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Ghostwriter e seu mercado de trabalho-2
MILTON MACIEL – Escritor, editor e ghostwriter bilingue. Editor-chefe da Revista ESCREVER. Coordenador da EIDEL – Escola Internacional do Escritor Lusófono.
No primeiro artigo desta série relatei
alguns eventos mais incomuns de minha carreira de ghost writer. Agora quero dar
atenção a outros assuntos que interessam diretamente a quem já é e a quem
deseja tornar-se esse tipo de ‘fantasminha camarada’.
Em primeiro lugar, vamos
estabelecer algumas diferenças e caracterizar o que é um ghost writer
exatamente.
O QUE FAZ UM GHOSTWRITER?
O GHOSTWRITER escreve o livro todo
para você e você fica com o crédito da autoria. Ponto final.
Um COAUTOR escreve um livro JUNTO
com você, o crédito autoral é de AMBOS.
Um EDITOR de desenvolvimento
melhora o livro que você JÁ escreveu. O crédito autoral é seu.
Um MENTOR de escrita ajuda você a escrever o livro do início ao fim, oferecendo orientação teórica e prática, aconselhamento e revisões, ajudando-o a tornar-se de fato um escritor profissional. O crédito autoral é todo seu.
Muitas vezes o
cliente acha que precisa apenas de um editor de desenvolvimento, quando, na
verdade, o que ele precisa é mesmo de um ghostwriter para fazer todo o trabalho
inicial. Mais de uma vez, trabalhando para editoras de São Paulo no papel de
editor de desenvolvimento autônomo, tive que recomendar a adoção de um ghost
writer para REESCREVER TUDO.
O que acontecia: a IDEIA do livro era muito boa, tão boa que o sucesso comercial estava garantido. Mas a forma de estruturar e a forma de escrever do autor era um desastre total. E, com isso, ele matava para si e para a editora uma potencial galinha dos ovos de ouro. Nesse caso, trabalhando-se com cuidado o amor-próprio ferido dos autores e adotando-se o ghostwriting, os resultados finais foram sucessos de vendas em suas respectivas categorias.
Outras vezes o cliente acha que precisa de um ghostwriter quando o que lhe é mais conveniente é um mentor de escrita. A gente percebe que o autor está no meio do caminho – nem estrutura da obra, nem escrita são primárias e vale a pena investir na formação do profissional. Por quê? Porque para a casa publicadora todo o investimento que vai ser feito na promoção desse autor e de seu primeiro livro terá um retorno muito maior se ele for capaz de continuar escrevendo novos livros para mesma editora. Aproveita-se o investimento inicial no autor, que não é pequeno.
Cabe à agência de ghostwriting, ou ao profissional individual de ghostwriting, ‘educar’ o cliente potencial e discutir com ele quais suas reais necessidades e o que lhe pode ser proposto como serviços.
TIPOS DE GHOSTWRITERS
Nos parágrafos acima eu me referi
a trabalhos com LIVROS e editoras. Contudo não se restringe o campo do
ghostwriting somente a livros.
Há um enorme campo na escrita de
conteúdo para mídias sociais; para newsletters, blogs e sites; teses acadêmicas,
artigos profissionais de negócios, artigos para revistas, assessoria de
publicações e discursos para políticos, marketing de conteúdo, infográficos e
ebooks-ímãs para e-mail marketing. Podemos fazer a seguinte divisão:
1 – Ghostwriters de memórias e
biografias, experientes em contar histórias de pessoas, famílias,
empresários, políticos e famosos. Devem ser excelentes nas suas técnicas de
entrevista e pesquisa dos históricos abrangentes das personalidades envolvidas,
dos períodos históricos, hábitos, costumes e preconceitos de décadas atrás. A
pesquisa geográfica também pode ser muito intensa, em função das locações
nacionais e estrangeiras dos segmentos das histórias.
2 – Ghostwriters de ficção.
São profissionais que escrevem romances e séries dos mais variados gêneros,
como policial, mistério, erótica, românticos, históricos, entregando o produto
pronto para o cliente simplesmente colocar seu nome como autor. É essencial que
sejam muito bons como ficcionistas, conhecendo a fundo as técnicas de escrita e
as exigências dos leitores de cada gênero e subgênero que cobrem.
Em alguns casos faz-se necessária a
combinação desses dois primeiros tipos de escritor fantasma em um só. Vou dar
um exemplo prático:
No primeiro artigo desta série,
fiz referência à obra A GUERRA DE JACQUES, que comecei a escrever como
ghostwriter e terminei na qualidade de coautor, a pedido dos clientes,
materializando-se o fantasma.
