iGen – A
GERAÇÃO INTERNET e o FUTURO DO LIVRO
MILTON MACIEL(*)
MILTON MACIEL(*)
Ontem, no Washington Post online,
encontrei uma matéria da Hannah Natanson, que me remeteu a um trabalho
realmente genial, que eu não conhecia. No WPost, Hannah publicou “Yes,
teens are texting and using social media instead of reading books, researchers
say”. A pesquisa referida por ela foi
realizada pelos psicólogos Jean Twenge, Gabrielle Martin e Brian Spizberg, da
San Diego State University, na California (diferente do francês, Jean, em
inglês, é nome feminino!)
Tradução: “Sim, adolescentes estão textando e usando mídias sociais ao invés de
lerem livros, pesquisa diz.”
O neologismo “textando” tem que ser
adotado, como tantos na Tecnologia da Informação (TI) para descrever o ato de
escrever textos curtos no smartphone ou tablet, usando seus
ridículos teclados.
Imediatamente fui à Publishers Weekly
da semana (que, aliás, reportava a recente joint venture entre
a Rakuten Kobo e o Walmart, para venda de eBooks e eReaders nos EUA) atrás de
livros dessa Jean e, a partir da PW, à Amazon americana, onde comprei
(US$ 12.90) no mesmo minuto o eBook genial de Jean Twenge (o
título é mesmo enorme!):
“iGen – Why
Today´s Super-connected kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant,
Less Happy – and Completely Unprepared For Adulthood – and What That Means for
the Rest Of Us”
(“IGen – Porque os garotos super
conectados de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos
felizes – e completamente despreparados para a vida adulta – e o que isso
significa para o resto de nós”).
Li um bom pedaço do livro esta noite.
Caiu como uma luva num momento em que eu estava estudando o mercado asiático
para eBooks em inglês, que acaba sendo ainda maior e mais promissor que o
norteamericano e onde a Amazon não é o maior player. E onde a grande
dispositivo de leitura é o smartphone – o único que eu uso para ler livros desde
2010, quando ainda morava nos Estados Unidos.
Afirma Twenge que, em 1970, 60% dos
estudantes dos últimos anos de ensino médio (high school) americanos liam ou
livro, ou revista ou jornal todos os dias. Hoje, na mesma faixa etária escolar,
só 16% fazem isso.
Mas 92% deles vão ao WhatsApp, Twitter,
Facebook e Instagram várias vezes por dia, 80 vezes pelo menos, em média! Eles
estão devotando a bagatela de SEIS HORAS por dia à mídia digital, maciçamente
através de seus smartphones.
O fascinante trabalho de investigação
científica, que envolveu mais de um milhão de adolescentes, aponta claramente
para o que eu chamo de o futuro do mercado livreiro no mundo.
Em 2013, em Aventura (Miami Dade, FL),
escrevi um livro chamado “O Futuro do Livro, do Jornal e da Revista num
Mundo Cada Vez mais Digital”. Em 2014, tirei uma pequena edição dele
em português, que se esgotou rapidamente. Na capa eu tinha uma foto de uma loja
da falida rede de livrarias Border´s em Miami, anunciando o fechamento (Store
Closing); e uma foto do milagre de Wenchi, Etiópia, onde um grupo de crianças
analfabetas se autoalfabetizou sem professores, somente
com o uso de tablets levados a elas pela equipe de Nicholas Negroponte – e sem
que os meninos e meninas tivessem qualquer tipo de instrução quanto ao uso. O
e-milagre de Wenchi!
Meus vaticínios audaciosos de então, a
favor do e-book, da autoinstrução, da autoplublicação e da trajetória
fulminante do smartphone na leitura de livros, revelaram-se muito exatos. Mas
vejo agora que ainda fui um pouco
tímido. Meus estudos a respeito do letramento nos países asiáticos e da
explosiva evolução do e-mercado de livros no sudeste asiático em geral e na
China em particular, me convencem disso hoje.
E o trabalho de Twenge e de seus
colegas de San Diego, com a parametrização rigorosa desta nova iGen,
completando essa convicção, me deixou apaixonado!
iGen = iGeneration = Internet
Generation; é a geração que nasceu com a
comercialização da Internet (1995) e cresceu para receber o iPhone e o Kindle em 2007 e o
iPad em 2010. Ou seja, são os primeiros adolescentes do mundo a terem disponibilidade permanente de Internet e smartphones o tempo inteiro.
Vou terminar de ler o livro de Twenge e
aprofundar mais o assunto com meus leitores em breve. E, aproveitando, vou
aplicar esses conceitos ao desafio do letramento e aos rumos que creio serem
necessários para que consigamos formar leitores de livros dentro dessa geração
hiper conectada.
Ou a metodologia muda proporcionalmente
e nós conseguimos encontrar esses leitores dentro do mundo deles,
ou estamos inevitavelmente a caminho da fossilização. Como livreiros, como
editores e como autores. Como uso dizer, para horror e desconforto de muitos colegas, nós, "os velhinhos do papel" (todas as gerações nascidas antes dessa i-Gen de 1995 em diante) vamos morrer aos poucos e não vamos ser substituídos pelos jovens e estranhos leitores da IGen como consumidores de livros de papel. Tão inexorável quanto o destino dos discos de vinil!
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