sábado, 30 de setembro de 2017

O CAVALARIÇO 
MILTON  MACIEL 

Naquela noite gelada, William Mac Eth quase não conseguiu dormir. O frio do inverno, depois da primeira nevasca do ano, era cruel para quem tinha que dormir naquele monte de feno, que funcionava como sua cama – ali no estábulo onde Torneo era cuidado dia e noite. O cavalo de batalha de Sir Henry Comin recebia mais cuidados do que um nobre da corte. "Maldito Sir Henry! Que breve os vermes roam sua carcaça!"

Para ele, William Mac Eth, um herói da guerra de independência da Escócia, só havia aquele canto gelado numa estrebaria, um monte de feno úmido como cama e duas escassas refeições por dia. Ele, que havia dado seu sangue pela Escócia, que havia lutado ao lado de Sir William Wallace(*) até a covarde traição que o levou à prisão, à tortura e à execução em Londres, em 1305, por ordem do cruel Edward I – "Que sua alma continue a arder no inferno por todo o sempre, desgraçado!"

Para ele, William Mac Eth, que havia perdido os movimentos de uma das pernas na batalha de Stirling Bridge, quando William Wallace havia desmoralizado os bastardos ingleses, só havia agora o lugar de cavalariço de um nobre traidor, que se alinhara sempre com seus parentes, os Comins, contra Sir Robert Bruce, agora o rei de todos os escoceses leais.

Para ele, William Mac Eth, que, mesmo coxo e com dores permanentes, não deixara de lutar em Bannnockburn, em 1314, ao lado de Sir Robert Bruce, quando os escoceses haviam finalmente expulso de suas terras os diabos ingleses e feito correr o seu assustado reizinho Edward II, restava um tratamento humilhante, muito pior do que aquele que era dado a um cavalo.

Poucos escoceses sabiam que ele, William Mac Eth, tivera um papel fundamental na batalha que havia garantido a conquista da independência da Escócia. Ele, o Coxo, como passara a ser chamado, tinha sido o responsável pela fabricação e uso dos ESTREPES (caltrops), os grampos de quatro partes pontiagudas, uma das quais ficava sempre apontando para cima, e que desde os tempos de antes de Cristo eram usados para bloquear o avanço de cavalaria e de infantaria inimigas.

Em Bannockburn, ele havia coordenado o trabalho de sete ferreiros, que passaram dia e noite fabricando milhares e milhares desses grampos para usar no campo de batalha. Depois, com toda a sua dificuldade de locomoção e das dores atrozes que o acompanhavam há dez anos, desde Stirling Bridge, ele fizera questão de comandar os soldados que realizaram a distribuição dos estrepes naquela parte por onde os cavaleiros britânicos seriam obrigados a passar na hora da batalha.

Ali, ocultos pela grama alta, milhares de estrepes ficaram esperando os cascos dos cavalos dos malditos ingleses. Quando estes finalmente chegaram e o reizinho deles, Edward II, ordenou a carga de cavalaria contra os escoceses, o pandemônio produzido na tropa inimiga havia sido total. Os estrepes de Mac Eth haviam feito um estrago tremendo: cavalos saltavam relinchando, derrubavam seus cavaleiros que, caindo estrepitosamente com suas pesadas armaduras, não conseguiam mais levantar. Muitos tinham morte instantânea, quebrando pescoço ou a espinha. Inúmeros daqueles demônios invasores morreram pisoteados por seus próprios cavalos, enlouquecidos de dor e incontroláveis, com aqueles espinhos metálicos de 10 centímetros cravados profundamente nos cascos.

Com a cavalaria inutilizada inesperadamente, a infantaria inglesa ficou à mercê dos valentes homens de Sir Robert Bruce, que avançaram sobre eles e lhes impuseram uma humilhante derrota. Os ingleses bateram em retirada e seu rei decidiu que voltassem todos para Londres imediatamente. Isso equivalia a reconhecer a independência dos escoceses, finalmente.

Mas, no último momento, aquele maldito inglês o havia alcançado com uma flecha, enquanto fugia, o covarde. William Mac Eth tombou em terra, entre a vida e a morte. Foi dado como morto. Mas voltou a si dois dias depois, encontrando-se em meios a milhares de cadáveres em decomposição. Arrastou-se como pôde, esvaído em sangue, com sede, fome e febre. Desmaiou à beira de uma estrada, onde um bando de camponeses, que percorria o campo de batalha em busca de despojos para saquear, o encontrou.

