sábado, 14 de fevereiro de 2015

A DAR CAMBOTAS, DENTRO, O CORAÇÃO  
MILTON MACIEL

À sua vista, meu pobre coração
Virou cambota no meu peito vário,
Que, de inconstante no seu modo diário,
Travou-se em rocha firme da Paixão.

Esta mudança me fez, desde então,
Em suas mãos menos que um hilota.
Ah, por que tinha que virar cambota,
Dentro do peito, este meu coração!

No emaranhado insano da emoção,
Fiquei variado, tonto, apaixonado.
De hussardo dardo o peito trespassado,
A dar cambotas, dentro, o coração.

Sendo incapaz de lhe dizer um não,
Sigo esta vida de passo cambaio.
Como atingido por malaio raio,
Vira, em cambotas, o meu coração.

No estrupidar da mera sensação
De me arrastar em tolo desvario,
Corro a você, como pr’o mar um rio:
Em cambalhotas o meu coração!
(cambota = cambalhota)


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

LOUCO DE AMOR  
MILTON MACIEL

Ah, se eu não te amasse assim tão loucamente,
se eu existisse por mim próprio, inda que pouco!
E se eu pudesse ser de ti independente,
se eu não agisse o tempo inteiro como um louco!

Ah, se eu tivesse outra ideia em minha mente,
que não aquela de ser só um escravo teu...
E se eu lograsse viver como antigamente,
sem a loucura que meu juízo acometeu!

Em vão eu busco afastar-me do teu lado,
mas o teu visgo me aprisiona inteiramente
e inteiramente eu me vejo apaixonado.

Tento fugir, mas por mais que eu me debata,
mais me aproximo de ti como um demente
e dessa tua indiferença que me mata!


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ERA UMA NOITE DE INFINDÁVEIS VERSOS  
MILTON  MACIEL

Era uma noite de infindáveis versos.
Tudo pulsava - da Terra ao Infinito.
Crescente-cheia a Lua resvalava
pelo azul-negro, qual ardente lava,
fazendo o céu ainda mais bonito.
Pelo ar, aromas suaves e dispersos...

Era uma noite de infinita espera,
de suaves luzes, morna calmaria.
Ante as estrelas, nuvens deslizavam
em ralos tufos, que se desmanchavam,
sob a galáxia, que tremeluzia...
aos sons furtivos de uma outra Era.

(Imagem: Heaven - Paul  Gaskin)


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

AMOR, TÍMIDO TEMOR
Milton Maciel

No ocaso triste, que a tarde cala,
Na Lua Branca, que à noite fala,
No velo cinza, que sobe ao chão,

Pressinto, tênue, teu vulto breve,
Suponho, suave, teu passo leve,
Respiro, tenso, minha paixão.

Se chegas mesmo, me tremo todo.
Se falas algo, me faço mudo;
A voz não sai, de nenhum modo.

Tento dizer... e esqueço tudo.
Silente quedo, quando a teu lado.
Te perco: cumpro meu triste fado.

(1º, Lugar: Prêmio Nacional NOVA LITERATURA, São Paulo, 2010)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

NO PRINCÍPO ERA O VERBO  
MILTON  MACIEL 

“No princípio era o Verbo”
                        (João I, 1-3)
Depois veio o Substantivo,
O Pronome e o Advérbio,
A Conjunção e o Adjetivo
E o Futuro do Subjuntivo.
E, como se não bastasse,
Ainda surgiu a Sintaxe.

Então uma velha asmática,
Por mais não ter que fazer,
Inventou a tal Gramática,
Para encher nossa paciência.
E, ao dar-lhe ares de ciência,
Tornou o nosso escrever
Verdadeira penitência!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

UM HOMEM ROMÂNTICO DEMAIS  
Microconto (*) nem tão micro assim   
MILTON MACIEL 

Romântico incorrigível, sofro desilusões amorosas que doem demais. Compreendam: Eu poderia tê-la amado por toda a vida; mas, dias antes do casamento, o pai dela, rico industrial, foi à falência! Foi um golpe duro demais e meu pobre coração sonhador se partiu em frangalhos.
Hoje estou para casar com outra mulher, que amo apaixonadamente também. Mas, desta vez, mais escolado, tratei de ganhar a posição de contador da indústria do pai desta. Afinal, gato escaldado... É que sei que meu coração romântico não vai resistir se sofrer outra desilusão igual à primeira. O mundo é muito cruel com pessoas sensíveis como eu... 

(*) Meu microconto favorito é este: “Uma vida inteira pela frente e a bala veio por trás” – Não sei quem é o autor, mas é um gênio! Sem alguém souber – comprovadamente! – faça a caridade de me informar, por favor. Adoro reconhecer a genialidade dos outros. (MM)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

EN EL DARSE ESTÁ LA GLORIA DEL AMOR    (2) 
MILTON  MACIEL   (Poesías en español)

En el darse está la gloria del amor,
Entregarse sin temer es el secreto.
En amor, nada hay que sea concreto;
Por lo tanto, hay que arrojarse sin temor.

¿Va usted sufrir?  Si… más cedo o más tarde.
No existe amor sin sufrimiento, es esto cierto.
Pero, si uno no se arriesga, por miedo del incierto,
El bueno del amor no lo tendrá, por ser cobarde!

Y es por eso que te ruego, mi tesoro:
No tengas miedo de entregarte a mi amor.
Te amaré siempre, te lo juro por mi honor,
Porque, aún más que amarte, yo te ADORO!