MILTON MACIEL
O psicólogo norteamericano Stephen Arroyo afirmou, a
respeito da função Intelecto na psique :
“O Intelecto é um
servo muito bom, mas pode ser um amo muito mau”.
Ele se refere ao aspecto bipolar da função intelecto, que tem
duas vias: entrada e saída, input e output. Pela primeira via você absorve
informação, pela segunda via você a expele.
Evidentemente, as pessoas ditas intelectuais são aquelas que
têm um grande predomínio da função Intelecto na psique.
Existe uma natural tendência de sobrealimentarmos a função input, isto é, procurar sempre mais e mais
informação; saber mais, ler mais, acumular mais conhecimento. Há pessoas que hipertrofiam
de tal maneira a função input, que se
tornam quase incapazes de exercer a função output.
De um modo geral, essa pessoas se tornam teóricas, estão sempre
à cata de novas informações, novos livros, mais livros, novos cursos, mais
cursos, novas graduações, novas pós-graduações, ad infinitum. Não se dão tempo, não gostam, não se sentem seguras,
se tiverem que produzir algo concreto com essa interminável corrente de entrada
de informações. São teóricos, assimiladores. Sua segurança emocional está em
ostentarem o tamanho da massa de informação que foram capazes de adquirir, embora,
nem sempre, de reter na mente. Com isso é que buscam se distinguir, é onde
colocam o seu orgulho. Procuram impressionar com o tamanho de suas bibliotecas,
os autores todos que dizem ter lido. São os absorvedores do conhecimento produzido
pelos outros. A posição é centrípeta e egoística, visa satisfazer a necessidade
do indivíduo de assimilar compulsivamente
mais e mais informação.
Já o pessoal da saída, do
output, mal assimila uma unidade de informação, tudo o que deseja é colocá-la
em prática imediatamente. São, portanto, práticos, produtores. São fazedores e
com isso é que buscam se distinguir: com a qualidade e/ou a quantidade de suas
obras realizadas. De um modo geral são indivíduos que adoram ensinar, transmitem
o conhecimento à medida que o vão assimilando, não o represam em si. São os
distribuidores do conhecimento produzido pelos outros e por si mesmos. A
posição é centrífuga e altruística, visa satisfazer a necessidade de ação,
compartilhamento e distribuição da informação.
Mas o Intelecto só fica equilibrado quando as duas funções, input e output, são exercidas em
partes iguais.
No entanto, é muito
mais fácil vermos a hipertrofia da função input.
Justamente porque ela é mais prazerosa e não implica necessidade de trabalho
prático, pois é centrípeta. Ler, assistir vídeos, ouvir, aprender é sumamente
agradável para o intelectual tipo input.
É fonte de prazer e de autogratificação.
O mesmo psicólogo Arroyo diz a respeito deles:
“Uma pessoa instruída,
que, o tempo todo, só quer buscar mais e mais informação, sem fazer nada de
prático com o conhecimento que acumulou, tem o mesmo valor que um burro
carregado de livros”.
É nesse sentido que ele afirmou que o Intelecto pode ser um
amo muito mau. Exatamente quando ele assume o controle e o indivíduo age movido
quase integralmente pela função input.
Dirigindo-se especificamente a escritores, o romancista paranaense
David Gonçalves costuma sempre perguntar:
“E a obra? O que é que
estão produzindo, escrevendo? Cadê a obra?”
Na minha opinião pessoal, a acumulação de conhecimento nos
torna automaticamente responsáveis por ele e devedores dos outros. Esse
conhecimento que nós fomos buscar, nos veio integralmente dos outros, dos nossos
predecessores, dos nossos instrutores, dos livros que lemos. No instante em que
nos adonamos, pelo esforço de aprendizado, desse conhecimento, temos a
obrigação moral de passá-lo adiante. E não apenas como ele nos chegou, mas
acrescido da nossa colaboração pessoal. O conhecimento não pode chegar e parar
num indivíduo. Tem que ser enriquecido na sua mente e imediatamente compartilhado,
espalhado e difundido, caso contrário todo progresso humano para. O que se aprende
tem que ser ensinado.
E a enorme massa de conhecimento que o escritor acumulou tem
que ser constantemente transformada em livros e mais livros, em palestras, em
filmes, em cursos.
Está certo David Gonçalves: Cadê a obra?
E você? O que você
está produzindo?
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