William Mac Eth foi cuidado por eles e sobreviveu, depois de meses de lenta e penosa recuperação. Mas o que não recuperou direito foi sua memória. Por muito tempo esqueceu quem era. Estava assim quando Sir Henry havia passado por aquele lugarejo recrutando homens para servi-lo. Levou o desmemoriado para ser cavalariço.

Na propriedade de Sir Henry, ao mesmo tempo em que se afeiçoava ao arisco Torneo, o cavalo que era o único amigo que tinha agora na vida, Mac Eth foi recuperando sua memória aos poucos. E ficou enfurecido no dia em que finalmente lembrou quem era o maldito Henry Comin. Um escocês traidor dos escoceses, um dos bastardos que havia concebido e preparado a armadilha que prendeu o grande herói da Escócia, William Wallace, levando-o à morte humilhante em Londres.

Henry Comin era um rato traidor. E, como tal, não merecia viver. Mas, como tinha riqueza, terras e homens armados, Robert Bruce se compusera com ele e lhe dera o perdão que ele não merecia. Mas William Mac Eth não lhe dava o seu perdão. Se a Escócia e seu rei não executavam o traidor de Wallace, ele, William Mac Eth, o haveria de executar. Devia isso a Sir Wallace.

Na noite em que lembrou de tudo, Mac Eth, espumando de raiva,  correu para o lugar onde estavam seus poucos pertences, Ali, numa velha bolsa de couro, ele trazia sua relíquias de guerra.

Um osso que um inglês moribundo, que agonizava a seu lado em Bannockburn, lhe garantira que era do amaldiçoado rei deles, Edward I. O carrasco de Sir Wallace havia morrido poucos dia antes, quando liderava os ingleses em avanço para a Escócia. Morreu no meio do caminho. Já estava muito doente e o diabo viera buscar sua alma satânica semanas atrás. Pois o maldito deixou ordens para que seu corpo fosse cozinhado e seus ossos removidos e levados para Londres. O inglês que morria ao lado de Mac Eth amaldiçoou seu rei tirano e indicou a Mac Eth onde estava o grande saco que conduzia os ossos de Edward I. Suas últimas palavras foram para suplicar a Mac Eth que abrisse aquele saco e espalhasse aqueles malditos ossos entre os mortos, a maioria deles ingleses também. Que não deixasse que aqueles ossos chegassem a Londres. Com uma flecha espetada no peito e sua dolorida perna dura, William Mac Eth arrastou-se até o lúgubre saco de couro e rasgou-o com sua faca. E usou o resto de suas forças para ficar jogando aquelas peças de ossos no meio dos corpos espalhados pelo chão. Conservou um único osso de mão, que enfiou entre suas roupas. Se sobrevivesse, queria ter o prazer de esmagar aquela coisa do diabo com seus pés. Essa foi sua última lembrança de Bannockburn, perdeu os sentidos logo depois.

Mas o que William Mac Eth queria não era o osso da mão do bastardo, mas sim suas maiores relíquias da batalha: duas dúzias daqueles benditos estrepes que haviam sido absolutamente decisivos para a vitória escocesa. Eles voltariam ao campo de batalha agora. E o fariam por Sir William Wallace.

William Mac Eth sabia odiar para sempre. Mas já era agora um homem maduro, sabia também esperar, aprendera a ser paciente. Planejou tudo com muita calma e antecedência. E esperou a primeira neve do ano.

Sir Henry Comin costuma cavalgar e adestrar-se com suas armas, a maça principalmente, quase todas as manhãs, muito cedo. Mac Eth tinha que acordar por volta de quatro da madrugada e começar a preparar Torneo. Antes das seis, ainda escuro, já o senhor aparecia com dois homens de confiança. Estes lhe colocavam a armadura leve de treinamento e o ajudavam a montar. Então Sir Henry saía para galopar sozinho. Essa era uma rotina quase diária.

