O
FECHAMENTO DE LIVRARIAS – 7ª Parte
O
livro é caro demais para o brasileiro
MILTON
MACIEL
Como eu disse no artigo anterior NÓS
COMEÇAMOS MUITO MAL. A coroa portuguesa encarregou-se de nos dar esse início da
baixíssima cultura, negando-nos o acesso à imprensa, ao livro e ao ensino
superior.
Mas as coisas também foram mais
complicadas para o nosso lado do ponto de vista demográfico e do aproveitamento
de recursos naturais. Nossos colonizadores brancos foram mais atrasados que os
colonizadores brancos da América do Norte. Nossos índios eram muito mais
atrasados do que os peles-vermelhas americanos, de forma que o genocídio que os
norteamericanos promoveram lhes foi muito mais rentável do que o genocídio
promovido no Brasil. E, para completar, dos 11 milhões de escravos africanos
que chegaram vivos às Américas, a metade deles veio parar no Brasil. Que foi o
último pais americano a abolir a escravidão. Ou seja, comparando as três
etnias, brancos, índios e negros, saímos sempre perdendo.
Com os recursos naturais, a coisa
não foi menos dramática Os Estados Unidos declararam sua independência em 1763.
Nós, só em 1822. Isso fez com que nossa ‘corrida do ouro”, acontecida durante o
século XVIII, se desse toda sob o regime colonial e nosso ouro fizesse a
riqueza de Portugal somente. Assim como aconteceu com a prata e ouro da America
Ibérica, que foram todos para a Espanha.
A corrida do ouro americana deu-se
quando eles já eram uma nação independente, digamos que o ouro ficou ‘em casa’.
Os indígenas americanos tinham um rebanho de mais de 60 milhões de bisões, que
crescia há séculos nas pradarias sob a sábia gestão dos nativos. Os brancos
mataram quase todos esses “búfalos”, levando-os quase à extinção, para roubar
as peles principalmente. Nossos índios não manejavam rebanhos de animais e eram
quase todos pré-agricultores ou totalmente paleolíticos. Não servindo para o
trabalho escravo e esse trabalho escravo sendo proibido pelo Marques de Pombal,
foram expelidos para o interior do país, refugiando-se nas selvas. Onde também
foram caçados, aprisionados e mortos. Dos possíveis 5 milhões originais, hoje
restam uns escassos 10% disso como população indígena no país.
Em resumo, os brancos
norteamericanos enriqueceram muito mais com o extermínio dos seus índios, mais
aculturados e mais ricos. E tiveram uma população de escravos africanos
muitíssimo menor do que a brasileira. Libertaram-na progressivamente, desde 1808 até 1863. Nós fizemos o mesmo, desde 1831 até 1888. Mas abandonamos
totalmente a população de libertos à sua própria sorte, sem qualquer política
de habitação, absorção e emprego para eles. Condenados a uma miséria ainda mais
faminta do que a que havia nas senzalas.
Mas, ao menos, tivemos ativa sempre
a miscigenação, diferentemente dos norteamericanos. Hoje somos um país mulato,
com 52% da população formada por “pardos” e negros. Os americanos do norte
contabilizam somente 12% de afrodescendentes na população deles.
Findo o nosso ciclo do ouro (ciclo
português), o café assumiu o lugar de maior produto de exportação do país
(ciclo brasileiro). Tornamo-nos um país relativamente rico, totalmente agrícola,
baseado no grande latifúndio e na escravidão. Com a chegada de milhões de
imigrantes na segunda metade do século XIX e início do século XX, a mão-de-obra
escrava tornou-se antieconômica e de baixíssima produtividade, levando à rápida
substituição pela mão-de-obra assalariada europeia. A industrialização a partir
do início do século XX viria a seguir, inevitável. Mas chegamos muito atrasados
nessa corrida econômica.
E, em especial, na CULTURAL, que é a
que nos interessa nesta série de artigos.
Desembocamos na seguinte situação
hoje:
POPULAÇÃO: Brasil – 208 milhões; Estados unidos – 325
milhões
PIB per capita: Brasil – 9 000 dólares; Estados Unidos – 59
500 dólares
Renda média mensal: Brasil: R$ 2 780,00; Estados Unidos – R$ 19 000,00
Preço médio do livro: Brasil R$
40,50; Estados Unidos – R$
48,00
Livro/salário mínimo: Brasil:
4% ; Estados Unidos: 0,6 %
Ou seja, no Brasil o livro é caro demais para os
brasileiros!
E produzir e comercializar livros, portanto, é arriscado
demais para editores e livreiros.
Ante um norteamericano que ganha
cerca de 7 vezes mais que um brasileiro, um livro que custa praticamente a
mesma coisa aqui e lá nos deixa em completa desvantagem. Ficamos com uma grande
demanda reprimida por conta do poder aquisitivo insuficiente da população que
lê.
Com poder aquisitivo 7 vezes menor e
um mercado leitor também várias vezes
menor, o resultado é que as tiragens no Brasil são normalmente pequenas demais, encarecendo ainda mais
o preço final do livro.
Então, seguindo a comparação,
chegamos ao final inevitável:
Livros
completos lidos anualmente por habitante:
Brasil – 2,4
USA – 8,4
Total
de livros produzidos em 2017
Brasil – 42,3 milhões – Faturamento:
R$ 1,7 bilhões
USA - 2,72 Bilhões – Faturamento: R$ 119,7 bilhões
Total de escritores publicados:
USA – 45 000
Brasil – ???
Os Estados Unidos não são, contudo o
pais de maior renda per capita do mundo. Antes deles vêm países ricos com
populações muito menores:
PAIS PIB per capita
Catar 105 mil dólares
Luxemburgo 80 mil
Singapura 62 mil
Noruega 60 mil
USA 59,5 mil
E estão longe de ser o país cuja
população mais lê. Esse país é a ÍNDIA.
Número
de horas semanais de leitura por habitante:
(Fonte:
World Culture Score Index, UNESCO)
1 – Índia 10,4 horas
2 – Tailândia 9,2
3 – China 8,1
4 – Filipinas 7,6
5 – Egito 7,3
,9 – França 7,0
14 – Venezuela 6,2
18 – Argentina 6,0
23 – USA 5,4
28 – Brasil 5,0
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