sábado, 29 de outubro de 2016

TEUS DESEJOS, MINHA ORDENS
MILTON MACIEL

Haverá, qual este, olhar que tanto amor traduza
E suspiros tão fundos quais saem do meu peito?
E no entanto é o teu de tão duro aço feito,
Que a mim tu ignoras, narcisística e confusa.

Em vão te dou meu tempo, meu amor e minha fé,
Que fez de ti a deusa que em qualquer lugar cultuo.
E, súplice aos teus pés, me consumo, me destruo,
Definhando no deserto que esta minha vida é.

Perversa, tu me usas e eu te sirvo entre suspiros,
Teus desejos, minhas ordens; teu olhar, minha aflição;
E teus pensamentos me sujeitam, quais vampiros.

Transido em minha dores, procuro por teus olhos
Buscando, a todo instante, teu olhar de aprovação.
Em vão! E eu soçobro, nau partida entre os escolhos...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

AGORA ELA VAI VOLTAR   - SAMBA
MILTON MACIEL  - Letra e Música

RECORDANDO o 9 de janeiro de 2015:
Hoje tive a felicidade de receber em casa o talentosíssimo músico paulista FIO JOSÉ (foto). Trabalhamos duro e no meio da tarde já tínhamos as duas primeiras gravações deste samba que compus apenas dois dias atrás. Na voz privilegiada de Fio José e com sua primorosa execução ao violão e ao cavaquinho, "AGORA ELA VAI VOLTAR" ganhou sua perfeita roupagem de samba autêntico.
AGORA ELA VAI VOLTAR – samba
MILTON MACIEL (letra e música)
É hoje que eu tô feliz,
Tô feliz,
Tô feliz!
Agora ela vai voltar,
Vai voltar,
Vai voltar!
É hoje que eu tô feliz,
Tô feliz,
Tô feliz!
Agora ela vai voltar,
Vai voltar,
Vai voltar!
A nega ficou injuriada,
Com tanta presepada,
Que eu aprontei por aí.
Arrumou os seus teréns,
Foi, me disse parabéns,
Me deixou sozinho aqui.
Confesso fiquei na pior,
Eu sofri barbaridade,
Bebi pra ficar na melhor,
Mas descobri a verdade:
Cachaça não mata saudade,
Cachaça não mata saudade,
Cachaça não mata saudade,
Cachaça não mata saudade...
Só que ela também penou,
Ficou sem o seu chamego,
Sentiu falta do seu nego,
Resolveu me perdoar.
Também bateu nela a saudade,
Saudade é coisa que arrasa,
E tá voltando pra casa.
E tá voltando pra casa,
E tá voltando pra casa,
E tá voltando pra casa,
E tá voltando pra casa.
É hoje!
É hoje que eu tô feliz,
Tô feliz,
Tô feliz!
Agora ela vai voltar,
Vai voltar,
Vai voltar!
É hoje que eu tô feliz,
Tô feliz,
Tô feliz!
Agora ela vai voltar,
Vai voltar,
Vai voltar!
FOTO: Fio José no cavaquinho e Alan no pandeiro. Muito talento reunido.

sábado, 15 de outubro de 2016

O OLHAR DA PROFESSORA   
MILTON MACIEL  (Como posto em todo 15 de outubro)

Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!

 (Um preito de gratidão a todas as heroínas e heróis que, através da mais dura realidade diária, imolam suas vidas na ara de sacrifício do ensino público brasileiro, construindo, às custas de si mesmos, a sobrevivência e o futuro de um país em que, mesquinhos e ingratos, governadores e prefeitos insistem covardemente em lhes seguir voltando as costas):

O OLHAR DA PROFESSORA

Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!

As pilhas a subir:
São roupas pra passar,
São louças pra lavar,
Provas pra corrigir!
E filhos a exigir,
Marido a reclamar,
Ninguém para ajudar,
Quem pode resistir?!

Alunos revoltosos, preguiçosos, barulhentos,
E, de uns anos para cá, cada vez mais violentos.
A sala de aula pobre, desprovida, abandonada,
E com risco de ser, mais uma vez, interditada.

Tristonho e angustiado, o olhar da professora,
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Da escola que se afunda, em decadência lenta,
Nas mãos da gestão pública, inepta e/ou fraudulenta.
E pensa no absurdo, o paradoxo tão profundo:
Economia: Sexta. Educação: Terceiro... Mundo!

O que fazer, então,
Se essa é sua profissão?
Se pra ganhar a vida
Foi essa a escolhida
Por sua vocação?
E se somente ela,
Em que pese a mazela,
Lhe fala ao coração?

Então, mais uma vez, o olhar da professora,
Procura ver além da imagem assustadora.

Tem a vida pra levar,
Tem filhos pra criar,
Não pode desistir,
Forçoso é resistir.
Tem que continuar:
Tantos a precisar
Da sua resistência,
Da sua eficiência
Da sua devoção,
Da sua imolação!

