terça-feira, 25 de setembro de 2018


DO BRILHO DESSES OLHOS INCONSTANTES
MILTON MACIEL

Porque de um brilho de olhos saltam lâminas,
pontiagudas e cruéis
como alabardas,
de fótons, de desprezo, de traição.

Porque de um brilho de olhos fluem desertos
que se derramam,
hirtos, parcos, esbatidos,
como doses letais de solidão.

Incréu converso aos suplícios do martírio,
penando em gozos
abissais, veniais, transidos,
como ondas infernais de compaixão,

em vão me agito qual mar, por que suspenso
entre o caos e o abismo
do brilho desses olhos inconstantes,
de lâminas, de desertos, de paixão.

domingo, 23 de setembro de 2018


LECTINAS DOS CEREAIS PODEM CAUSAR RESISTÊNCIA À LEPTINA
MILTON MACIEL
(excerto de ‘A SOPA QUÍMICA, Nossa Alimentação Suicida)

      Uma nova linha de investigação científica dos pesquisadores da Universidade de Lund, Suécia, está apontando para a possibilidade de uma interação negativa das lectinas presentes nos alimentos da dieta contemporânea com o funcionamento da leptina, nosso hormônio da saciedade. Observações anteriores, como o estudo de Kitava, demonstraram cabalmente que as chamadas ‘moléstias da afluência’ são totalmente inexistentes entre grupos humanos que, ainda hoje, seguem os padrões de uma dieta natural paleolítica, recusando-se a passar para a prática da agricultura e, consequentemente, deixando de usar os alimentos do neolítico que esta produz.

   Há, portanto, evidência que as doenças da afluência, como as cardiovasculares, a obesidade e o diabetes, devem ser ocasionadas por algum fator que é específico das sociedades agrárias. O grupo de Lund propõe que a dieta predominantemente baseada em cereais é esse fator específico.

   Como um grande número de investigações arqueológicas, às quais se aplicou a biologia molecular evolutiva, permitiram demonstrar, o sistema humano de leptina não está ainda especificamente adaptado a uma dieta baseada em cereais. A resistência à leptina dela decorrente é um claro indicativo dessa inadaptação.

  O estudo de Lund sugere que as lectinas, proteínas de defesa dos cereais e leguminosas, são os constituintes da dieta agrária suficientemente agressivo  s para causar a resistência à leptina, que é, como já vimos, uma insensibilidade adquirida a altos níveis de leptina.

  A leptina, produzida pelas células adiposas, leva ao hipotálamo o sinal para que do cérebro saia o comando para que o indivíduo pare imediatamente de comer. O mesmo comando habilita a estocagem do excedente de açúcar como gordura nova a ser guardada nos adipócitos, o que ajuda a proteger os tecidos periféricos não-adiposos dos efeitos tóxicos da sobrecarga lipídica intracelular.  Mas os efeitos da leptina não se resumem apenas a conduzir o sinal químico que ordena a saciedade e manda estocar a gordura nos adipócitos.

   Ela também serve para regular o crescimento dos ossos e dos vasos sanguíneos, afeta o sistema imunológico e o sistema reprodutor. É, portanto, um hormônio muito mais importante do que se imaginou a princípio.

   Quando seu efeito de produzir saciedade foi descoberto, acreditou-se que, enfim, estava ali a cura para a obesidade. Bastaria fazer aplicações periféricas do hormônio e as pessoas iriam logo perder apetite e peso. Isso, pelo menos, era o que acontecia com cobaias de laboratório.

   Mas isso não funcionou com os humanos. Injetar o hormônio da saciedade em pessoas obesas não produzia o efeito desejado. A observação desse fenômeno foi seguida pela descoberta que os obesos (e mesmo pessoas com sobrepeso que ainda não chegaram à obesidade) tinham taxas de leptina muito mais elevadas no sangue do que pessoas de peso normal. E essa presença confirmada do hormônio da saciedade em altos níveis simplesmente não estava resolvendo o problema, ou seja, a pessoa não se sentia saciada e comia ainda mais. Aplicar mais leptina nessas pessoas não produz resultado algum.