Naquela manhã, que sucedeu a uma noite mal dormida, não foi diferente. Às quatro horas ouviu os gritos de Ewin Mc Dougal:

– Levante, seu inútil preguiçoso! Vá preparar Torneo. Se Sir Henry chegar aqui e não estiver tudo do agrado dele, eu terei o maior prazer em dar vinte bastonadas nessa sua perna dura, seu idiota.

Mac Eth ergueu-se de um salto, ignorando a dor intensa na perna e surpreendendo o insolente Mc Dougal. É que ele estava excitado demais por causa das coisas daquela madrugada. Correu a preparar Torneo, o que em si era um ritual longo de muitas etapas, que lhe consumia muito mais de uma hora, até que o cavalo estivesse alimentado e impecavelmente limpo, escovado e arreado como para combate. Conversou longamente com seu amigo enquanto o preparava, pediu-lhe perdão em voz baixa, prometeu que iria cuidar bem dele depois.

– Já está caducando, Coxo? Conversando com cavalo? – era a voz de Roy M’Ean, o assassino usado por Henry Comin para se livrar de seus inimigos.

Mac Eth nada respondeu, apenas parou de falar com Torneo. Pouco depois Sir Henry chegou. Como de hábito, não lhe dirigiu a palavra, era como se o cavalariço não existisse. M’Ean e Mc Dougal colocaram-lhe a armadura peça por peça, deram-lhe o elmo leve, que o próprio Sir Henry fazia questão de colocar. E aí o ajudaram a montar em Torneo, que estava particularmente indócil naquela madrugada.

Mac Eth aproximou-se, para olhar o patrão bem de perto. Este aproveitou a proximidade para dar-lhe um empurrão com o pé em pleno peito, arrojando Mac Eth no chão. Os três homens gargalharam.

Para surpresa deles, William Mac Eth caiu também na gargalhada. Os outros não entenderam, mas não deram maior importância. Então todos saíram da estrebaria. Sir Henry afastou-se trotando com Torneo. Quando transpusesse a cerca sul, daria toda brida ao cavalo, que, já habituado, sairia a todo galope em direção à passagem da clareira na mata. Os dois ajudantes voltaram para a casa grande. E o William Mac Eth saiu para sua penosa caminhada, na qual ganharia a mata ali mesmo, a duzentos metros da estrebaria e caminharia por ela por quase um quilômetro, até chegar à clareira. Ali, com toda a certeza, teria um encontro com o passado!...

A neve voltava a cair, muito suave agora, o que alegrou William Mac Eth ainda mais. Encobriria seu rastros. Caminhava com dificuldade, a velha dor moendo-lhe as articulações, mas ia contente como nunca. Assobiava pela mata uma velha canção de guerra e vitória. Progrediu lentamente entre as árvores até que avistou, de dentro dela, a clareira. Aí fez um esforço sobre-humano e quase correu durante os últimos cem metros.

Ali, na clareira coberta de neve branca, dois vultos negros eram facilmente visíveis. Um se agitava loucamente: era Torneo. O outro estava completamente imóvel, o brilho metálico da armadura dele traindo as primeiras cintilações avermelhadas do sol, que ainda tardaria uma hora para nascer: era o desgraçado Henry Comin.

William Mac Eth coxeou o mais rápido que pôde até Torneo, que se debatia com um estrepe enterrado no casco. Quando o cavalo viu Mac Eth, trotou em direção a ele com a pata dianteira direita dobrada no ar. Torneo relinchava e bufava. Era certo que se queixava e pedia ajuda a Mac Eth.

– Meu velho, me desculpe por essa dor. E agora vai doer mais ainda, mas eu já vou tirar essa coisa do seu pé. E Mac Eth retirou da cintura uma enorme torquês de ferreiro, que havia levado para isso mesmo. Agarrou a pata de Torneo e, com um único golpe certeiro, apanhou e puxou com toda a força o estrepe para fora. O animal deu um verdadeiro grito de dor, mas, no segundo seguinte, olhando para seu casco, percebeu que a causa do seu sofrimento havia sido retirada por seu amigo. Ainda mantendo a pata ferida levantada, Torneo se moveu de forma que sua cabeça encostasse no peito do cavalariço. E então esfregou-a várias vezes no peito de Mac Eth. "E ainda há gente que diz que os animais não raciocinam, pensou Mac Eth. Este Torneo tem muito mais inteligência que o imbecil do M’Ean, com certeza."