O que tínhamos neste caso, como
ponto de partida, era um digesto de 80 páginas que os clientes elaboraram com
resumos, em ordem cronológica, dos acontecimentos reais da vida de seus pais
durante a 2ª Guerra Mundial. Em cima disso realizamos várias sessões semanais
por Zoom, discutindo capítula a capítulo, à medida que eu os escrevia.
Fui contratado para ROMANCEAR
esses fatos reais e transformar essa memória ‘mecânica’ num livro de “ficção”,
com emoção, suspense e amor. Consegui passar de 400 páginas!
Para você ter uma ideia do
trabalho de pesquisa necessário, só de livros de memórias de pilotos sobre
batalhas aéreas eu li quatro (e em duas semanas!): dois de pilotos alemães, um
de um britânico, outro de um norteamericano. Tive que estudar os tipos de avião
usados, Stukas, Messerschmidt BF109G, Spitfires, fortaleza voadora B29 e seus
respectivos armamentos, bombas, tripulações e formas de combate. E os saltos de
paraquedas, a sobrevivência à queda no mar, o resgate e a troca de pilotos
abatidos.
Tudo isso para depois criar só
DUAS batalhas aéreas de 9 páginas cada uma, num livro com um total de 408
páginas!
Tive que estudar a dura realidade
do trabalho escravo a que eram submetidos os civis dos países invadidos,
levados para minas, fábricas e campos agrícolas em outros países. E a ainda
mais tétrica realidade dos campos de concentração e extermínio. Tive que ler
muito sobre os bombardeios em que mais de 1000 aviões surgiam sobre uma cidade
e a reduziam a incêndios, escombros, destruição e mortes de milhares de civis
inocentes.
Tive que conhecer por dentro todos
os detalhes externos e internos da catedral católica de Bruxelas, onde fiz
celebrar um casamento, com direito a órgão e a vitrais fantasmagóricos. E, no
final da guerra, bairros de Paris e toda a Rio de Janeiro e São Paulo do final
dos anos 40 e início dos 50 do século passado.
E isso tudo é só um pálido resumo
do trabalho desenvolvido. Por aí você pode concluir que, com mais do que justa
razão, um tipo de ghostwriting assim tão amplo e complexo não pode ter um preço
“econômico”.
3 – Ghostwriters técnicos.
São experts das mais diversas áreas, desde ensino, ciência, indústria,
negócios, TI, marketing. Aqui realmente o profissional tem que ter um perfil
afim com o ramo tecnológico que vai cobrir, caso contrário não conseguirá se
entender com os clientes, sua linguagem e
sua realidade profissional e técnica. Podem produzir excelentes
catálogos, manuais técnicos, instruções de uso
Nesse caso, é cada macaco no seu
galho. Eu já citei minha participação, nos EUA, como ghostwriter de textos de
ensino de química e de agricultura orgânica. Já no Brasil, meu background
técnico levou-me, a ser contratado para escrever um livro de medicina, porém
num nível de divulgação científica.
A pesquisa envolvida também foi
imensa. E, como ela acaba sendo praticamente toda em inglês, o passo lógico
seguinte foi eu verter para o inglês a mesma obra e, sempre como ghostwriter, subi-la
na Amazon para o cliente.
Fui sondado para atuar como ghost
para livros de negócios. Declinei imediatamente. Não tenho a menor competência
e nem a mínima sintonia. Mas tenho um portfólio de colegas dessa especialização
para indicar.
4 – Ghostwriters de Mídias
Sociais. Ah, esses são ases no desenvolvimento de newsletters, blogs,
sites, sabem ocupar Instagrams e Facebooks da vida com matérias que mantêm vivo
o interesse dos leitores e a satisfação de seus clientes, cujas personas
mercadológicas conseguem incorporar, como bons fantasmas que são. Entendem de
SEO e sabem dar voz a uma empresa e a
seus produtos.
5 – Ghostwriters genéricos.
Como o adjetivo sugere (e, não, não é depreciativo!), o genérico aqui quer
dizer eclético, polivalente, tipo pau pra toda obra, que não são experts em
algum campo técnico em especial e por isso podem trabalhar em textos mais
gerais, de matérias avulsas para propaganda a ebooks inteiros para email
marketing.
(CONTINUA)
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