quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


CONFISSÕES DO FIM DO MUNDO   
MILTON   MACIEL   

O mundo vai acabar amanhã, 21 de dezembro, não sei a hora local. Contudo, para não passar para o outro lado (pois eu acredito que exista um outro lado!) cheio de pecados, resolvi fazer aqui as minhas confissões, para poder transitar para lá de alma pura.

Para minha sogra confesso: fui eu quem esvaziou os quatro pneus do seu carro naquela noite em 1999, na entrada do túnel Rebouças. E botei a culpa naqueles moleques, lembra? Que moleques? Ora, os que te assaltaram, não é?

Para minha primeira esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela seria a minha segunda esposa. Você estava certa, mas eu sempre neguei.

Para minha segunda esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela que seria a minha terceira esposa. Idem, idem.

Para minha terceira esposa, confesso: Sim, eu traía você com a minha primeira esposa, então já minha primeira ex. Idem, idem.

Para minha terceira esposa, confesso: Sim, eu acho você gorda! Gordaaaa! Gordíssima. Uma baleia. Mas eu minto, dizendo que não me importo. Bem, confesso que agora eu não me importo muito porque... Bom, sabe a sua priminha de Fortaleza, a Marilda, que está passando uma temporada conosco... Sim, sim: esta é mesmo mais uma confissão!...

Para o meu chefe confesso: Sim, eu tentei conquistar sua filha. Mas seu irmão mais novo já estava na parada faz tempo, não deu jeito. Dê um aperto nele: se o seu irmão também achar que o mundo acaba amanhã, ele confessa.

Para meu confessor, Padre Onésio, confesso: Perdão, Padre, porque pequei: sua “protegida” Maricotinha também me recebia nas noites de 4ª. feira, antes que o senhor chegasse.

Para minha ex-colega Altamira e para meu chefe confesso: Não, não foi Altamira quem soltou aquele terrível pum no elevador naquela noite fatídica, o que resultou em sua sumária demissão. Eu a acusei e todos acreditaram. Na verdade, o culpado fui eu.

Para a minha seguradora confesso: Sabem o carro que deu perda total em Março passado e você me pagaram o valor de um novo? Pois bem, eu armei tudo e joguei o bicho contra o poste. Pulei antes, é claro. Não, não me machuquei, não se preocupem, treinei bastante antes, sabe como é.

Bom isso é que existe de mais leve. O resto é muito feio, muito mais feio mesmo, algo que até um cara de pau como eu tem vergonha de confessar de público. Mas isso tudo eu já confessei para o Padre Onésio ontem, na tarde de quarta-feira, antes de precedê-lo nos doces mistérios de Maricotinha. Coitado, acho que ele deve estar em choque até agora! Só não confessei nossa sociedade de responsabilidade limitada (a ele, que entra com a grana e o apartamento), o que tenho a hombridade de fazer aqui e de público hoje.

Agora vou para casa, vou começar a rezar. Pela minha alma? Não, vou rezar para que de fato aconteça o fim do mundo amanhã.

Porque, se não acontecer a hecatombe universal, depois de todas as confissões que eu fiz aqui e ao Padre, eu estou é LASCADO!

Assinado: Ricardo Guarani-Kaiowá Lewandowski Barbosa Cachoeira
(Sim, Ricardão para as íntimas, isso mesmo!)
FELIZ FIM DO MUNDO AMANHÃ!  
MILTON MACIEL

MILTON  MACIEL

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Another Leaf Down

JULIANO RIECHELMANN MACIEL

Is the flesh ignorant of the frailty of the bone?
Maybe pain is like a comfort - there is some -
for those too deluded to focus on things clear.
Attention is a vagrant wing at wind's shear,
lunacy is its repose - doomed whom feel it done.

