FARINHA BRANCA E PÃO
INTEGRAL – desnaturação e aditivos
MILTON MACIEL
1 - A FARINHA DE TRIGO
BRANCA
“De 200 anos para cá, os cereais foram empobrecidos
ainda mais, pelo processo de “beneficiamento industrial”.
Ou seja, pela remoção do farelo e do gérmen, fontes de fibras e micronutrientes
e a conservação apenas do endosperma do grão, moído finamente para se
transformar em farinha. Essas farinhas brancas (algumas até branqueadas
artificialmente) são rigorosamente cereais desnaturados, ou seja, o
que já não era muito bom acabou ficando muito pior!
Historicamente, é bom comentar aqui, a farinha de
trigo sempre foi integral, até que foi inventado o processo de retirar dela o
farelo e o gérmen, o que resultava na coloração alva procurada e contribuía
para que a mesma tivesse mais vida útil, pois os componentes oleosos do gérmen
apressam a decomposição da farinha.
O procedimento era inicialmente bastante caro, de forma
que só os mais ricos podiam comer pães brancos, cabendo ao restante todo da
população contentar-se em comer pães integrais. Exatamente o contrário do que
acontece hoje, quando os pães integrais é que são substancialmente mais caros
do que os brancos.
Comer pão branco foi, assim, inicialmente um sinal de status. A cara farinha branca
servia também a outra interessante função, esta de ordem estética: polvilhar as
perucas dos nobres da corte, de modo que todos tivessem imensas cabeleiras
rigorosamente brancas, como se vê nos filmes de época. Obviamente, esse
procedimento era não apenas precário como anti-higiênico.
As perucas iam deixando cair e espalhando farinha
branca pelas roupas e ambientes. E, além disso, serviam como natural criatório
para carunchos, larvas e micróbios à vontade, passando também por óbvios
processos de fermentação, de onde se depreende que se desprende de tal adorno
um cheiro tão desagradável que não há perfume francês que o logre ocultar. Tal
era, na origem, a realidade das lindas cabeleiras, repositórios de farinha
branca a adornar as nobres cabeças daqueles que eram os únicos a poderem comer
pão branco.
Evidentemente, à medida que o quadro se inverteu e a
farinha branca, produzida maciçamente, se tornou mais barata que a integral,
ela foi progressivamente se fazendo uma parcela cada vez mais ponderável na
base alimentar contemporânea e virou comida
de pobre!
O que se vê agora é que, quanto mais pobre é uma
população, maior vai ser a participação dos grãos e da farinha branca na base
de sua dieta diária. Com carnes, peixes e laticínios consideravelmente mais
caros e menos acessíveis, as populações de baixa renda se vêem obrigadas a
depender cada vez mais dessa base de alto conteúdo de carboidratos e de
baixíssimo teor de proteínas de alta qualidade e aminoácidos em equilíbrio.”
(in A SOPA QUÍMICA – Milton Maciel, IDEL, 2008 e 2016)
2 - O PÃO
INTEGRAL INDUSTRIALIZADO e seus aditivos
As pessoas que
tentam fazer o pão integral em casa, usando exclusivamente farinha integral, se
deparam com uma grande dificuldade: a massa quase não cresce, resultando num
pão menor e pesado. Mas a indústria alimentícia encontrou uma fácil solução
para isso, por meio de aditivos químicos alimentares, que são incorporados à
massa.
Como o que dá
‘liga’ à massa e permite que as bolhas de gás carbônico produzidas pela ação do
fermento fiquem retidas na mesma é o GLÚTEN, a primeira solução, também usada
em receitas caseiras, é misturar a farinha integral com a farinha
branca. O outro recurso é a adição de mais glúten simplesmente. Mas,
para uso industrial, isso ainda é pouco, de modo que outros aditivos,
denominados genericamente de MELHORADORES DE FARINHA são empregados. O primeiro
melhorador de farinha mais usado é o ácido ascórbico.
Mas isso pode
ser ainda pouco, quando a participação da farinha integral é maior do que a
branca.
Esta costuma aparecer na lista obrigatória de ingredientes como a
denominação:
FARINHA DE TRIGO
ENRIQUECIDA COM FERRO E ÁCIDO FÓLICO. Sim, essa é a farinha BRANCA!
Se ela aparecer
em primeiro lugar na lista, então o pão tem mais farinha branca do que
integral.
Mas, quando a
farinha a ser usada é 100% integral, então só o ácido ascórbico (a vitamina C,
lembram?) é pouco. Nesse caso, a indústria lança mão, mais modernamente, de um
novo truque químico: o segundo “melhorador” de farinha é a AZODICARBONAMIDA
(ADA).
A
azodicarbonamida é um produto químico usado na indústria de plásticos como
ESPUMANTE, para produzir bolhas no material, deixando leve a flexível. Serve
tanto para fazer plásticos tipo isopor como para fabricar tapetes de
borracha/plástico muito leves e flexíveis, como os usados para prática de Ioga.
A indústria
alimentícia aprendeu a usar a ADA para “melhorar” a farinha branca em geral e,
aumentando a dose, a farinha integral também. Nos EUA temos mais de 500
produtos diferentes que incorporam ADA nas suas farinhas, desde pães, biscoitos
e bolos até pizzas e vários tipos de salgados.
Há pouco tempo
começou uma grita generalizada contra o uso de ADA nas farinhas e o EWG – Environmental Working Group mandou
analisar centenas de produtos existentes no mercado americano, defrontando-se
com o uso de ADA em mais de 500 produtos diferentes. Como resultado da campanha
americana de mobilização contra a ADA, a rede SUBWAY concordou em banir o
aditivo de todos os pães de seus sanduíches. Agora o EWG e outras associações
pressionam outros fabricantes de porte para que façam a mesma coisa.
Para terminar,
vou colocar aqui a lista de ingredientes de um dos pães fabricados no Brasil
usando só farinha 100% integral.
Trata-se do “Pão integral SEVEN BOYS de trigo e linho”.
A embalagem expressa:
“100% da farinha
utilizada é integral”. “O Pão Integral Trigo e Linho Seven Boys utiliza em sua
receita exclusivamente farinha 100% integral, alem de sementes de linhaça
marrom.”
Mas agora vamos
à lista de ingredientes:
Farinha de trigo
INTEGRAL
Glúten de trigo
Açúcar mascavo
Sementes de
linhaça marrom
Gordura vegetal
de palma
Sal
Conservador:
propionato de cálcio
EMULSIFICANTES:
1) Mono e
diglicerídios de ácidos graxos
2)
Estearoil-2-lactil lactato de sódio
Acidulante:
ácido lático
MELHORADORES DE
FARINHA:
1) ácido
ascórbico
2)
azodicarbonamida (a famosa ADA que os americanos não querem!)
Bem, agora você
pode entender porque a indústria alimentícia consegue, num produto típico como
esse, oferecer um pão integral, com farinha 100% integral, crescido, aerado,
fofinho e pré-fatiado. Ao passo que o seu, caseiro, só na base da farinha
integral, fica aquela sola danada de dura.
O segredo deles
é a moça americana, a tal de ADA!
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