sábado, 31 de dezembro de 2016

NÃO  VOU LHE DESEJAR FELIZ ANO NOVO. Você não precisa.
MILTON MACIEL

Não vou lhe desejar boas festas, próspero Ano Novo e outros que tais. Você não precisa.

Até porque TODOS já lhe desejaram isso tudo. Como fazem sempre todos os anos. Só que esse pessoal todo, ou fez isso só da boca pra fora, ou é muito fraquinho em desejar coisas boas para os outros. Porque, convenhamos, você ouve esses votos e desejos provavelmente há décadas. Aí passa Natal, entra novo ano e... E os votos desse pessoal não simplesmente não funcionam!

Como sei de antemão que eu não vou conseguir ajudar você com os meus votos furados, então deixo de fazê-lo. Um a menos para encher sua caixa postal. Não é que eu não deseje que você se dê bem. Só que sei que, a menos que eu bote a mão no bolso e lhe escorregue uma grana preta, ou a menos que eu lhe dedique dezenas de horas de solidariedade e verdadeira AMIZADE, o que eu vou falar ou escrever são apenas palavras, nada mais que palavras.

 (Legenda da foto:: Eu quero que você gaste um monte, para provar que você ama sua família)

Palavras que todo mundo fala, boa parte das pessoas até que com sinceridade. Bem, pelo menos quando se dirigem a certas e determinadas outras pessoas. Para todas as demais existe Mastercard e elas que se virem!

Agora, convenhamos, você ler num anúncio que a Coca Cola ou o Banco Itaú ou Bradesco, lhe desejam um Feliz Natal é, no mínimo, risível. A Coca Cola deve estar desejando que você tenha BOAS FESTAS, ou seja, beba com sua turma um caminhão de refrigerantes e cervejas do grupo. Já o Itaú/Bradesco está mais para desejar a você um próspero Ano Novo, que é o jeito de eles poderem continuar com o canudinho na sua jugular, sugando uma considerável parte dos reais que você ganha – já que assim você vai poder continuar pagando para ele os juros de cartão de crédito e cheque especial e os ‘serviços’ bancários mais caros DO MUNDO.

O pessoal se embala todo com as palavras das mensagens de fim de ano. Harmonia, bondade, fraternidade, paz aos de boa vontade – seja lá isso o que for – mas continua sendo tudo um palavrório que veste uma tradição. De um lado esse tom natalino mais espiritualizado, do outro o desejo de ter resolvidos os problemas financeiros no ano entrante. 

No fim, o tal feliz Natal e próspero Ano Novo acabam se resumindo em uma grande Saturnália, que é a origem real dos festejos natalinos. Jesus Cristo passa a nascer no 25 de Dezembro, para substituir as festas pagãs do Sol Invicto, do solstício de inverno, do deus persa Mitra e do deus romano Saturno. Uma enorme Saturnália, da qual nasceu nada menos que o nosso carnaval!

E aí vamos mesmo para a Saturnália: nos esbaldamos nas compras, a ponto de congestionar horrivelmente as cidades grandes. Indústria comércio e bancos faturam como nunca. Os saturnalistas, de um modo geral, torram o décimo terceiro e se endividam um pouco mais, senão no Natal, já em Janeiro, que entra pesado com suas cargas tributárias e vencimentos de contas. E aí vem a saturnália pesada das comilanças e bebelanças (ah, a Coca Cola!) de Natal: mesa farta e cara, se der com algum produto importado, pega bem. E trocamos presentes porque TEMOS que trocar, é a LEI!

E a saturnália segue firme até estourar no grande rega-bofes da festa de Ano Novo.

O que fazer? Nós fomos manipulados dentro desse sistema, aprendemos isso tudo desde criancinhas, levamos isso tudo adiante quando adultos.

Mas agora, deixando isso de lado, vamos de novo ao assunto dos votos. Não vou desejar Boas Festas porque sei, que a menos que você esteja muito, muito pobre, vão acontecer os rega-bofes, toneladas e toneladas de comida cara vão virar excrementos dali a horas, pobre companhia de esgotos sobrecarregada!

Quanto ao feliz 2017, esse mesmo é que eu não vou desejar. Por que? Maldade? Não, INUTILIDADE! Meu desejo não tem o poder de fazer o seu 2017 feliz ou, ao menos, melhor. Porque só uma pessoa tem essa potencialidade: VOCÊ!

Claro, eu sei que fica bonito eu lhe desejar um grande 2017, assim como você diz desejar para mim. Mas, cá entre nós, que ninguém nos ouça: a  gente, que já é adulto, sabe muito bem que isso é só uma formalidade ditada por uma norma mercantilista de ocasião. Assim como a que temos no dias das mães e dos namorados. Atenção, pessoal: agora você tem que comprar presente, tem que falar palavras bonitas, tem que consumir. É a LEI!

Depois você pode voltar ao seu normal. O mundo não ficou melhor por causa dos seus votos, só teria melhorado se você, de sua parte, tivesse mudado muito, muito, para melhor, nesses curtos dias. E se isso acontecesse também comigo e com todos os outros. E a gente sabe que não mudou tanto assim!

Em 1º. de Janeiro, políticos corruptos vão continuar roubando, pastores desonestos vão continuar enganando seus dizimistas, padres pedófilos vão continuar assediando seus meninos. Homofóbicos,  estupradores e homens agressores bestiais continuarão imolando e matando suas vítimas inocentes.

Então eu vou desejar o que eu posso desejar no máximo para você. Não que eu acredite que esse meu desejo va ajudar em alguma coisa. Mas, mesmo assim, aí vai ele:

Desejo que você saiba DESEJAR. Desejar o certo, o correto, o ético, o melhor para você como ser humano integrado a uma sociedade. Desejo que você saiba desejar. E que, sabendo desejar, saiba COMO desejar. E sabendo como desejar, saiba como TRABALHAR para converter seu desejo em REALIDADE. Sim, porque não há saída mágica: é preciso TRABALHO e ESFORÇO. Sucesso é meramente conseqüência desses dois, não nos iludamos.

Então veja só que fórmula maravilhosa, toda ela dependendo apenas de você e, não, dos meus votos vazios:

Deseje bem, deseje o certo, trabalhe duro e firme para converter esse seu desejo em realidade ao longo do próximo e dos demais anos, tantos quantos forem necessários.

Se você tiver uma boa Saturnália, tudo bem, sinal que a grana deu para atender o costume, para comprar os presentes e os rangos, para obedecer fielmente a LEI. Depois você volta para a dieta e se vira pra pagar os juros.

Por isso tudo, eu me eximo de lhe desejar as tais boas festas e o tal próspero Ano Novo. Como disse, todo mundo já encheu você de tanto falar essas coisas, até mesmo uma pá daqueles hipócritas que o que querem mesmo é ver a sua caveira.

Eu não chego a lhe desejar, por ser inócuo, mais acho que ficaria contente de saber que você soube desejar o certo, o exequível, o realizável. E se deu bem trabalhando firme para realizar esse desejo, usando sua determinação, sua força de vontade, seu caráter, seus talentos.

Ou seja, FAÇA VOCÊ FELIZ SEU 2017! E parabéns antecipados por isso!

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