Enduring graces are rare; feints steadily come.
It's hard to see the mirage when one's alone,
Yet easy to fall blind if one's companies bear:
Acrowd, if laugh dissolve into a tear;
Alone, if Gods turn me into stone.

http://eskideletras.blogspot.com.br 

EMAGREÇA COM A DIETA DA OMELETE
MILTON MACIEL

Eu era gordinha, porém,
Um dia eu vi na Internet:
“A dieta que lhe convém
É a dieta da omelete.”

Adoro ovo, vibrei:
Agora que eu emagreço!
A dieta, então, comecei,
Super crente no sucesso.

“Você precisa trocar
Qualquer refeição por ovo.
Café, almoço e jantar,
Sempre omelete de novo.”

Depois de um mês de omelete
Não há cristo que não canse.
E a história então se repete:
C’est fini la contredanse!”

Larguei da dieta, carente:
Quero uma pizza quentinha!
Enjoei de ovo pra sempre,
Não posso ver nem galinha...

E o resultado, adivinha:
Eu não fiquei gostosona;
Antes eu era gordinha.
Pois, agora, eu sou... GORDONA!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012


COMO DEIXAR DE SER CIUMENTA E POSSESSIVA
MILTON MACIEL

Marlene era a Moura de Veneza Brasileira. Explico: Marlene era mais ciumenta que dez Otelos e morava em Recife, a Veneza Brasileira. Era casada há pouco mais de cinco anos com Antonio Carlos, funcionário burocrático da Petrobrás.

Do marido de Marlene as pessoas sabiam essencialmente duas coisas; que ele era Peixes-Peixes e que era a vítima perfeita. A primeira coisa só fazia sentido para os versados em Astrologia; já a segunda era axiomática, ou seja, evidente por si mesma. Não havia, em toda Recife, quem já não houvesse testemunhado, pelo menos uma vez, alguma das furibundas cenas de ciúme de Marlene.

Na rua, um verdadeiro suplício. Antonio Carlos tinha aprendido a andar de olhos baixos, era mais prudente. Bastava que uma mulher minimamente atraente viesse em sentido oposto e os olhos de Marlene já se punham, vigilantes, sobre os olhos do marido. Se este fizesse qualquer menção de ter notado a sirigaita, lá vinha um daqueles dolorosos beliscões no braço. Com o tempo ele deixou de reclamar, era inútil. Doía-lhe na alma, muito mais do que no corpo.

Antonio Carlos pertencia a uma espécie ameaçada de extinção, que deveria ser tombada pelo Patrimônio Público e protegida pelo IBAMA: ele era o marido fiel de Pernambuco! Sim, por incrível que pareça, Antonio Carlos não tinha apenas medo de Marlene: ele a amava de verdade. Por isso agüentava seu cilício bravamente e tentava desculpá-la com os outros. Passava por inúmeros vexames, cenas de ciúme antológicas, nas quais Marlene o acusava publicamente das piores coisas, tipo “Você não presta mesmo”, “Os homens são todos iguais”, “Faz essa cara de santo, mas é um lobo em pele de cordeiro”, “Olha outra vez praquele espelho que eu vou lá e arrebento aquela vaca”. E, claro, coisas ainda piores, não mencionadas porque impublicáveis aqui, que brotavam da boca santa de Marlene, quando ela disparava seu alentado repertório de palavrões.

Várias vezes ela partiu para agressão a outras mulheres, as que ela achava que estavam olhando demais para o homem dela. Começava xingando e aí, conforme fosse a reação da outra, o coisa podia acabar até numa Delegacia de Polícia.

Depois de cinco anos assim, Antonio Carlos evitava ao máximo sair com a mulher. Restaurantes, nem pensar. Como também não podia sair com amigos (‘Todos uns sem-vergonhas, uns sem-caráter, uns putanheiros!”), resignava-se a ficar em casa, o mais das vezes na companhia de Sapeca, uma cadela vira-lata de porte médio, que o adorava. Assistiam televisão juntos, abraçados, todos os dias, sempre que isso era possível. Pois bastava Marlene estar por perto que a cadela sumia. Também ela tinha aprendido a respeitar o perigo e a ojeriza era recíproca. Sapeca viera com o casamento, já pertencia a Antonio Carlos antes. A sua presença em casa era uma das poucas concessões que Marlene fazia ao marido, apesar do ciúme que sentia do animal.

