quinta-feira, 17 de setembro de 2015

POBRE  SOFREDOR!  
MILTON  MACIEL 

Saio desolado, roto, cansado,
Perdido…
Vou para rua a maldizer meu fado
Sofrido...

Ó céus, como ele – todo mundo diz –
Sofreu!
Ninguém no mundo é tão infeliz
Quanto eu.

Mas quando dobro a primeira esquina,
Desolado,
Eu tenho o corpo de uma menina
Ofertado.

Há muito tempo eu sei de sua luta
Renhida,
Uma criança, mas já é prostituta,
Perdida.

Eu sigo em frente por mais um quarteirão,
Descontente,
É quando noto um vulto escuro no chão...
E é gente!

Receio que o vulto, levantando,
Me ataque.
Mas, ah, é só uma mulher fumando
Seu crack!

Vejo como a sua crise é aguda,
Danada.
E noto que ela está barriguda.
Ferrada!

Me afasto dela: Eu tenho pena é de mim,
Sofredor...
Se elas soubessem que eu padeço assim,
Um horror!

Mais uns passos e eu vejo um mendigo
Com frio.
Parece que ele quer falar comigo...
Nem espio.

Volto pra casa ainda mais triste, vazio,
Revoltado.
Ligo a Hilux pra esquentar: motor frio,
Afogado.

Vou pro Jockey, pra apostar uma grana
Lascada.
Depois pra boate de Copacabana,
Irada!

Só me chateio quando lembro dos três,
Que tristeza!
Nem deram bola pro meu padecer,
Que frieza!

Custava mostrarem um pouco de dó
De mim?
Mas nem que fosse um pouquinho só,
Assim...

Lembro dos três enquanto danço na pista:
Eu nunca vi uma gente tão egoísta!
A puta, a mulher grávida, o mendigo,
Nunca mais quero essa gente comigo!

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