quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020


A telAeducação
Milton Maciel

Wenchi, Etiópia, sete anos atrás: um grupo de crianças vive numa zona rural paupérrima, num vilarejo de casebres de pau-a-pique e onde não existe escola.

Essas crianças foram alfabetizadas e aprenderam efetivamente a ler usando tablets doados por uma ONG norteamericana, a One Laptop Per Child, fundada pelo cientista norteamericano Nicholas Negroponte, do MIT. Aprenderam a ler em dois idiomas: o seu próprio (amárico) e o inglês! Com resultados fantásticos, muito acima do esperado pelos fomentadores do programa “Um laptop ou tablet para cada criança do mundo.”.

A atenção e o interesse das crianças, seus olhinhos brilhando de curiosidade, dizem tudo! Essa é a grande diferença. Essa é a força combinada do eBook e do tablet. A mesma linguagem sedutora de cor e imagem, de animações, basicamente uma imagem televisiva e cinematográfica, que é capaz de magnetizar a atenção da criança e levá-la a aprender de uma forma automática, por ser também interativa; mas, acima de tudo, e aqui está o grande segredo, de uma forma extremamente prazerosa!

Contudo, o mais notável neste caso etíope é que as crianças aprenderam a ler sem professor! O programa é autoinstrutivo e leva a criança, passo a passo, em direção a uma viagem maravilhosa e excitante de autoaprendizagem. Aprender a ler – e escrever – sem professor: Isto é revolução!

Agora, você quer saber o que motivou a aplicação desse programa à região? O governo local argumentou que seria caro demais produzir, transportar e distribuir para cada criança todos os livros que elas necessitariam no curso básico, além de ter que construir salas de aula no vilarejo rural e contratar professores.

As famílias dessas crianças vivem de plantar batatas e produzir mel. Todos os adultos são analfabetos. Menos uma moça, semialfabetizada, responsável por recarregar os tablets com um pequeno gerador solar, doado também pela ONG americana “One Laptop Per Child”. Essa jovem disse que “se lhes déssemos refeições e água, eles nunca sairiam da sala de computadores, eles passariam dia e noite lá.”

Ora, todos os livros que uma criança precisa no curso primário inteiro, magistralmente ilustrados em cores, cabem num único tablet! Na sua memória interna. Vejam que não estou me referindo sequer ao uso da Internet, que obviamente não é acessível naquele lugar. Ou seja, um tablet simples é muito mais barato que todos os livros escolares.

Outra coisa notável no caso das crianças etíopes que eram analfabetas: uma vez que aprenderam a ler, elas cumpriram em apenas quatro meses todo o programa de primeiro ano primário oficial do país. E exigiram continuar imediatamente com a matéria do segundo ano, para a qual não havia ainda programa pronto.

Precisa dizer mais alguma coisa?

Pois a tal coisa é quase assustadora: não havia ninguém para ensinar as crianças – analfabetas, não esqueçamos – a usarem os tablets. Elas os retiraram das embalagens, começaram e mexer em tudo e, em menos de 4 minutos, já sabiam como ligar as máquinas. Daí em diante, a exploração foi diária, pelo menos 6 horas por dia, todos os dias, sem nunca parar. E sem ninguém para orientá-las. Elas descobriram como ativar o programa de autoinstrução, com figurinhas animadas e canções infantis, em seu idioma natal e foram aprendendo a ler e a escrever usando o teclado virtual completamente sozinhas.

Então foram adiante e descobriram como desbloquear outras funções dos tablets, liberando, por exemplo, o uso da câmara. Passaram a fazer fotos e filmes. Mas isso ainda era pouco: descobriram que o mesmo programa que lhes ensinava a ler em amárico, existia também em inglês. E aí, sempre por conta própria, começaram a aprender a ler e escrever em inglês.

O que essa experiência real demonstrou é que crianças aprendem sozinhas, explorando, por tentativa e erro. Assim como aprendem a falar e andar por conta própria, podem aprender a ler e escrever também. Não é quase inacreditável?

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