   Contudo, produz resultados nos roedores, incluídos os gorduchos entre eles. Ora, roedores são eméritos comedores de grãos e suas farinhas. Conclui-se, que eles já tiveram tempo de se adaptar ao fator lectina dos cereais, coisa que os humanos ainda hoje não conseguiram. Isso é fácil de entender quando se considera o quanto a vida desses animais de laboratório é curta quando comparada com a vida humana média.
                                                                                                                            
   Desde que a agricultura e a criação foram desenvolvidas, passaram-se no máximo 500 gerações humanas. Em alguns lugares do planeta, a agricultura chegou muito mais tarde ainda, o equivalente a apenas 100 gerações. Ora, isso é muito pouco tempo para que se dê uma mutação genética num genoma de 125 mil gerações.

   Mas, para os roedores, alguns poucos milhares de anos significam vários milhares de gerações. Isso explica por que razão eles podem responder à leptina aplicada perifericamente: já tiveram tempo suficiente para se adaptar aos grãos e suas cargas tóxicas de inibidores de tripsina e de lectinas defensivas. Nós, os humanos, ainda não tivemos esse tempo.

   A pesquisa de Lund mostra que essa falta de adaptação tem a ver com a ação das lectinas sobre o sistema da leptina. O estudo da evolução molecular da leptina mostra que o gene humano da leptina não mudou significativamente desde a emergência dos nossos ancestrais hominoides, há milhões de anos. E, enquanto roedores e aves conseguiram desenvolver uma adaptação bem sucedida às sementes de gramíneas e leguminosas, nós ainda não tivemos tempo – não tivemos um número de gerações sucessivas suficiente para permitir a mudança completa da resposta genética, gerando adaptabilidade.

   Os estudos da evolução molecular da leptina comprovaram que a diferença de resultados quando da aplicação de leptina em humanos e em roedores de laboratório é devida à existência de adaptação por parte desses animais, ao passo que a adaptação humana ainda não aconteceu.

  Ou seja, embora o mecanismo de busca de adaptação a uma dieta que depende maciçamente de cereais esteja evidentemente em andamento, ele é, todavia, lento demais.

   Um dos mecanismos através do qual agem as lectinas dos grãos e também dos laticínios, ainda mais os fabricados a partir de vacas alimentadas com grãos (rações atuais com milho e soja; farelo de trigo), parece ser a ligação ao receptor de leptina.

   Isso porque a leptina não é glicosilada, mas o receptor de leptina o é. As lectinas aderem à partes de açúcar das moléculas na membrana de um receptor (da mesma forma altamente prejudicial que o fazem nas células do intestino delgado) e alteram sua função.

   As lectinas dos cereais, por exemplo, são altamente específicas para eles e estão presentes abundantemente em nossa dieta atual. Elas são capazes de se ligar a estruturas glicosiladas nas células dos vilos intestinais, desvirtuando a barreira defensiva e invadindo a corrente sanguínea, onde serão tratadas como antígeno, provocando resposta imediata. Uma vez distribuídas pelo sangue, as lectinas dos cereais podem se ligar a estruturas glicosiladas de vários receptores, não só o de leptina, como também o de insulina, o receptor do fator de crescimento dérmico e o receptor de interleucina-2.

   As lectinas de cereais podem, portanto, causar resistência à leptina diretamente, ligando-se ao seu receptor e impedindo o recebimento normal do hormônio, que passa a se concentrar no sangue também. Mas o fato de as lectinas afetarem também os receptores de outros hormônios, como acima citado, faz supor que elas podem ter mais do que a ação direta sobre o receptor de leptina. Elas podem ocasionar outros tipos de transtorno hormonal e metabólico, que podem, por sua vez, ter influência indireta sobre a própria resistência à leptina.

