FICÇÃO LITERÁRIA,
FICÇÃO DOMINANTE E FICÇÃO DE GÊNERO
MILTON MACIEL
Quem não é do ramo não tem obrigação alguma de perceber,
mas, da mesma forma que na arte musical, existem diferentes manifestações na
arte literária. Naquela temos a música erudita, a música popular de alto nível,
com melodia e poesia de qualidade e a música tipo povão, de largo consumo e sem
maior responsabilidade estética, tanto na melodia, quanto na letra. A
disseminação, o consumo e o “sucesso” de cada uma delas dependem do grau de
cultura do público consumidor.
Em termos de música brasileira, especificamente, um
breganejo trepidante, cuja letra fale de balada, cerveja e bunda grande, vai
ser apresentado e vender (e isso define o “suce$$o”!) muito mais que uma
composição de Chico Buarque; e esta, por sua vez, muito mais do que uma
composição de Villa Lobos.
Forma-se, de forma muito natural e compreensível, uma
pirâmide com a música erudita no topo e a música-povão na base, proporcionalmente
ao nível intelectual e cultural das diferentes faixas de público consumidor.
A mesma coisa ocorre com a literatura de ficção, com a
ficção literária no topo, mas uma distribuição bem diferente nos outros níveis.
Em literatura e, ainda mais especificamente, em termos da realidade do mercado
livreiro no mundo, a ficção pode ser dividida em:
Ficção literária,
ficção dominante e ficção de gênero
Ficção literária
é a de mais alto nível. É muito mais alicerçada no personagens e sua psicologia
do que no enredo ou trama. A linguagem é a mais complexa e rebuscada possível,
o grau de erudição do autor é máximo. Ele não tem preocupação em atingir o
grande público, uma vez que sabe que este não tem nível cultural suficiente. De
um modo geral, preocupa-se mais com seus pares, com a crítica acadêmica e com o
pequeno nicho de seus leitores especiais. As editoras comerciais de porte não
têm preferência por autores novos de ficção literária.
Ficção dominante
(mainstream) é aquela que tem mais
apelo comercial em um certo momento. É absolutamente episódica e ‘sazonal’. Chega,
explode, domina, é imitada, declina e passa. Harry Potter, O Senhor dos Anéis e
os vampiros e lobisomens de Crepúsculo são exemplo disso. Em grande parte,
recebe o apoio do cinema e o sucesso comercial é tremendo. As grandes editoras
sonham o tempo inteiro com essa ficção, pois sabem que é ali que vão ter o
maior retorno para o seu investimento.
Ficção de gênero
é todo o resto. Entre gêneros principais, seus subgêneros e endosubgêneros,
podemos contar mais de 60 possibilidades. A ficção dominante sempre será de um
desses gêneros, alçado subitamente ao alto do palco. Em meu livro “A Arte e a técnica do romance” (Milton
Maciel, IDEL, 2017), da série “Como Escrever Ficção”, eu mostro todos os 62
gêneros e subgêneros mais usuais, explicando um por um. Vou dar aqui apenas UM exemplo de gênero e seus diferentes subgêneros e endogêneros dentro de cada subgênero.
I - Gênero: SUSPENSE
Subgêneros: Mistério, crime e tríler (thriller)
I.1 - Subgênero
MISTÉRIO
Predomina o enredo sobre os personagens, a narrativa e o
protagonismo envolvem os agentes que atuam do lado da lei
Endosubgêneros do
subgênero Mistério:
Sereno – O
protagonista não usa violência, apenas sua capacidade de solucionar mistérios,
como a Miss Marple, de Agatha Christie.
Policial agente –
Aqui o protagonista é um tira ou um detetive particular, que age de forma
heroica e com uso de violência quando necessário
Policial equipe –
O Mistério é resolvido por uma equipe multidisciplinar de policiais, como na
série CSI e outras.
Médico, científico ou
forense – A solução depende do conhecimento de médicos, cientistas ou
patologistas forenses, algo fora do alcance de policiais normais.
Juri – Uma forma
clássica de resolver o mistério através da atuação brilhante de advogados e
promotores muito talentosos.
Histórico – Aqui
o crime praticado, ou o mistério histórico ocorreram no passado e os
envolvidos, vítimas, perpetradores e testemunhas já estão todos mortos.
Protagonistas vão desencavar a verdade através de evidências e documentos que
são resgatados pelos protagonistas e analisados por peritos. É um dos mais
promissores filões do subgênero Mistério atualmente.
I.2 - Subgênero:
CRIME
Predomina o enredo, mas aqui a narrativa e o protagonismo
são, via de regra, dos próprios criminosos, como em “O Chefão”, de Mário
Puzzo ou em “Lúcio Flávio , o passageiro
da agonia”, de José Louzeiro. Não existe Mistério, sabe-se quem são os
criminosos desde o início.
O subgênero tem um único Endosubgênero estabelecido até o momento: o Noir. Nele o protagonista vive na fronteira entre a lei e a
marginalidade, nunca se sabe se ele vai resolver ou cometer um crime e a grande
surpresa final consiste exatamente em sua decisão e suas consequências.
I.3 - Subgênero
TRÍLER (thriller)
Neste subgênero, de total predomínio do enredo, o suspense combina-se
com ação, ritmo acelerado, surpresas, sustos, perseguições, grandes riscos,
violência. Thrill, em inglês, quer
dizer excitação e o thriller, aportuguesado já para tríler,
tem que ser excitante. Às vezes pode
chegar até mesmo à beira da porta de outro gênero, o terror.
Endosubgêneros do
subgênero Tríler:
Psicológico
Político
Sobrenatural
Tecnológico (techno-thriller)
Erótico
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