E, cheio de esperança, o olhar da professora,
Mais uma vez contempla a visão alentadora:
Um futuro diferente, em que outras criaturas
Poderão levar em frente jornadas menos duras:

As novas professoras, de uma nova geração
De crianças, tendo enfim, no Brasil uma Nação.
Ela compreende que não sonha, apenas, tal futuro,
Mas que o constrói, a cada dia, com seu trabalho duro.

E que, para educar, ela não mede sacrifício,
Pois essa é a dor e a glória do seu Sagrado Ofício.  (MM)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

ASSINTO  QUE VOCÊ PARTA  
MILTON  MACIEL

Assinto que você parta.
Ah, sinto você de mim tão farta!

Assente fique que eu compreendo.
Ah, sente meu coração, sofrendo
o acento lúgubre de sua ausência.
Assento então a minha resistência:

Hei de sobreviver...
Mas, não, viver.
Não mais vir ver
seu rosto amado,
será meu fado,
meu desencanto,
E tudo quanto
Eu receber
Será inclemência,
dor, penitência,
horror, espanto.

Assinto que você parta!
Assente fique que eu compreendo...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SUA  BONDADE, SEU AMOR, FORAM TAMANHOS!
MILTON MACIEL

Ergui-me a custo, escarnecido, da poalha
Onde tombei, completamente derrotado.
Aprisionou-me um olhar verde, agateado,
Não resisti, vencido fui, joguei a toalha.

Ao dar por mim, já estava atado em suas amarras
E só então me descobri preso à ilusão:
Suas suaves mãos eram de fato duras garras,
Com que a felina agatanhou meu coração.

Então penei,
De amor sofri.
Dentro morri,
Em vão me dei.
E compreendi:
Só eu amei!

E, ao dar por mim, já era um lasso peregrino,
Que tateava, em vão, em busca de um caminho.
Por muito tempo pelo mundo andei sozinho,
Como se fosse só um joguete do destino.

Até que um dia, por meus caminhos estranhos,
Aconteceu-me algo notável de verdade:
Eu renasci, ao ver um par de olhos castanhos
E foi por eles que encontrei felicidade.
Sua bondade, seu amor, foram tamanhos,
Que outra vez voltei a crer na humanidade!

Então eu cresci, 
no Amor me encontrei.
E, quando me entreguei,
RENASCI.
É Puro encanto. E Alegria.
Com ela é feliz... 
QUALQUER DIA !

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ANGÉLICO INFINDO AMOR 
MILTON  MACIEL 

Chegou o Amor, inebriante, capitoso,
Quando eu errava pelo ervaçal da vida,
Amargurado, tendo a alma destruída,
Desfeita em pó, num percurso desastroso.

Foi quando, à beira de um regato murmoroso,
Eu avistei a mais incrível criatura,
Deitada ao sol, qual helênica escultura,
Tudo ofuscando, com seu brilho majestoso.

Era estonteante, a mais fantástica visão,
Que me foi dada nesta vida contemplar.
Ela se ergueu e então eu vi em seu olhar
Que ela seria a minha própria redenção.

Sorriu-me a musa, estendeu-me a bela mão,
Que tomei trêmulo, nas minhas, vacilante.
Surreal, a luz, que nascia em seu semblante,
Me penetrava, abrindo a mente e o coração.

Os rubros lábios continuavam descerrados,
Ela sorria... e era como se falasse!
E eu compreendia, sem que ela articulasse
Nada com a boca de alvos dentes nacarados.

Seus pensamentos permearam-me a consciência
E então eu soube que por ela era esperado.
E compreendi que meu lugar era a seu lado
E que ela há muito padecia minha ausência.

Só então pude entender completamente
Que eu não era, na verdade, um ser humano.
Por tanto tempo estive imerso nesse plano
Que acreditei ser um deles realmente.

A criatura iridescente à minha frente
Logrou, por fim, expandir a minha mente.
Eu soube que ela era um anjo e eu tinha sido
Por longo tempo, na Terra, um Anjo Caído.

Meu peito quase explodiu bem no momento
Em que entendi quem era a anja revelada:
Nada menos que a minha esposa amada,
A quem perdi – força de um Mau Encantamento.

Vaguei por décadas na Terra como humano,
Entregue ao mundo deletério das paixões!
Meu ser perdido nas mais torpes ilusões.
E crer-me homem foi o meu maior engano.

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Ela me disse: Bem-vindo!
E eu me senti em casa.
Então beijou-me: Flutuei,
Como se tivesse asa.

Subindo alto notei
Que, de fato, eu tinha asa.
E ela voava comigo,
Me conduzindo pra casa.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

ERA UMA NOITE DE INFINDÁVEIS VERSOS
MILTON MACIEL
Era uma noite de infindáveis versos.
Tudo pulsava - da Terra ao Infinito.
Crescente-cheia a Lua resvalava
Pelo azul-negro, qual ardente lava,
Fazendo o céu ainda mais bonito.
Pelo ar, aromas suaves e dispersos...

Era uma noite de infinita espera,
De suaves luzes, morna calmaria.
Ante as estrelas, nuvens deslizavam
Em suaves tufos que se desmanchavam,
Ante a galáxia que tremeluzia,
Aos sons furtivos de uma outra Era.