A SOPA QUÍMICA – Milton Maciel – 3ª edição, IDEL, São Paulo, 2018 – pgs. 84 a 88)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

HERÓI  FARRAPO     
MILTON MACIEL

Levei pontaço de lança,
Quatro tiros de fuzil,
Enquanto estava lutando
Pra transformar o Brasil.
Passei fome e muito frio,
Era na chuva e no estio,
Pelas coxilhas sangrando,
A minha vida ofertando
Pro sonho republicano.
Lutando ano após ano,
Resistindo aos atropelos,
Pelo pampa e na coxilha.

Por ter um filho e uma filha,
Foi pensando em defendê-los
Que fui herói farroupilha.
Lutei no campo e na serra,
Lutei no mar e na terra.
Lutei no forte e na ilha.

Com Garibaldi em Laguna,
Fui marinheiro de escuna.
Com o Neto eu fui lanceiro,
Com Bento fui fuzileiro,
A guerra, minha tribuna.

Cruzei espada e facão,
Na baioneta ou na mão,
Nunca refuguei combate!
Gaúcho bom não se abate
Por mais que esteja ferido.
Pelo Rio Grande querido
Entrega o corpo e a alma.

Mesmo ante a morte tem calma,
Não se assusta nem baqueia.
Entende que é mesmo assim,
Pois sabe que, até o fim,
Não tá morto quem peleia!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

COMO É CARO SER MULHER!
MILTON MACIEL

Uma mulher trabalha mais, ganha menos, custa mais, gasta mais e vive muito mais anos do que um homem. Por isso tem muito mais dificuldade de fazer reservas que garantam seu futuro.

Existem causas biológicas, comportamentais e mercadológicas que tornam muito mais cara a vida das mulheres. As mais jovens não percebem esta armadilha. Os homens não fazem a menor ideia: acham que elas gastam demais com roupas e cosméticos porque são umas vaidosas. Nada pode ser menos verdadeiro!

Há despesas biológicas imensas, que o corpo feminino acarreta e que o homem jamais terá. Gastos com roupas, cosméticos e cabelos não são opcionais, são forçados por todo um Sistema que se alimenta do consumo e do trabalho da mulher. 

Além disso, o mercado paga menos pelo trabalho dela, força-a a jornadas duplas de trabalho e cobra mais dela do que do homem pelos mesmíssimos produtos e serviços; é o que chamamos nos EUA de Vagina Tax (Imposto da Vagina) e ele pode ser tão alto quanto 30 ou 100%. 

Este livro mostra tudo isso com números incontestáveis e identifica todas as inúmeras armadilhas econômicas que oneram a vida da mulher desde a mais tenra infância.

O autor é escritor e conferencista internacional, com 38 livros publicados em 3 idiomas. E coautor do livro A Bela Morde a Fera, sobre autodefesa feminina.

Daqui a 1 MINUTO você já pode começar a ler este livro: Faça o download  na Amazon.com.br, por apenas 14,50 no seu cartão.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

domingo, 2 de setembro de 2018

DOCE DIVÓRCIO    
MILTON  MACIEL 

Ah, as pernas enfiadas até quase os joelhos dentro da água bem fria, que se escoava em suave corredeira: Delícia! Sim aquele era o SEU rio, o seu querido riacho de infância. Incontáveis vezes viera brincar ali com os meninos ou sozinho, naquele exato lugar, logo depois da curva grande.

Agora, ante o tumulto infernal que assolava sua cabeça, de repente lhe veio à memória o SEU rio. Largou tudo o que estava fazendo, dirigiu até o lugar certo. Aí tirou os sapatos e as meias, desceu descalço para a beira do riacho, arregaçou e dobrou as pernas das calças e ali estava ele!

Se bem que o que precisava é que aquela água quase gelada corresse ao redor da sua cabeça quente, não de seus pés frios. Estava há semanas naquele terrível dilema, cansara de considerar todos os prós e contras e não conseguia chegar a uma definição.