Só então, depois de terminar de acalmar e acarinhar Torneo, William Mac Eth voltou-se a capengou até o vulto caído. O que viu lhe pareceu melhor do que esperava. Sir Henry Comin estava caído de costas, não tinha qualquer movimento, mas estava vivo! Movia os olhos e tentava falar alguma coisa. Mas a voz não lhe saía direito.

– Quebrou a espinha, desgraçado?

Henry Comin só gemia, os olhos apavorados, observando Mac Eth com expectativa e, agora, com uma evidente inquietação. Ensaiou falar de novo e o cavalariço entendeu que ele estava tentando falar a palavra socorro

William Mac Eth ajoelhou-se na neve e retirou o elmo do grande senhor daquelas terras.

– Mais confortável assim, Sir Henry Comin? Espero que sim, para que possa ouvir e entender bem sua sentença – e começou a dizer, com voz empostada:

– Henry Comin, maldito traidor do seu povo, maldito traídor de Sir William Wallace: Eu era um dos homens de Wallace! E eu estava lá, no meio do povo que assistia, quando aquele tirano do diabo, seu estimado Edward I dos ingleses, o fez torturar e decapitar. Henry Comin, traidor dos diabos, Robert Bruce, hoje rei dos escoceses o perdoou por sua infâmia. Mas o povo da Escócia não o perdoa. Sir Wallace não o perdoa. E EU não o perdôo.

Abaixou-se para pegar o estrepe com uma ponta ensanguentada, que havia retirado da pata de Torneo:

– Quer saber o que aconteceu, imbecil? Olhe bem isto aqui: É um estrepe. Eu coloquei duas dúzias deles sob a neve esta madrugada, aqui nesta clareira, que é caminho obrigatório para suas cavalgadas. Pena que tive que machucar meu amigo. Mas era certo que ele ia derrubar você, afinal é para isso que servem os estrepes. Pois é, você se estrepou, assassino. Sabia que esse verbo, estrepar, tem origem na palavra estrepe? Então agora vamos à sua sentença.

Os olhos de Henry Comin giraram esbugalhados nas órbitas, era evidente que ele estava procurando por seus homens. Além daqueles dois bandidos, ele tinha dezenas de soldados a seu dispor. Mas William Mac Eth apenas observava o desespero do grande senhor, totalmente desvalido e incapaz de dar suas ordens agora. O cavalariço empostou a voz de novo:

– Henry Comin, rato miserável, traidor imundo, ladrão, assassino e estuprador: Em nome da Escócia, em nome de Sir William Wallace e em nome do guerreiro escocês William Mac Eth, eu o condeno à morte! Nem precisaria, afinal agora você está um inútil pior do que eu. Eu perdi o movimento da perna, você perdeu todos os movimentos, idiota. Eu devia deixar você vivo para vegetar o resto da vida. Você iria sofrer muito mais, sofrer como merece. Mas não posso. Eu jurei a mim mesmo e jurei mentalmente a Sir Wallace, no momento em que ele era executado pelo carrasco, que eu haveria de executar, um a um, todos os seus traidores. Não foi preciso. Os outros já foram mortos ou morreram antes que eu pudesse lembrar - perdi a memória, você sabe. Mas sobrou você, seu rato imundo. Então eu lhe concedo o perdão...

Os olhos de Henry Comin se arregalaram de novo, uma expressão de alivio pareceu se desenhar neles.

– Eu lhe concedo o perdão... por mais alguns minutos! Aproveite, enquanto eu vou ali na frente, recolher o restante dos meus estrepes da neve. Sabe, são meus brinquedinhos de estimação. Eu os amava pelo que fizeram na guerra de independência em Bannockburn. Agora eu os amo mais, pelo que fizeram com você, seu miserável. Aproveite, viva bastante esses seus últimos minutos. Reze para eu demorar a encontrar todos os meus estrepes, porque eu não vou deixar nenhum dos meus filhinhos nesta neve fria. Vamos lá, comece a contar seu minutos finais, traidor imundo.