Então a vida de A.C. se resumia a um simples de casa para o trabalho e vice-versa. Ia de carro e Marlene lia o odômetro todos os dias, para conferir a quilometragem que ele fazia. Os amigos o apelidaram de A.C. por que isso lembrava Antes de Cristo e eles diziam que só alguém que tinha algo de Cristo podia agüentar a vida braba que ele levava com Marlene.

No trabalho é que morava o perigo (“Ah, ali tem dezenas de vagabundas, uma putas de saias curtas, com os peitos e as bundas quase saltando pra fora da roupa, umas oferecidas.”) É claro que deviam fazer carga em cima do homem dela. Mas aí era o único lugar onde Marlene sentia firmeza. É que, no mesmo escritório da Petrobrás, trabalhava Silvinha, sua prima-irmã, unha e carne com ela desde o ginásio.

Silvinha era a encarregada de vigiar Antonio Carlos e manter as outras funcionárias – “Todas as outras, viu! Aquilo é uma récua de putas que não merece a menor confiança!”– bem afastadas do marido da prima. Umas três vezes por semana Marlene ligava para a carcereira, e cobrava o relatório completo do comportamento “daquele cínico” (“Os homens são todos uns cínicos, minha filha, não se iluda.”).

Examinar todas as contas de cartão de crédito, os contra-cheques de pagamento e as contas bancárias do marido era fichinha. Ela também fazia uma marcação cerrada nas contas de celular. E também o mais minucioso exame policial nas roupas do marido. Punha tudo sob luz forte e examinava com lupa. O nariz, pela prática diária, desenvolvera o faro afiado de um sabujo. E, se Antonio Carlos tivesse coragem de colocar ratoeiras nos bolsos de suas roupas no armário, há muito tempo que Marlene não teria mais nenhum dos dedos das mãos.

No trabalho, Antonio Carlos só tinha dois amigos. Um era o Padilha, seu chefe, solteirão convicto, que todo dia enchia a orelha do amigo de ferozes catilinárias contra o casamento e contra o que chamava de “a psicopata da tua mulher”. A outra pessoa amiga era justamente Silvinha, que morria de pena do pobre marido “da louca da minha prima”. Ela simplesmente não se dava ao trabalho de vigiar um homem que sabia ser completamente fiel à esposa. Claro que muitas funcionárias o assediavam, afinal ele era um homem muito bonito. Mas não tinham a menor chance, ela o sabia. Mas não relatava nada disso à prima, senão ela viria fazer escândalo no escritório e prejudicaria a carreira do rapaz.

E assim transcorria a vida do pobre Antonio Carlos, a vítima perfeita, Peixes-Peixes sofredor. Amigo, só o Padilha; amigas, só Sapeca e Silvinha, nessa ordem para ele. A eles é que Antonio Carlos tinha coragem de confidenciar suas dores e mágoas, as injustiças que sofria, os poucos carinhos e a pouca cama que recebia da esposa, sempre de cara fechada, sempre desconfiada e pronta para armar uma encrenca em casa por causa de ciúmes “de um cínico que nem você”.

Marlene tanto fez que um dia encontrou o que queria. No bolso do paletó do marido, uma tirinha fina de chicletes, com um inconfundível perfume de mulher. Ah, a prova enfim! Os homens eram todos iguais mesmo! Excitada e trêmula, ligou para Silvinha e deu o serviço. A prima pediu um tempo para investigar, só podia ser uma mulher ali da firma. Precisava de uns dias.

