sexta-feira, 10 de agosto de 2012

REMORSO 
MARIO QUINTANA


QUEM NOS HÁ DE LER?  
MILTON  MACIEL

Internet. E-mails, Google. Redes sociais. Internetês. Comunicação massificada, difusão ultra-democrática do conhecimento. Maravilhas!

Contudo, acompanhando a evolução da linguagem praticada através das infovias, há que se ter um pouco de preocupação também. Por um lado se enriquece a língua portuguesa com centenas e centenas de neologismos. Por outro lado, se empobrece o idioma à medida que as crianças e os jovens, ao se acostumarem à essa que vai ser a nova linguagem  – irreversivelmente, creio eu – se desacostumam da riqueza vocabular do nosso idioma, tão ciosamente preservada ao longo de séculos por nossa literatura e pelo esforçado ensino do Português em nossas escolas.

Tenho tido muita proximidade com professores e estudantes de nível básico e médio, numa parte do Brasil tida como bem aculturada: o Sul. E o que constamos, eles e eu, é que o hábito da leitura, tal qual o conhecemos por centenas de gerações, está mudando rápida e drasticamente. A leitura de livros se tornou mais e mais desinteressante para estas novas gerações. Elas migraram para a Internet, onde passam muitas horas do dia, justamente aquelas de que dispõem quando não estão assistindo televisão. Ou seja, estão sempre em frente a um ou outro tipo de tela, o que eu apelidei de TELA-educação.

Com seu batalhão de tablets, smart phones, netbooks e notebooks – tornados cada vez mais acessíveis a quase todos, em casa e na escola, (e isso é bom!) – os jovens, cada vez mais conectados à Internet e interligados pelas redes sociais, tendem a ler somente os livros que lhes são exigidos, impostos mesmo, pelos professores.

Precisamos estar à altura de reconhecer este fenômeno e abordá-lo de uma forma criativa, para tentar aprender com ele e descobrir como corrigir facetas eventualmente negativas; e investir no inegável potencial positivo que ele encerra.

Esse movimento, esta rápida transição, é de fato irreversível. Não podemos observá-lo com saudosismo ou pessimismo somente. Essas crianças e adolescentes, esses jovens adultos também, são os leitores de hoje e de amanhã. E eles estão maciçamente na Internet hoje.

Então é na Internet que nós devemos IR DE ENCONTRO a eles. É nos computadores, grandes ou pequenos (como os telefones inteligentes) que nós temos que nos comunicar com eles. Há toda uma nova linguagem a aprender e a desenvolver. O esforço deve ser nosso, enquanto educadores. Nós não vamos mais conseguir impor os mesmos valores e metodologias que serviram de esteio à nossa geração e às dos nossos pais e avós.

Lembro-me que, na terceira série do primeiro grau, eu costumava inventar mil pretextos para sair da aula e me enfiar, muitas vezes escondido, na biblioteca da escola. Ensinaram-me a ler muito cedo e ensinaram-me a ler livros. Eu ansiava por eles, queria ler todos os livros da biblioteca ao mesmo tempo! E essa era a única biblioteca a que eu tinha acesso com aquela idade.

Mas hoje tudo é muito diferente. Para todos, inclusive as crianças, existe a Internet e existem os buscadores como o Google. Bibliotecas inteiras podem ser arquivadas em telefones celulares. Porque, felizmente, agora existe o e-book.

Contudo, o que me preocupa é o tipo de leitor que nós, educadores e escritores, vamos encontrar nesse futuro que já está chegando. Qual vai ser o universo cultural desse novo leitor médio? Ainda temos gerações que passaram pelos bancos escolares e aprenderam a ler livros. Mas estas gerações serão – e já estão sendo – inevitavelmente substituídas pelas novas gerações de REDE-LEITORES (netreaders), um pessoal que só lê em telas de dispositivos eletrônicos.

E, mesmo que eles leiam o que publicamos na rede, como textos avulsos ou como e-books, que LINGUAGEM usaremos? Vamos ter, por exemplo, que baixar o nível vocabular e semântico de nossa comunicação para nos adaptarmos a um universo de crescente empobrecimento do vernáculo e, paradoxalmente, a seu crescente enriquecimento com neologismos incorporados às centenas celeremente, a maior parte meras adaptações de termos técnicos novos ou apenas anglicismos inevitáveis – em grande número e, pelo geral, de forma sintetizada ou abreviada.

Como escritor e como educador, preocupa-me o perfil do meu leitor daqui para a frente. Por enquanto ainda tenho leitores da – digamos – ‘velha guarda’. Só que essa ‘velha guarda’ tem todas as idades, inclusive gente bem jovem, pois esses foram os que aprenderam desde cedo a ler e a amar livros, os bons e velhos livros de papel, que constituíram sempre o nosso universo de leitura.

Mas os tempos mudaram. Muitas das pessoas que, pouco tempo atrás, você veria nas ruas e parques com livros nas mãos, hoje você encontra é às voltas com tablets e celulares, lendo também. Mas lendo o que? E em que linguagem?

Grande parte está lendo e-mails, lendo e mandando mensagem de texto, vidradas em Facebooks ou Orkuts. Até mesmo ao atravessar ruas ou ao dirigir carros! Sim, essa pessoas estão lendo. Mas... o que? E, quando estão em casa? E quando querem ler por puro prazer, qual será a sua leitura?

Aí está o grande desafio que se apresenta a todos nós como escritores, educadores e como mães e pais esclarecidos e responsáveis. Há uma revolução em curso. Isso é inegável. Isso não é mais futuro, já é presente. E a pergunta que se impõe é:

COMO VAMOS ENSINAR NOSSAS CRIANÇAS A LER NESTES NOVOS TEMPOS?

