thoreau  US $ 0.00  (domínio público)
The complete works of Henry David Thoreau $ 0.64  (mais de 2000 páginas!)

Técnicos:

Finding your writer’s voice                $ 1.01
Non-fiction book template                  $ 1.03
Outsource your book                         $ 0.99
10 tips for topping romance charts    $ 0.83 

Fico esperando até um dia de grande promoção, quando os preços ficam na casa de 1 dólar só. Aí compro tudo o que dá, leio quando der. Estes quatro últimos são livros pequenos, para umas 2 a 3 horas de leitura só.

E mais:
Primary directions in Astrology: a primer - $ 5.45

E ainda peguei como AMOSTRA (os 10% iniciais do livro), para resolver se vou comprar, pegar emprestado ou dispensar:

Goal setting for writers
Time management for writers
Women who run with wolves
Bird by bird (Anne Lamott)

Então gastei $ 9.95 em compras e o equivalente a $ 2.00 em aluguel =  $ 11.95 = 44 reais em 2 meses.

E-BOOKS da KOBO Brasil

Sejamos todos feministas, da nigeriana Chimamanda Adichie – R$ 9,00
Aqueles tempos – Edney Silvestre – amostra
Carta de um defunto rico – Lima Barreto – grátis
Os Lusíadas – grátis
Nikola Tesla, biografia – grátis

A Rakuten Kobo, operada no Brasil pela Cultura, tem um monte de livros de graça muito bons. Baixei muitos deles antes de Dezembro.


E-BOOKS da GOOGLE BOOKS (Play Livros)

Memórias da Rua do Ouvidor – Joaquim Manuel de Macedo – grátis
O fantasma dos Canterville – Oscar Wilde, contos – grátis
Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente – R$ 9,80

A jornada do escritor – de Christopher Vogler (Estrutura mítica para escritores) – Amostra. Muito bom!
Sabe qual o preço? Desse e-book? R$ 47,61.
Sabe quando é que eu vou pagar isso? NUNCA! Isso não é preço para e-book, é inaceitável.
Vou esperar. Não tenho urgência. Daqui a uns meses eles tem que jogar o preço lá embaixo, não têm saída.

Agora, fazendo o resumo destes dois meses (na verdade, dezembro e janeiro até o dia 18, data da minha última compra - por enquanto:

LIVROS EM PAPEL

Novos             104,70 reais (não considero aqui o livro que comprei para dar de presente)
                        Por 3 livros novos (média: 35 reais por livro novo, só um teve frete)

Usados           144,05 reais
                        Por 8 livros usados (média: 18 reais por livro usado - o frete encarece muito)

Ebooks           62,60 reais
                        Por 16 livros + 6 amostras  (média: 3,90 reais por Ebook)
             
(Já perceberam que não existe ebook usado?! Nem sebo de ebook? Nem frete de ebook?)

Kindle             44,00 reais      9 livros mais 4 amostras
Kobo                 9,00               4 livros mais 1 amostra
Google                          9,80               3 livros mais 1 amostra
Total               62,80      por 16 LIVROS + 6 AMOSTRAS  (62,80 : 16 = 3,90)

Tempo médio de espera, entre colocar o pedido online e receber o livro EM CASA:

Livro novo
1) Comprado na Curitiba, retirado em loja, frete zero = 4 dias
2) Comprado na Amazon, frete 7 a 11 reais = 11 dias

Livro usado
3) Comprado em qualquer loja online = 11 dias

Ebook
4) Comprado em qualquer loja virtual (Amazon, Kobo, Google, etc) = 40 SEGUNDOS!



Eu comprei tudo isso de livros sem nunca sair de casa! Tudo online. E só entrei numa livraria para buscar os livros que se pode ali retirar sem pagar frete. Mesmo assim, só faço isso com a Livraria Curitiba, com a retirada na loja do Shopping Garten – exclusivamente. Por quê? Porque ali não preciso pagar estacionamento em certos dias e horários!

Eu, leitor BANDIDO!

Eu sou um bandido paras as livrarias físicas. Como leitor e comprador, não as uso como fornecedoras.
E, pior, como escritor e editor, vendo basicamente via Amazon e venda direta online da minha editora. Mesmo circuito: Internet/Ebook. Ou Internet/Correio/Livro físico.

E somos nós, esses leitores bandidos, que vamos minando cada vez mais o fôlego de resistência das heroicas livrarias físicas. Mas há milhões de leitores do papel, e, praza aos céus, eles garantirão uma sobrevida, se não longa, pelo menos razoável aos templos do papel, que continuarão partes importantes de um mercado que ainda há de encontrar um pouco de expansão – até que chegue a inexorável época da maturidade da Geração Z. Então...


ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE Ebooks:

Acho que ficou evidente por que razões eu só compro livro de papel em duas únicas ocasiões:

1 – Quando não existe o mesmo livro como e-book

2 – Quando existe, mas o preço é praticamente o mesmo do livro físico. Nesse caso não compro o ebook, que eu prefiro para ler, porque é um desaforo muito grande de vendedor/editor. O custo dele é muitíssimo menor no ebook. Prefiro pagar o mesmo no livro de papel; e mais o frete, não importa.
Claro que eu sei que isso, na maior parte das vezes, é manobra de malandro, para desestimular a venda do ebook e forçar a vendo do livro físico encalhado. Paciência.


Não uso leitor de Ebook de forma alguma – Kindle (que surgiu justo em 2007, ano em que mudei para os EUA), Kobo, Nook, etc. Só leio no celular. É o meu meio preferido desde 2010. Leitura de literatura ou de entretenimento, no celular, rende o dobro – no mínimo – da velocidade de leitura de um livro de papel. Leio muito e leio rápido em grande parte graças ao celular. Um ebook leva de 1 hora, no mínimo, até 6 horas de leitura, no máximo.

Desde 2010 estou completamente adaptado à leitura em smartphones, a ponto de perder completamente o gosto de ler em papel. O pessoal mais antigo acha isso horrível, uma verdadeira heresia, uma afronta ao sagrado livro de papel. Mas aí eu respondo que, caramba, eu sou mais antigo também, sou  um baby boomer!  Sou, tecnicamente, um dinossauro do papel.

Agora imagine só como vai ser quanto esta geração Z, estes moleques que nasceram junto com a Internet e o celular – e deles não se apartam nunca – se tornarem os grandes consumidores de livros...

Leio sempre com dois smartphones. Ambos têm os aplicativos Kindle, Kobo e Google books. Um deles fica no aplicativo, com o livro. O outro fica livre para eu consultar o google e pesquisar qualquer assunto que o texto do livro me suscita com urgência. Sempre acontece!
Lembrando que nem sempre é necessário, porque o aplicativo Kindle tem acesso à Wikipédia de dentro do texto em leitura. E tem dicionário de tudo quanto é idioma. Basta apertar três segundos sobre uma palavra e aparecem o dicionário e a Wikipédia imediatamente com aquela palavra.

Para ler um Ebook você não precisa luz acesa. Minha esposa deita às nove da noite, eu deito depois de meia-noite e leio até às 3 no celular, de luz apagada. Os aplicativos têm atenuador de luz azul, sensível à luz ambiente da noite. O do Google Livros é o mais perfeito. Fundo ocre e letra sépia são perfeitos para leitura noturna. Mas deixo-os fixos para a diurna do mesmo jeito, apenas aumento a intensidade geral da luminosidade do telefone se o ambiente do dia está claro demais. Reflexos na tela não atrapalham.

Adoro ler deitado: cama, sofá ou tapete. Livros físicos ficam pesados e desajeitados depois de alguns minutos na mão. Já um celular...
Meu livro O Cerco tem 416 páginas, meu livro Lua oculta tem 1088. Insuportáveis para ficar segurando para ler. Mas, dentro do Kindle, eles têm exatamente o mesmo peso pena – o do celular.

Tenho os aplicativos no computador também. Quando tenho que estudar um livro técnico que tem muitos gráficos coloridos, leio no computador, com o monitor de 24 polegadas, geralmente usando Kindle.

Nem todos sabem, mas é possível copiar e colar usando o Kindle for PC. Basta destacar o texto e já aparece a opção copiar. Aí é só colar num Word ou similar. Não é prático, ninguém vai fazer isso para um livro inteiro, embora, depois de feito, o texto possa ser editorado e impresso em quantidade, gerando um edição pirata. Mas é claro que não vale a pena pensar nisso, pois, além de imoral, os textos de Ebooks estão bem protegidos pela lei.

Eu copio e colo certos trechos de livros técnicos e faço pequenas pastas em formato A4 com esse material, para fins de estudo somente, principalmente quando é material para ser compartilhado em discussão técnica com outras pessoas.

É muito comum que Ebooks tenham muitos links, através dos quais você pode saltar instantaneamente para outros textos e sites. Obviamente, os livros físicos não têm essa possibilidade, embora seja possível usar neles imagens com código QR para serem lidas por celular e permitir assim acesso a outros sites, um percurso bem mais trabalhoso que o do Ebook.

Por fim quero lembrar que sou editor de livros de papel. Curvo-me à exigência da parcela, por enquanto ainda maior, do mercado que, por ter aprendido a ler no suporte papel, ainda vai exigi-lo por um certo tempo. Viva o papel, viva a tela! 

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