Enquanto isso, Marlene começou a elucubrar sua vingança. Correu para a feira-livre, que acontecia naquela manhã a dois quarteirões de sua casa, e levou duas enormes facas de cozinha para afiar “como navalha, entendeu?”, numa das bancas de serviços. Enquanto esperava, sua mente não tinha sossego: Esta noite, depois que ele dormir, eu pego e tchac! Corto tudo de um golpe só! Na volta para casa lembrou, porém, que não podia ver sangue, desmaiava na hora. Guardou as facas na cozinha, seriam úteis em algum churrasco no futuro. Álcool! Isso: “Ele dormindo, ensopo as coisas dele de álcool e risco um fósforo. Adeus bagos, seu traidor duma figa! Queima, maldito!”. Foi ao supermercado e comprou uma garrafa de álcool.

Mas, já em casa, lembrou que a cama também ia pegar fogo. E o quarto. E o apartamento também. Aí não só ela perdia o imóvel que arrancaria do traidor capado a fogo, como o prédio todo poderia arder e ela iria em cana como incendiária. Precisava de um plano C.

Podia conseguir uma arma de fogo com o porteiro da noite, ele já havia oferecido mais de uma vez armas ilegais ao casal. Mas ela morria de medo de revólver, do barulho, tinha pavor da idéia de atirar. Não, não, não. Plano D: Veneno! Ah, isso sim! Ia nos livros de Agatha Christie, relia, procurava um veneno que não deixasse vestígio e... E, caramba, onde e como conseguir comprar o raio do veneno?!           Puxa, ela nunca tinha imaginado que fosse tão difícil capar ou matar um marido traidor.

O telefone! Era Silvinha. A prima recomendou que ela tivesse calma, muita calma, precisava ter sangue frio agora. “Sabe como é, vingança é um prato que se come frio. Finja, minha cara, finja. Trate ele bem, como se não houvesse nada. Eu garanto que vai valer a pena, pode acreditar em mim. Espere até eu lhe dar notícias, não faça nada antes.”

Estranhamente, as palavras da prima tiveram o efeito de acalmá-la. Quando o marido chegou, observou-o atentamente com outros olhos. “Meu Deus, como ele está bonito hoje, mais bonito ainda! E cansado, é, está com cara de cansado. Não, isso é cara de triste! Ele está muito triste. Será que está com remorsos, o safado? Duvido. Pensando bem, acho que ele tem sempre essa cara de triste, de cansado. Também, Peixes-Peixes!”

Pouco falaram naquela noite. Uma das poucas coisas que Antonio Carlos disse, com uma tristeza infinita, foi:

– Sabe, a Silvinha pediu transferência hoje, o Padilha concedeu, ela vai embora para o Rio de Janeiro. E já vai amanhã mesmo...

Marlene ficou sem entender, esperou o marido ir para o quarto e começou a caçar a prima no celular. Inútil estava desligado. Deixou zilhões de recados. Depois, foi para a cama; ele dormia ou fingia dormir, ela quase não conseguiu ter sono, acabou dormindo uma três horas, entremeadas, porém, de sonhos tenebrosos.

No outro dia de manhã, depois que Antonio Carlos saiu para o trabalho e enquanto ela própria se preparava para ir para o seu, recebeu a carta. Das mãos do porteiro. “Aquela sua prima deixou aqui comigo, estava num táxi cheio de malas, acho que vai viajar.” Marlene virou o envelope branco. Era mesmo de Silvinha. O que leu, a fez cair das nuvens:

“Marlene, sua louca, sua idiota, sua debilóide!

O Antonio Carlos tem uma amante sim. Faz cinco meses, sua anta! Você já vai saber quem é ela. Sabe, o coitado foi fiel a você por quase cinco anos, agüentou todas as suas loucuras, todas as humilhações, perdeu o amor-próprio, foi ficando cada dia mais infeliz. Você acabou com ele, sua estúpida, você é um caso pra hospício, sua maluca!  Pois saiba, imbecil, que eu nunca, nunca mesmo, fiquei vigiando ele pra você! Não precisava, sua indecente, esse homem era fiel e sempre te amou demais. Nunca teve olhos para outra mulher. Mas só eu sei o quanto ele sofria, ele só se abria era comigo e com o Padilha – que, aliás, te odeia! Eu também te odeio, maldita!