Vai ter que ser valorizando o livro de papel, mas, em grande parte, terá que ser também pelas infovias, onde o pessoal da ‘velha guarda’ da leitura (insisto: que tem hoje de 6 a 90 anos de idade), está trocando rapidamente o livro impresso pelo e-book.

Mas pouco importa se é impresso ou e-book: é LIVRO! E como vamos conseguir que esta nova forma de leitor, de ciber-leitor, de rede-leitor, se interesse por ler LIVROS? Esse é o desafio em si. Ou será que é o próprio conceito de LIVRO que vai mudar, engolido pela nova realidade?

Para citar apenas um exemplo, num dos livros que estou escrevendo no momento como ghost-writer, para um cliente de área técnica, estou incorporando quadros e imagens coloridas fantásticos, fotografias (policromias que inviabilizariam um livro impresso, certamente), ANIMAÇÕES flash e VÍDEOS. Além disso, há links no livro que levam ao website do meu cliente, para aprofundar o diálogo com o leitor e criar vínculos comerciais potenciais. E, nas referências bibliográficas, grande parte da lista é formada por links ativos, que levam o leitor diretamente para os artigos publicados ali referidos. Claro, isso na versão E-BOOK. Mas... que livro é esse? Sim, sem sombra de dúvida, um NOVO LIVRO, um livro vivo e interativo e que, para completar, vai ser atualizado MENSALMENTE. Ou seja, a tal da nova edição, revista e ampliada, torna-se simplesmente automática.

Mas, deixando de lado esse caso em particular, e pensando em todo tipo de literatura e livro, não-ficção e ficção, volto à pergunta do título:

QUEM NOS HÁ DE LER?... E... Como vamos escrever para eles?  (MM)

terça-feira, 7 de agosto de 2012


MISSAL 
ULIAN,  em Eski de Letras

Minha alma foi evangelizada pelo Deus em teus olhos,
E só diante de ti me ajoelho.

Minha paz foi arrebatada no altar do teu colo,
E só diante dele eu choro.

Minha fé foi retradada no confessionário, teu beijo,
E só nele eu me absolvo.

Meu corpo é asilado na igreja do teu abraço
E, vê, só nela eu sou salvo.

domingo, 5 de agosto de 2012

OLHAR AMANTE  
MILTON   MACIEL


Haverá, qual este, olhar que fale tanto Amor?
Ou barreira haverá que o vero amor impeça?
Não creio: basta ver uma imagem como essa,
Pra saber que é Amor Maior o que ela expressa. (MM)



NO PRINCÍPIO ERA O VERBO  
MILTON  MACIEL



ANTE A GLÓRIA DO UNIVERSO  
MILTON  MACIEL

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


GUAÇU-MIRIM  
MILTON  MACIEL

Os Guaçu (= grande) eram um povo indígena de enorme tamanho.Os homens, se fossem vistos hoje, seriam tomados por volantes de voleibol um pouco mais crescidos. Já os Mirim (= pequeno) eram de outra ascendência e, após séculos de intercruzamento, foram diminuindo de tamanho até se estabilizarem na altura máxima de 1 metro e 55.

Mas vejam a ironia agora: Os Guaçu estavam há centenas de anos estabelecidos numa curva do rio, por eles chamado de Iguaçu (= água grande). Foi quando chegaram os primeiros Mirim e se estabeleceram do outro lado do rio. Os Guaçu não se importaram. Tudo era grande e farto na terra deles. Não havia como aquele grupo de nanicos afetarem o ambiente e trazerem escassez. Deixaram-nos ficar do outro lado do rio e até lhes acenavam amistosamente.

Com o tempo a aldeia dos Mirim cresceu bastante. De longe, parecia que as duas aldeias eram uma coisa só, apenas com o rio, que apesar do nome não era largo coisíssima nenhuma, a passar dentro dela. E deram para chamar o lugar de Guaçumirim (= grande-pequeno). Os habitantes dos dois lados foram se conhecendo e se dando cada vez melhor.

Um dia, para consolidar a paz reinante ainda mais, o chefe dos Mirim resolveu oferecer sua filha em casamento ao filho do chefe dos Guaçu. Este, reconhecido, retribuiu da mesma forma. Também ofereceu uma de suas filhas para casar com um filho do chefe Mirim.

E foi aí que começaram os problemas. Na dia do casamento houve uma grande festa para todos, comemorada no lado Guaçu. Mas, ao cair da noite, quando os casais se retiraram para as ocas reservadas para a consumação dos casamentos, coisas estranhas aconteceram.

Da oca para onde foi a filha do chefe Mirim com o filho do chefe Guaçu, saiu de repente um grito de pavor. Soube-se depois, quando a indiazinha saiu correndo em disparada, se jogou no rio e nadou até sua aldeia numa velocidade impressionante, que ela, coitadinha, tinha levado o maior susto ao ver, pela primeira vez, o guaçú do marido. Ah não, era guaçu demais para a sua mirimzinha, pernas pra que te quero!

Em compensação, da outra oca saiu, de repente, a maior gargalhada. E a risada foi ficando cada vez mais alta, mais estrepitosa, não parava nunca. Entenderam todos o que se passara quando o indiozinho saiu com a maior cara de encabulado de dentro da oca, pulou no rio e nadou célere para sua aldeia. É que a esposa tinha ficado passada ao ver o mirimzinho do marido e, pensando nas proporções de sua guaçú, caiu na gargalhada sem poder se conter ou parar.

Começou nessa noite a primeira grande cizânia em Guaçumirim. Acabou-se a harmonia! Mas isso é assunto para contar outra hora.