AFLUÊNCIA - Como
o consumismo desenfreado erode nossas vidas. E mata mais em época de pandemia.
MILTON MACIEL
Casas
enormes, televisões cada vez maiores, mais carros ainda, rostos mais jovens a qualquer
custo – estes objetivos são freneticamente perseguidos pelos workaholics de
classe média. Ainda que, para lograr isso, tenham que se esfalfar (estranhamente
SENTADOS* dezenas de
horas por semana) em detrimento de sua saúde e de suas relações familiares.
Especialmente
porque o nível de tensão é sempre mantido altíssimo, já que a maior parte das aquisições
é conseguida através do uso do crédito, criando toda uma geração de devedores
compulsivos estressados, eméritos e eternos pagadores de juros vitalícios.
Algo que é
ainda mais tensionante para as mulheres que trabalham, uma vez que são
obrigadas a gastar, ao longo de toda sua vida, duas a três vezes mais que os
homens de sua mesma idade – porque sujeitas a custos muito mais elevados, causados
pelo maior complexidade do organismo feminino (custos biológicos), pelo arsenal
de consumo obrigatório de roupas, acessórios e produtos e serviços de beleza
(custos comportamentais) e pelo denominado “imposto da vagina”, que
impõe às mulheres preços mais elevados que os dos mesmíssimos produtos vendidos
para homens (custos mercadológicos)**.
Isso numa
sociedade onde as mulheres têm jornada dupla de trabalho, ganham menos do que os
homens para fazer o mesmo trabalho e são, em 50% dos casos, as únicas que
sustentam a família, é muito mais do tensionante – é cruel.
“Estudos
conduzidos em diversos países mostram que se você coloca um alto valor nessas coisas,
você está muito mais sujeito a sofrer de depressão, ansiedade, dependências e
desordens de personalidade. Pessoas nos países de língua inglesa têm o dobro da
possibilidade de desenvolverem doenças mentais do que as pessoas que vivem na
Europa continental.
Cuidado com o
vírus da AFLUÊNCIA! Uma epidemia de consumismo descuidado está varrendo o mundo
com a perseguição compulsiva de mais dinheiro e mais posses, tornando as
pessoas mais ricas e mais... tristes!”
Este é o
aviso cabal dado pelo psicólogo inglês Oliver James, em seu best seller “AFFLUENZA”*** (Afluência, em português, com o significado de abundância,
fartura). O nome faz trocadilho com o vírus da influenza (gripe)
e a palavra inglesa para afluência, que é affluence.
“Nós ficamos
mais viciados em ter do que em ser e passamos a confundir nossas necessidades
com nossas vontades”, conclui o autor.
E este é o
caminho garantido para a INFELICIDADE.
É também o
caminho para nos transformarmos numa sociedade que não apenas vive e ´se mata´
no trabalho em busca da afluência, mas também uma sociedade que literalmente se
mata durante processo, porque de fato MORRE por causa da afluência.
Mesmo em tempos
de pandemias, quando as moléstias infecciosas voltam a ter participação sensível
no número de óbitos totais, ainda assim as chamadas “doenças da civilização”
ou “moléstias da afluência” seguem sendo aquelas que mais matam no mundo.
Doença cardiovascular, hipertensão, obesidade, intolerância à glicose,
diabetes, dislipidemia e câncer seguem sendo os grandes aflitores e maior
preocupação para as autoridades mundiais da saúde.
MOLÉSTIAS DA
AFLUÊNCIA E COVID-19
As doenças
acima citadas estão na base daquilo que torna agora os infectados pelo
coronavírus particularmente suscetíveis ao desenvolvimento de casos críticos e
fatais. Análises feitas com 5 700 casos de internação em Nova Iorque**** revelaram que as ditas COMORBIDADES são exatamente as citadas acima: hipertensão,
obesidade, síndrome metabólica, resistência à insulina, diabetes e doença
cardiovascular prévia puxando o trágico cordão. Basicamente doenças
metabólicas, resultantes de uma alimentação errada e excessiva e de uma sedentariedade
cada vez mais patológica.
Ter uma ou mais
dessas moléstias da afluência dobra a possibilidade de internações e mortes em
pessoas com menos de 60 anos. E 88% dos pacientes internados, mostra o estudo,
tinham pelo menos DUAS dessas comorbidades ao mesmo tempo.
Constatou-se
que níveis elevados de glicose no sangue desempenham um papel importante na replicação
do vírus e no desenvolvimento das tempestades de citocina.
Isso sem falar
que já está comprovado que a obesidade é um fator de risco para qualquer moléstia
infecciosa, pois faz baixar o nível geral de imunidade da pessoa.
É, amigo,
cuidado! Afluência mata e pode matar um pouco mais agora.
REFERÊNCIAS
* Livro “SITTING
KILLS, MOVING HEALS”, Dra. Joana Vernikos, pesquisadora e treinadora de
astronautas da NASA - How modern sedentary lifestyles contribute to poor
health, obesity, and diabetes, and how health can be dramatically improved by
continuous, low-intensity, movement that challenges the force of gravity.
** Livro
“COMO É CARO SER MULHER!”, Milton Maciel - Custos biológicos, sociais e mercadológicos como
barreiras à independência econômica das mulheres
*** Livro “AFFLUENZA”,
Dr. Oliver Jones - There is currently an epidemic of 'affluenza'
throughout the world - an obsessive, envious, keeping-up-with-the-Joneses -
that has resulted in huge increases in depression and anxiety among millions.
**** High prevalence
of obesity in severe respiratory syndrome coronavirus-2 requiring invasive
mechanical ventilation - https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/oby.22831
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