EU sou a amante do Antonio Carlos! EU! Sabe, de tanto ver ele sofrer por sua causa, de tanto ouvir ele chorar – chorava mesmo, ali na mesa do barzinho ao lado da firma, a gente saía um pouco mais cedo para que ele pudesse desabafar. O Padilha é o chefe dele, permitia, e disse que, se ele não botasse pra fora todo o fel que você enfiava nele goela abaixo, todo santo dia, o homem podia ter um infarto e morrer bem moço, 35 anos! Também, ninguém pode agüentar o inferno de viver ao seu lado, sua débil mental. O Padilha diz que você é uma psicopata e que, se tivesse coragem, estourava essa sua cabeça suja com um tiro de 45.

Eu fui aprendendo a gostar cada vez mais do Antonio Carlos, acabei me apaixonando por ele. Então um dia eu dei um porre nele. O coitado ficou ruinzinho. Aí eu botei ele no meu carro e disse que ia levar pra casa de vocês. Ele implorou que não, que se você o visse bêbado ia infernizar ainda mais a vida dele. Lembra que você o proibiu de beber qualquer coisa com álcool, sua víbora? Pois então eu o levei para a minha casa e o coloquei no chuveiro. Eu tirei toda a roupa dele, sua corna! Todinha! Dei um banho gostoso nele, todo peladinho. Aí eu não agüentei, tirei toda a minha roupa também e praticamente estuprei o cara ali no chuveiro. Como é que ele ia resistir? Você sabe que eu sou muito mais bonita que você; e muito mais gostosa de corpo do que você, sua balofa.

A gente saiu do banheiro, caímos molhadinhos na cama e a coisa foi muito legal, muito legal mesmo. Maravilhosa! Ele se soltou por inteiro, me amou como homem nenhum fez comigo antes. Ele é um artista, priminha! E você desperdiçando um espetáculo de homem como esse, sua anta! Bom, aí sabe como é, porteira que passa um boi, passa uma boiada. A gente continuou a se encontrar aqui em casa. Sabe como, sua pateta? Pois o Padilha, o nosso chefe, nos dispensava mais cedo pra gente vir pra minha casa transar. Transar gostoso, sua trouxa! Pra você ver o ódio que o Padilha tem de você e que eu tenho também, seu monstro, por tudo que você fez com o coitado do Antonio Carlos. Sabe, eu era sua amiga antes, gostava de você de verdade. Mas agora eu te odeio mesmo, sua jumenta.

Só que tem um problema: o Antonio Carlos não consegue deixar de amar você, sua maldita. Isso não dá pra acreditar, o homem gosta mesmo é de sofrer, é bem Peixes-Peixes mesmo. Não tem um dia em que ele não se derreta de culpa por ter um caso comigo, agora ele chora é de remorsos. Mas aí o Padilha e eu convencemos o tonto que ele tem mais é que se vingar de você também, dar o troco de toda essa sua maldade. E eu vou me insinuando, me insinuando, passando a mão, sabe como é homem, não é? Aí ele não agüenta e eu me delicio.

Mas agora chega. Eu estou apaixonada demais por ele e ele não consegue me retribuir, continua amando você, sua anaconda asquerosa. Então chega, eu vou embora, me livrar dessa paixão inútil. E você faça bom proveito da sua carniça, seu abutre, corvo nojento, pra mim chega! Eu é que não vou ficar mais à disposição de um homem fraco e masoquista. Pois é isso que é a relação de vocês, puro sado-masoquismo, você a sádica que adora fazer sofrer, ele o masoquista que adora ser a vítima. A vítima perfeita, como diz o Padilha. Bem Peixes-Peixes mesmo! Ora, vão vocês dois pros quintos dos infernos, vocês se merecem! Você continue a sugar o sangue dele, sua harpia. E ele que continue o mesmo songa-monga, pois só um anormal pode conviver com você e ainda dizer que a ama.

