MILTON MACIEL
Os números do
medo e da covardia: A OMS – Organização Mundial da Saúde – relata que, em todo
o mundo, 50% de todas as mulheres assassinadas são vítimas de seus próprios
homens, marido, amante, namorado – atual ou ex. Há vários países em que mais de
70% das mulheres foram ou são vítimas de agressão física contumaz e onde mais
da metade delas relatam que sua primeira relação sexual foi forçada.
Quando, em 2009,
Ellen Snortland e eu lançamos nosso livro "A BELA MORDE A FERA" em São Paulo,
fomos convidados pelo Geledès – Instituto da Mulher Negra – para fazer uma
apresentação no Hospital de São Mateus, da Prefeitura paulistana, onde funciona
uma unidade para mulheres agredidas. Havia cerca de cem mulheres, sendo 80
delas as agredidas, mais algumas assistentes sociais, psicólogas e enfermeiras
do hospital.
Ellen – uma brilhante ativista, escritora, jornalista e instrutora
de autodefesa de Los Angeles, USA – falou a elas, enquanto eu fazia a tradução
para o português. A seguir Ellen fez várias demonstrações de movimentos de
autodefesa feminina contra as diferentes formas de agressão. Só algumas poucas
mulheres não puderam nos assistir naquele dia: elas estavam imobilizadas em
leitos da enfermaria, impossibilitadas de se moverem, tal a gravidade dos
ferimentos e fraturas a que foram submetidas pela covardia selvagem de seus
agressores.
Mas foi o caso de
uma dessas ausentes o que mais nos chocou. Ela estivera internada até um par de
dias antes de nossa apresentação. O ex-companheiro, não aceitando a separação,
como é tristemente usual, jogou nela um balde de gasolina e ateou fogo. Ela
ardeu por inteiro e agonizou por uma semana no Hospital de São Mateus. Não
resistiu. Morreu – horrivelmente desfigurada.
Felizmente desta
vez o castigo veio rápido, o que quase nunca acontece. O imbecil não percebeu
que uma parte da gasolina arremessada com força sobre a mulher simplesmente
respingou em sua própria roupa. Ou seja, ele também queimou junto! Só que com
muito menos gravidade. Socorrido ao mesmo hospital, padeceu dias de agonia e
dores atrozes, até poder ser removido e escoltado pelos policiais de plantão
para a delegacia e, posteriormente para a prisão. Onde outros presos, gentilmente, o ajudaram a se livrar do planeta Terra ligeirinho.
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