E William Mac Eth começou pacientemente a procurar com as mãos e resgatar seus preciosos estrepes da neve. Contou e recontou. Vinte e três! Com mais aquele de ponta avermelhada, que estava agora comodamente apoiado em cima do peito arfante de Henry Comin, vinte e quatro! Todos salvos...

Então manquitolou até o homem imóvel na neve:

– Olhe só: estão todos aqui. Só um deles acabou com você, Henry Comin. Um estrepe causou o seu fim, desgraçado. Sabe, eu até poderia considerar deixá-lo vivo, paralítico até morrer. É, acho que eu teria optado por fazer isso, seu sofrimento seria maior. Mas isso foi até agora há pouco, quando você me deu aquele chute na estrebaria. Agora eu tenho que lhe dar uma pena em meu próprio nome, além das que você recebe pela Escócia e por Sir Willian Wallace. E eu não sei perdoar uma afronta pessoal, Sir Henry Comin. Sou rancoroso e vingativo demais.

William Mac Eth abaixou-se e recolheu do chão a maça de Sir Henry, já semi-encoberta pela neve. E disse as últimas palavras daquela manhã, que via agora o sol brilhar radioso na linha do horizonte leste:

– Agora você vai entender porque eu tirei o seu elmo. Boa viagem até o inferno, Sir Henry Comin.

Girou três vezes a maça no ar, a enorme bola de ferro cheia de pontas refletindo a luz do sol nascente.

– Em nome de Sir William Wallace!

E a esfera de ferro desceu fulminante, tingindo de rubro a brancura da neve.

Um minuto depois, dois coxos avançavam pela floresta, mas agora rumo ao oeste. Um homem manco de uma perna, um cavalo com uma pata levantada. Mais algumas horas e, quando vissem que Sir Henry não tinha voltado para o almoço, sairiam homens à sua procura. Logo o encontrariam na clareira. Só não encontrariam mais seu cavalariço. Nem seu cavalo.

A floresta era grande. A neve, aumentando agora, apagaria as pegadas rapidamente. Em pouco tempo o cavalo já poderia ser montado. E então seu amigoTorneo compensaria sua velha perna estropiada, enquanto estivessem juntos. O resto... era o futuro. Que é sempre uma incógnita, porque que se preocupar com ele? O coxo de quatro pernas relinchava aliviado. O coxo de duas pernas assobiava feliz: "Onde estiver, Sir Wallace, que Deus o tenha!”

(*) Sir William Wallace foi protagonizado no cinema por Mel Gibson, no filme BRAVEHEART - CORAÇÃO VALENTE. O filme é bastante fiel à história, com exceção do romance com a princesa, que só apareceu no Inglaterra tres anos depois de Wallace ter sido executado. E também não foi verídica a morte do rei Edward I no dia da execução do herói escocês. O rei morreu anos depois.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Pediatras americanos recomendam ler para bebês DESDE O SEU NASCIMENTO!

A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendou, nesta terça-feira (24/6/14), que os pais leiam para seus filhos do nascimento até pelo menos os três anos para estimular a aquisição da linguagem e outras capacidades comunicativas.

“Ler histórias com regularidade para crianças pequenas desde o seu nascimento estimula de forma ótima seu cérebro e reforça a relação com os pais em um momento crucial de seu desenvolvimento. Em contrapartida, as crianças desenvolvem a linguagem, o aprendizado da leitura e adquirem capacidades sócio-emocionais para o resto de suas vidas”, explicou a AAP.

Esta recomendação se apoia no fato cada vez mais reconhecido pelos neurologistas de que uma parte importante do desenvolvimento do cérebro se dá nos primeiros três anos de vida.
A AAP recomenda aos pediatras que, durante suas consultas, promovam com os pais esta aproximação à leitura para recém-nascidos até os três anos de idade, quando as crianças entram no ciclo pré-escolar.

A academia destacou que uma criança em cada três nos Estados Unidos chega à pré-escola sem os conhecimentos necessários para aprender a ler.

A academia de psiquiatria lembrou que, a cada ano, 75% das crianças e 80% dos que vivem abaixo do limite da pobreza nos Estados Unidos não atingem um nível de leitura suficiente no quinto ano do ensino fundamental, ou seja, aos oito ou nove anos de idade.