E, do mais fundo do meu coração, desejo que você morra podre, aos berros, envenenada pelo seu próprio veneno, sua jararaca, sucuri, surucucu. E vê se morre logo, pára de infectar o mundo com tua presença, vampiro maldito!

Mas, se demorar a morrer, porque vaso ruim não quebra, então vê se se cura desse ciúme doentio que você sente, sua anormal. Se interna no hospício, pede choque elétrico, uma lobotomia é melhor. E aproveita que eu te dei o único remédio que pode curar o ciúme e a possessividade. O único na face da Terra! Um remédio que sempre tem que ser tomado em DOSE DUPLA. Sabe qual é o nome dele?

Pois é PAR DE CHIFRES! Vá pro inferno, sua corna!”

Marlene não foi trabalhar, saiu para a rua a pé, caminhou horas e horas como um zumbi, enfiou-se num cinema e assistiu o mesmo filme duas vezes e meia, sem ter a menor idéia do que via. Quando chegou em casa, no fim do dia, Antonio Carlos já estava na sala. Ouvia uma música de Chico Buarque, Marlene entrou na parte que dizia:

“Te perdôo por te trair...”

Ele tinha os olhos vermelhos de chorar, abriu o jogo, contou tudo a ela em poucas palavras e esperou a hecatombe universal. Marlene não disse nada. Voltou a música para o início, ouvia-a toda até o final. Depois falou apenas isto:

– Preciso de um tratamento, de um psiquiatra. Me ajuda a arranjar um?

E foi se trancar no banheiro, até ter certeza que o marido dormia. Amanhã seria um novo dia, iria procurar ajuda. Será que ainda podia salvar seu casamento? Será que era verdade que Antonio Carlos ainda a amava, apesar de tudo? Pensou no irônico da situação toda: a única mulher em quem confiava, a única de que não tinha ciúmes apesar de sua beleza e juventude, sua prima querida, é que a havia traído com seu marido.

O mais chocante para ela é que, exposta à dura realidade que a carta de Silvinha apresentava, sua reação fora apenas de choque. Nem um pingo de raiva, de idéia de vingança, nada. No fundo, não conseguia nem querer mal a Silvinha. Ainda pensava nela com carinho. Sim, aquela carta talvez viesse a ser o começo de uma nova vida para ela. E, se fosse, ainda teria que ser grata à prima, pela carta e por tudo o mais. Era uma nova Marlene que começava a renascer ali das cinzas, no exíguo espaço daquele banheiro. Na sua cabeça, incessante, a letra da composição de Chico:

“Te perdôo por te trair...”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


MINHA  LIRA  
MILTON  MACIEL   

A minha lira é canhestra,
Não é antiga, nem nova.
Não é sinistra, nem destra.
Suave lírica, simples trova.

Minha lira é nostalgia
De um tempo que nem chegou.
É o pio agourento do grou
E a mais suave melodia.
Com ela eu celebro o amor,
Ou o suicídio é que canto.
Ela é o caminho do espanto
E a oblação do destemor.

Não receia ser julgada,
(Por aquilo em que ela prima),
Démodé ou antiquada:
Pois não abre mão da RIMA.

Rimar é bem mais complexo
Pois há que manter o nexo
E, da métrica, o compasso
Coerente, passo a passo.

Demanda mais sincronia,
Mas vale manter a meta:
A poesia mais completa,
Rimada e metrificada,
É a MÚSICA falada...
Tem valor de melodia!

sábado, 15 de dezembro de 2012

CUIDADO, AMIGAS E AMIGOS: TABELA ERRADÍSSIMA! E PERIGOSA...  

