MILTON MACIEL
Haverá, qual este, olhar que tanto amor traduza
E suspiros tão fundos quais saem do meu peito?
E no entanto é o teu de tão duro aço feito,
Que a mim tu ignoras, narcisística e confusa.
Em vão te dou meu tempo, meu amor e minha fé,
Que fez de ti a deusa que em qualquer lugar cultuo.
E, súplice aos teus pés, me consumo, me destruo,
Definhando no deserto que esta minha vida é.
Perversa, tu me usas e eu te sirvo entre suspiros,
Teus desejos, minhas ordens; teu olhar, minha aflição;
E teus pensamentos me sujeitam, quais vampiros.
Transido em minha dores, procuro por teus olhos
Buscando, a todo instante, teu olhar de aprovação.
Em vão! E eu soçobro, nau partida entre os escolhos...
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