Continuar com Wanda? Seria respeitar o compromisso de um casamento de 22 anos, preservar a estabilidade doméstica para os dois filhos já moços, manter intacto o patrimônio. Mas seria também continuar suportando uma relação que já estava morta há anos, nenhum dos dois sentia qualquer atração pelo outro, toleravam-se civilizadamente, tanto que, há tempos, já nem brigavam mais.

Do outro lado estava Veruska. Quente, sensual, fogosa, linda, esguia, meiga, culta. E doze anos mais moça que Wanda. Esperando e pressionando pela definição. O caso deles já tinha dois anos e continuava de vento em popa. Sim, tinha que admitir, estava profundamente envolvido com Veruska. Ou seja, amava-a.

Mas não queria dar aquele desgosto a Wanda. Não queria que ela se visse trocada por uma mulher muito mais bonita e mais jovem. Wanda não merecia aquilo. Não ficaria abalada pela perda de um homem a quem claramente não amava mais. Mas havia o problema da vergonha social, era isso o que, ele tinha certeza, faria Wanda sofrer muito. E por causa desse sofrimento dela, vinha adiando uma decisão há meses.

Mas esta era a semana decisiva: Ou ela ou eu! Veruska lhe apresentara o ultimato na segunda-feira. Ele tinha mais um dia somente para optar. Conhecia Veruska o bastante, agora, para saber que não haveria uma segunda chance, por mais que ela viesse a sofrer. Acreditava que ela realmente o amasse, mas é evidente que estava cansada daquilo tudo. Ou ele sabia o que queria, ou não sabia e, nesse caso...

A água corria gélida entre suas pernas, a cabeça parecia que ia explodir. Abaixou-se colheu água entre as mãos, jogou-a sobre os cabelos, sentiu o frio reconfortante descer pelo seu rosto e pelo pescoço. E então decidiu!

Tirou do bolso da camisa o celular e ali mesmo, de pé dentro do seu riacho, ligou para o celular de Wanda. Foi lacônico:

– Olha, não dá mais. Vai ser melhor pra nós dois. O Dr. Carlos de Olivença vai me representar, o escritório dele vai te procurar. Estou pedindo o divórcio. Hoje já vou para um hotel. Acabou, Wanda, me perdoe.

Do outro lado, a voz de Wanda foi surpreendentemente tranqüila:

– É, a coisa vai mal, mesmo. Mas... Você tem certeza? Porque não vai existir uma segunda chance.

– Tenho, sim. Pensei muito. Pode ter certeza que eu não vou prejudicar você na partilha. Você sabe que o Carlos, além de meu advogado, é o meu melhor amigo. Vou dar instruções para ele cuidar bem de você, dos seus interesses.

– Bem, se você quer e tem certeza, então tá.

Calaram-se os celulares. O marido, dentro do seu riacho, sentiu uma imensa alegria. Tinha sido mais fácil do que imaginara, Wanda não iria sofrer tanto assim. Não resistiu e jogou-se por inteiro, de paletó e gravata, dentro do rio. Os documentos, o celular? Depois se dava um jeito. Hoje ele era apenas um menino feliz!

Pouco depois, do celular de Wanda partiu mais uma chamada:

– Olivença, Medeiros & Borba, Advogados Associados, boa tarde.

– O Dr. Carlos, por favor.

Instantes depois:

– Dr. Carlos de Olivença, às suas ordens.

– Amor! Deu certo, meu amor! ELE falou que vai pedir o divórcio. ELE! E vai pedir para VOCÊ cuidar de tudo. Que maravilha, resolve todos os nossos problemas, não é?

– Puxa, melhor impossível, querida! Vou tirar até as cuecas dele pra você. Aliás, nesse caso, pra nós. Pois hoje mesmo eu saio de casa também! Pobre da Manuela, vai levar um susto. Mas... é a vida. Se alguém vai sofrer, antes ela do que eu. E já faz dois anos que você e eu estamos nesta lengalenga, não é, meu anjo?

É, esse tal de Dr. Carlos confirma mesmo a velha frase: “Amigo é pra essas coisas!”