MILTON MACIEL 

    Está sendo postada e retransmitida no Facebook uma tabela de proteínas em vegetais COMPLETAMENTE ERRADA. Como essa é minha área de atuação profissional e como detesto ver minha amigas e meus amigos do Face sendo induzidos a erro, resolvi interferir, publicando uma tabela CORRIGIDA. Sugiro a quem já tenha entrado nessa “onda” e repostado a tabela errada, que tenha a humildade e a ética de repostar a tabela correta. Pois a tabela errada pode PREJUDICAR muitas pessoas, que, acreditando que esses vegetais têm esses teores absurdamente altos de proteínas (todos eles têm mais de 90% só de ÁGUA!), podem descuidar de sua alimentação correta. Isto pode ser ainda MAIS GRAVE para os vegetarianos neófitos e para os que estão em fase de transição para o vegetarianismo, pois podem ser induzidos a um gravíssimo erro em suas dietas.

A tabela original é de um certo THEGIVEPROJECT.ORG. Pois eu DUVIDO que ela Se refira, na origem, ao teor total de proteínas nesses vegetais. Possivelmente, no COPIA/ALTERA/COLA da nossa Internet, alguém resolveu adaptar ao português e atribuí-la a proteínas nesses vegetais, em comparação com carnes e ovos.    Daí a comédia dos enganos foi se repetindo, cada vez que uma pessoa ou organização sem conhecimentos teóricos e práticos de nutrição – ou seja, a maioria da população, graças a Deus, com todo o direito, cada macaco no seu galho – foi mandando adiante essa malfadada tabela adaptada. 

USO ERRADO DAS TABELAS
 A maioria das pessoas costuma usar de forma ERRADA as tabelas de nutrientes nos alimentos, quando as consulta. Isso porque poucos são os crudivoristas, aqueles que só comem alimentos CRUS. Para estes, unicamente, os teores de nutrientes nos alimentos serão sempre os mesmos. Evidentemente, os crudivoristas devem ser todos vegetarianos, eu nunca tive a oportunidade de conhecer um crudivorista carnívoro, embora alguns amigos meus sejam eméritos devoradores de peixe cru em restaurantes japoneses. Mas são crudivoristas part-time, tão somente.


Para todas as outras pessoas, porém, as tabelas podem induzi-las a erros. E erros sérios. A grande maioria das tabelas publica o teor de nutrientes nos alimentos CRUS. Só que esses alimentos vão ser cozidos, assados ou fritos. E a forma de preparação pode alterar totalmente os teores originais.

Por que isso acontece? Consideremos o exemplo dos feijões, que são os campeões protéicos do reino vegetal. Há dezenas de variedades de feijões que chegam ao mercado, o que faz com que tenhamos buscado um teor MÉDIO de conteúdo protéico no grão cru. Esse valor é de 20,4%. Mas veja bem, isso no grão CRU. Você nem deve comer os grãos de feijão nesse estado, pois isso vai lhe ocasionar pesados problemas digestivos. Os feijões estão entre os vegetais que só devem ser consumidos COZIDOS.

Vai daí que você prepara o seu feijãozinho cozido do dia-a-dia e pensa que está ingerindo 20,4 gramas de proteína em cada 100 gramas do preparo. LEDO ENGANO! Você começa deixando o feijão DE MOLHO de uma dia para o outro? Pois bem, você está fazendo o grão AMOLECER, ou seja, se HIDRATAR (= absorver água). Depois quando você o cozinha a alta temperatura (geralmente usando pressão), vai continuar a hidratação, vai acontecer uma DESNATURAÇÃO de certas proteínas, e vai haver uma permeabilização e um rompimento parcial do grão que resulta na crème de la crème do feijão, ou seja o CALDO! Que é, basicamente ÁGUA. 

Então você tem agora muita água DENTRO do grão cozido e tem muita água FORA do grão cozido (o caldo). Aí, quando a gente faz a análise bromatológica do seu feijão cozido, em cada 100 gramas dele só vão restar 8,1 gramas de proteínas. Ou seja, cozinhar feijão é simplesmente baixar seu teor de proteínas de 20% para 8% ! MAS ATENÇÃO: Isso se dá numa escala RELATIVA, você não perdeu proteínas significativamente, só as fez o teor delas diminuir proporcionalmente à água assimilada pelo sistema.

