MILTON MACIEL
Vem aí a segunda edição, bastante
ampliada, de JOÃO RAMALHO NO PARAÍSO. E a sua continuação, JOÃO RAMALHO
FUNDADOR, em sua primeira edição.
Esses romances históricos, criados
com dinâmica de roteiros de cinema, contam, de forma original e divertida, a
história desse que foi um português fundamental para a colonização do sudeste do Brasil. Aportado nas
costas da atual São Vicente em 1512, quanto tinha apenas 19 anos, Ramalho foi
acolhido pela tribo dos guaianazes, liderada pelo cacique Tibiriçá, de
Inhapuambuçu, no planalto de Piratininga.
João casou com a filha do
cacique, Bartira. E converteu-se em um perfeito índio. Aprendeu a falar tupi e
passou a andar sempre nu, como todos os guaianazes. Era o verdadeiro ai-jesus das índias: teve 9 filhos com
Bartira e mais 48 com diversas outras indígenas, tendo casado também com
algumas delas por serem filhas de
caciques de outras tribos. Esses casamentos, segundo os costumes dos
tupiniquins em geral, estabeleciam alianças estratégicas, passando João a ser
considerado membro da família de cada novo cacique-sogro.
Os costumes sociais dos
tupiniquins, a grande liberdade sexual das índias e a naturalidade de sua
manifestação colorem as páginas da saga de Ramalho com cenas de muita
sensualidade e com muita coisa realmente surpreendente.
Com seus filhos mestiços, à
medida que eles cresceram, João Ramalho formou o primeiro exército legitimamente brasileiro. Comprava arcabuses e
pólvora dos contrabandistas franceses e espanhóis, para armar seus soldados-filhos,
completando o destacamento com centenas de indígenas armados de arco e flecha.
Foi com tal exército que João Ramalho e seu sogro Tibiriçá salvaram a ainda
infante São Paulo de Piratininga da
destruição pelos tamoios invasores.
Foi João Ramalho, com seu
exército, que permitiu que Martim Afonso de Sousa, em 1532, convertesse
Tumiaru, o Porto dos Escravos, na São Vicente de casas de alvenaria. Foi João
Ramalho quem fundou Santo André da Borda do Campo. E foi ainda João Ramalho que
conseguiu a autorização de Tibiriçá para que os jesuítas de Manuel da Nóbrega erguessem,
numa choça da aldeia de Tibiriçá, o Colégio de São Paulo
de Piratininga, de onde se originaria nada menos do que a maior cidade do
Brasil.
A imensa maioria dos orgulhosos
paulistas quatrocentões tem o pé na taba, são descendentes de Ramalho, Bartira
e das outras índias.
JOÃO RAMALHO FUNDADOR conta a
saga dessas fundações e defesas, bem como do comércio de escravos indígenas com
navegadores, portugueses, espanhóis e franceses. Apresenta Antonio Rodrigues e
o Bacharel da Cananéia, o bombardeio de São Vicente por navio liderado por este
último personagem, então aliado dos espanhóis. Ali em Cananéia passava o
meridiano de Tordesilhas e, dali em diante, todas as terras mais ao sul
pertenciam à Espanha. E vai, através da interação de Ramalho com Manuel de
Nóbrega e José de Anchieta, até a baía da Guanabara, onde os franceses tentavam
consolidar sua França Antártica, o que é narrado no terceiro volume da série,
que se chama, com muita propriedade, "VILLEGAIGNON NO INFERNO", atualmente em
editoração.
Essa série de livros tem o nome
geral “DE FRANÇA E BRASIL” e se encerra com o quarto e último volume,
“MONSIEUR LE PRINCE ESSOMERICQ”. Que é a história – contada sempre por ele mesmo – do
indiozinho carijó de 14 anos levado para a Normandia pelo navegador Binot
Paulmier, de Goneville, em 1504. Essomericq – maneira como os franceses
conseguiam pronunciar o nome do indiozinho, que era Içá Mirim (ou seja,
Formiguinha) acabou adotado por Binot, que lhe deu seu mesmo nome e o tornou
herdeiro principal dos seus bens. Casando com uma parente de Binot e tendo com
ela 14 filhos, Formiguinha foi o primeiro
brasileiro que conquistou a Europa, morrendo aos 93 anos como um abastado
comerciante normando. Seus descendentes propalaram que ele era um príncipe,
posto que filho de um rei do Brasil, isto é, o cacique de uma tribo carijó.