A APP pede a “seus membros que incentivem todos os pais a ler em voz alta textos para seus filhos pequenos, o que pode reforçar a relação entre ambos e prepará-los para adquirir linguagem e as primeiras bases da alfabetização”.

Embora alguns pais com nível superior leiam poesia e façam os filhos ouvir Mozart desde que estão na barriga da mãe, estudos mostram que muitos outros não leem histórias para os filhos com a frequência recomendada pelos cientistas.

Esta é a primeira vez que a AAP publica este tipo de recomendações, com as quais incentiva os pediatras a dar, além de conselhos, livros infantis para famílias carentes. (Fonte: G1, via Ambiente Brasil)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

O REVERSO DO COMEÇO  
MILTON  MACIEL   

Miasmas fosforescentes assolam a madrugada:
Névoas, nuvens, sombras, formas, vultos, passos.
Medos, dores, pressentimentos, todos os cansaços,
Fantasmagóricas essências, o vazio, o fim, o Nada.

Desintegram-se as estrelas, os mundos estremecem,
Feixes de partículas: fótons, mésons, prótons, quarks.
Esboroa-se o universo: os derradeiros corpos darks,
E a energia incontrolável dos sistemas que fenecem.

Desfazem-se as essências, apagam-se as histórias,
Não sobram nem vestígios, nem rastros, nem memórias.
Contrai-se o grande Todo, que o Nada a tudo suga,

Encolhe-se o Universo, sobre si mesmo implode.
E o Homem vê que é o fim, que ele mais nada pode.
Que, então, para sua alma, não resta qualquer fuga

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

FARINHA BRANCA E PÃO INTEGRAL – desnaturação e aditivos
MILTON MACIEL

1 - A FARINHA DE TRIGO BRANCA
   “De 200 anos para cá, os cereais foram empobrecidos ainda mais, pelo processo de “beneficiamento industrial”. Ou seja, pela remoção do farelo e do gérmen, fontes de fibras e micronutrientes e a conservação apenas do endosperma do grão, moído finamente para se transformar em farinha. Essas farinhas brancas (algumas até branqueadas artificialmente) são rigorosamente cereais desnaturados, ou seja, o que já não era muito bom acabou ficando muito pior!

    Historicamente, é bom comentar aqui, a farinha de trigo sempre foi integral, até que foi inventado o processo de retirar dela o farelo e o gérmen, o que resultava na coloração alva procurada e contribuía para que a mesma tivesse mais vida útil, pois os componentes oleosos do gérmen apressam a decomposição da farinha.

   O procedimento era inicialmente bastante caro, de forma que só os mais ricos podiam comer pães brancos, cabendo ao restante todo da população contentar-se em comer pães integrais. Exatamente o contrário do que acontece hoje, quando os pães integrais é que são substancialmente mais caros do que os brancos.

   Comer pão branco foi, assim, inicialmente um sinal de status. A cara farinha branca servia também a outra interessante função, esta de ordem estética: polvilhar as perucas dos nobres da corte, de modo que todos tivessem imensas cabeleiras rigorosamente brancas, como se vê nos filmes de época. Obviamente, esse procedimento era não apenas precário como anti-higiênico.

   As perucas iam deixando cair e espalhando farinha branca pelas roupas e ambientes. E, além disso, serviam como natural criatório para carunchos, larvas e micróbios à vontade, passando também por óbvios processos de fermentação, de onde se depreende que se desprende de tal adorno um cheiro tão desagradável que não há perfume francês que o logre ocultar. Tal era, na origem, a realidade das lindas cabeleiras, repositórios de farinha branca a adornar as nobres cabeças daqueles que eram os únicos a poderem comer pão branco.

   Evidentemente, à medida que o quadro se inverteu e a farinha branca, produzida maciçamente, se tornou mais barata que a integral, ela foi progressivamente se fazendo uma parcela cada vez mais ponderável na base alimentar contemporânea e virou comida de pobre!

