LIVRARIAS FECHANDO. E
você com isso? – 1
MILTON MACIEL
No artigo anterior desta série (iGen – A GERAÇÃO INTERNET e
o FUTURO DO LIVRO - http://miltonmaciel.blogspot.com/2018/08/igen-ageracao-internet-e-o-futuro-do.html
) concluo escrevendo:
“Aproveitando, vou
aplicar esses conceitos ao desafio do letramento e aos rumos que creio serem
necessários para que consigamos formar leitores de livros dentro dessa geração
hiper conectada.
Ou a metodologia muda
proporcionalmente e nós conseguimos encontrar esses leitores dentro do mundo
deles, ou estamos inevitavelmente a caminho da fossilização. Como livreiros,
como editores e como autores. Como uso dizer, para horror e desconforto de
muitos colegas, nós, "os velhinhos do papel" (todas as gerações
nascidas antes dessa i-Gen de 1995 em diante) vamos morrer aos poucos e não
vamos ser substituídos pelos jovens e estranhos leitores da IGen como
consumidores de livros de papel. Tão inexorável quanto o destino dos discos de
vinil!”
Certamente isso pode dar aos meus leitores a ideia que
acredito num iminente e dramático fim para o livro de papel. Devo dizer duas
coisas:
Sim – eu acho que isso vai acontecer inevitavelmente.
Mas – eu não creio que isso seja imediato.
Vamos ter uma fase de acomodação e transição, como aconteceu
com o disco bolachão de vinil, que transitou primeiro pelo campo dos Discos Compactos
– os CDs – antes de se dissolver na Nuvem.
Uma transição tecnológica acontece agora no campo do livro:
o nosso velho bolachão de papel transiciona temporariamente pela fase eBook,
esse eBook tal qual o conhecemos hoje, parido ao mundo como um bebê viável em
2007, com o Amazon Kindle.
Creio ter uma clara ideia do que virá a seguir, depois deste
CD/Kindle, num futuro muito próximo; mas este ainda não é o assunto de hoje.
Nosso assunto hoje é o presente, não o futuro. E, nesse
presente, quero abordar todas as dores de parto que acometem esta nascente fase
de transição, durante a qual se consolidarão mudanças dramáticas já em curso no
campo do varejo e da distribuição de livros, não apenas no Brasil, mas no mundo
todo.
A consolidação dessas mudanças levará, no meu entender, a
uma nova onda de reforço do livro físico e, consequentemente, a uma renovação
do campo de varejo, distribuição e edição. Mas essa fase terá que conviver com
o crescente avanço do mercado digital, o qual, no meu entender a médio prazo,
tomará de novo um enorme impulso com a chegada da iGeneration à condição de consumidora com pleno poder aquisitivo definido.
Temos, portanto, um certo tempo de vida útil a aproveitar, quando
podemos ganhar (ou voltar a ganhar) dinheiro com o livro de papel. Coerente com
o que creio, mantenho-me como editor de livros de papel, mantendo inclusive uma
gráfica para livros de papel.
Ao mesmo tempo, pela mesma razão de coerência, vou colocando
todos os meus livros mais comerciais na Amazon do Brasil. E na Amazon, iBooks e
Kobo no mercado internacional, nas versões em inglês e francês.
Sou, portanto, um leal e dedicado soldado do livro físico de
papel. E um entusiasta do Livro Smartphone, esse ente quase
sobrenatural, ainda nos seus primórdios hoje.
O leitor de hoje ainda é, predominantemente, um leitor de
livro físico. Isso vai se manter por um tempo suficiente para que as
consolidações de mercado aconteçam. Muitas redes de varejo vão encolher ou acabar.
Mas outras, mais enxutas, com e-commerces
ou market places mais eficientes,
vão ocupar os espaços disponíveis.
Preocupa-me, nessa refrega, a situação das livrarias de rua,
mais vulneráveis à grande onda recessiva que fechou mais de 190 000 lojas de
rua de todos os ramos no Brasil
inteiro, nestes últimos anos.
Ora, o livro e a leitura são os patinhos feios das terras tupiniquins.
Ler é apenas a 10ª opção de lazer do brasileiro médio. Ou seja, se a leitura
não é obrigatória (escola), ela ocupa apenas uma fração mínima do interesse dos
cidadãos.
De onde já se infere que a grande batalha a ganhar não é a
do livro, mas a que vem muito antes dele, a batalha do LETRAMENTO.
(CONTINUA)
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