sábado, 15 de outubro de 2016

O OLHAR DA PROFESSORA   
MILTON MACIEL  (Como posto em todo 15 de outubro)

Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!

 (Um preito de gratidão a todas as heroínas e heróis que, através da mais dura realidade diária, imolam suas vidas na ara de sacrifício do ensino público brasileiro, construindo, às custas de si mesmos, a sobrevivência e o futuro de um país em que, mesquinhos e ingratos, governadores e prefeitos insistem covardemente em lhes seguir voltando as costas):

O OLHAR DA PROFESSORA

Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!

As pilhas a subir:
São roupas pra passar,
São louças pra lavar,
Provas pra corrigir!
E filhos a exigir,
Marido a reclamar,
Ninguém para ajudar,
Quem pode resistir?!

Alunos revoltosos, preguiçosos, barulhentos,
E, de uns anos para cá, cada vez mais violentos.
A sala de aula pobre, desprovida, abandonada,
E com risco de ser, mais uma vez, interditada.

Tristonho e angustiado, o olhar da professora,
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Da escola que se afunda, em decadência lenta,
Nas mãos da gestão pública, inepta e/ou fraudulenta.
E pensa no absurdo, o paradoxo tão profundo:
Economia: Sexta. Educação: Terceiro... Mundo!

O que fazer, então,
Se essa é sua profissão?
Se pra ganhar a vida
Foi essa a escolhida
Por sua vocação?
E se somente ela,
Em que pese a mazela,
Lhe fala ao coração?

Então, mais uma vez, o olhar da professora,
Procura ver além da imagem assustadora.

Tem a vida pra levar,
Tem filhos pra criar,
Não pode desistir,
Forçoso é resistir.
Tem que continuar:
Tantos a precisar
Da sua resistência,
Da sua eficiência
Da sua devoção,
Da sua imolação!

E, cheio de esperança, o olhar da professora,
Mais uma vez contempla a visão alentadora:
Um futuro diferente, em que outras criaturas
Poderão levar em frente jornadas menos duras:

As novas professoras, de uma nova geração
De crianças, tendo enfim, no Brasil uma Nação.
Ela compreende que não sonha, apenas, tal futuro,
Mas que o constrói, a cada dia, com seu trabalho duro.

E que, para educar, ela não mede sacrifício,
Pois essa é a dor e a glória do seu Sagrado Ofício.  (MM)

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