   O que se vê agora é que, quanto mais pobre é uma população, maior vai ser a participação dos grãos e da farinha branca na base de sua dieta diária. Com carnes, peixes e laticínios consideravelmente mais caros e menos acessíveis, as populações de baixa renda se vêem obrigadas a depender cada vez mais dessa base de alto conteúdo de carboidratos e de baixíssimo teor de proteínas de alta qualidade e aminoácidos em equilíbrio.” (in A SOPA QUÍMICA – Milton Maciel, IDEL, 2008 e 2016)

2 - O PÃO INTEGRAL INDUSTRIALIZADO e seus aditivos
As pessoas que tentam fazer o pão integral em casa, usando exclusivamente farinha integral, se deparam com uma grande dificuldade: a massa quase não cresce, resultando num pão menor e pesado. Mas a indústria alimentícia encontrou uma fácil solução para isso, por meio de aditivos químicos alimentares, que são incorporados à massa.

Como o que dá ‘liga’ à massa e permite que as bolhas de gás carbônico produzidas pela ação do fermento fiquem retidas na mesma é o GLÚTEN, a primeira solução, também usada em receitas caseiras, é misturar a farinha integral com a farinha branca.  O outro recurso é a adição de mais glúten simplesmente. Mas, para uso industrial, isso ainda é pouco, de modo que outros aditivos, denominados genericamente de MELHORADORES DE FARINHA são empregados. O primeiro melhorador de farinha mais usado é o ácido ascórbico.

Mas isso pode ser ainda pouco, quando a participação da farinha integral é maior do que a branca. 

Esta costuma aparecer na lista obrigatória de ingredientes como  a denominação:

FARINHA DE TRIGO ENRIQUECIDA COM FERRO E ÁCIDO FÓLICO. Sim, essa é a farinha BRANCA!

Se ela aparecer em primeiro lugar na lista, então o pão tem mais farinha branca do que integral

Mas, quando a farinha a ser usada é 100% integral, então só o ácido ascórbico (a vitamina C, lembram?) é pouco. Nesse caso, a indústria lança mão, mais modernamente, de um novo truque químico: o segundo “melhorador” de farinha é a AZODICARBONAMIDA (ADA).

A azodicarbonamida é um produto químico usado na indústria de plásticos como ESPUMANTE, para produzir bolhas no material, deixando leve a flexível. Serve tanto para fazer plásticos tipo isopor como para fabricar tapetes de borracha/plástico muito leves e flexíveis, como os usados para prática de Ioga.

A indústria alimentícia aprendeu a usar a ADA para “melhorar” a farinha branca em geral e, aumentando a dose, a farinha integral também. Nos EUA temos mais de 500 produtos diferentes que incorporam ADA nas suas farinhas, desde pães, biscoitos e bolos até pizzas e vários tipos de salgados.

Há pouco tempo começou uma grita generalizada contra o uso de ADA nas farinhas e o EWG – Environmental Working Group mandou analisar centenas de produtos existentes no mercado americano, defrontando-se com o uso de ADA em mais de 500 produtos diferentes. Como resultado da campanha americana de mobilização contra a ADA, a rede SUBWAY concordou em banir o aditivo de todos os pães de seus sanduíches. Agora o EWG e outras associações pressionam outros fabricantes de porte para que façam a mesma coisa. 

Para terminar, vou colocar aqui a lista de ingredientes de um dos pães fabricados no Brasil usando só farinha 100% integral.

Trata-se do “Pão integral SEVEN BOYS de trigo e linho”. A embalagem expressa:

“100% da farinha utilizada é integral”. “O Pão Integral Trigo e Linho Seven Boys utiliza em sua receita exclusivamente farinha 100% integral, alem de sementes de linhaça marrom.”

Mas agora vamos à lista de ingredientes:

Farinha de trigo INTEGRAL
Glúten de trigo
Açúcar mascavo
Sementes de linhaça marrom
Gordura vegetal de palma
Sal
Conservador: propionato de cálcio
EMULSIFICANTES:
1) Mono e diglicerídios de ácidos graxos
2) Estearoil-2-lactil lactato de sódio
Acidulante: ácido lático
MELHORADORES DE FARINHA:
1) ácido ascórbico
2) azodicarbonamida (a famosa ADA que os americanos não querem!)

Bem, agora você pode entender porque a indústria alimentícia consegue, num produto típico como esse, oferecer um pão integral, com farinha 100% integral, crescido, aerado, fofinho e pré-fatiado. Ao passo que o seu, caseiro, só na base da farinha integral, fica aquela sola danada de dura.

O segredo deles é a moça americana, a tal de ADA!