E isso vai acontecer com a maior parte dos alimentos cozidos. Já os assados e os fritos podem resultar numa CONCENTRAÇÃO de ALGUNS nutrientes. Porque nos alimentos que você cozinha, a água de hidratação permanece nos grãos cozidos e nos caldos (exceto naquele arroz “sequinho e soltinho”, que quase não terá caldo. Por outro lado, muitos nutrientes serão levados embora na água de cocção, por processos normais de dissolução e de osmose. Já no alimento assado/grelhado, há uma acentuada PERDA DE ÁGUA. (e geralmente de gorduras também), o que costuma resultar numa CONCENTRAÇÃO relativa dos nutrientes deixados.

Assim, uma carne cozida tem seu teor de proteínas um POUCO diminuído e uma carne assada tem o mesmo AUMENTADO consideravelmente, porque a porção perdeu muita água e muita gordura. Assim uma carne de frango com 28% de proteína quando crua, pode passar a ter até 37% quando frita. Mas isso não quer dizer que o fritura fez aparecer um monte de novas proteínas vindas do nada, mas, sim, que água e gordura deixaram o sistema, de tal forma que o que era 28% antes, virou agora 37% numa nova escala relativa.

Fica aqui então a tabela do Dr. Guilherme Franco para sua apreciação. Verduras, legumes e frutas têm normalmente baixo teor de proteínas, mas são essenciais em nossa alimentação por causa dos micronutrientes, fibras, enzimas e fitoquímicos, No reino vegetal, só os grãos das leguminosas podem encarar a competição com as proteínas de origem animal, um complexíssimo assunto que não quero desenvolver aqui. Mas cuidado: Uma coisa é teor em grão CRU, a outra, completamente diferente, é a realidade que vai estar no seu prato.

(Uma nota final: a desnaturação de proteínas, provocada pela cocção nos grãos de leguminosas (e de cereais também), não é, de forma alguma, desfavorável. Ela é até favorável, porque uma parte das fatais LECTINAS das leguminosas vai ser desativada. É uma pena que não possam ser todas elas, as que sobram até que são bem prejudiciais, mas isso não é assunto que possa caber neste espaço, é tema de todo um livro meu, "A SOPA QUÍMICA - Nossa Alimentação Suicida" - IDEL, 2008)



TEOR DE PROTEÍNAS EM 100 GRAMAS de:
 
ESPINAFRE                           2,3                  
COUVE                                   1,4
BRÓCOLIS                             3,3 (FLORES)
BRÓCOLIS                             1,3 (FOLHAS)
COUVE-FLOR                        2,5
CHAMPIGNON                       1,7
SALSINHA                              3,2      
PEPINO C/CASCA                0,7
PEPINO S/CASCA                 0,07
PIMENTÃO                              1,3
REPOLHO                               2,2
TOMATE                                  1,1                  
CARNE BOVINA (média)    24,5
CARNE BOVINA charque   48,0
CARNE DE AVES (média)  28,0
CARNE DE AVES (defum.)  42,7
OVOS                                      12,8
Feijão grão cru                       20,4
Feijão cozido (média)             8,1
Soja grão cru                          40,0
Soja cozida                             14,0
Arroz integral grão cru             8,1
Arroz polido cru                        7,6
Arroz cozido                              2,8
Trigo grão cru                          12,7
Trigo cozido                               5,0
Milho seco grão cru                  9,8
Milho verde cru                          6,2
Amendoim cru                         28,1
Amendoim torrado                  23,2     

[Desculpem, o software do Blogspot não permite manter a formatação alinhada original da coluna de números e eu, francamente, não vou voltar e colocar tudo em tabela]

(Fonte: TABELA DE COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS ALIMENTOS – Dr. Guilherme Franco, médico nutrólogo da Escola Central de Nutrição da Universidade do Rio de Janeiro. 8ª. edição, LIVRARIA ATHENEU EDITORA, Rio de Janeiro)