terça-feira, 31 de julho de 2012


Phenomenal Woman  

Maya Angelou  

MARAVILHOSA MAYA! Grande site de poesias em inglês: Poemhunter 

Pretty women wonder where my secret lies.
I'm not cute or built to suit a fashion model's size
But when I start to tell them,
They think I'm telling lies.
I say,
It's in the reach of my arms
The span of my hips,
The stride of my step,
The curl of my lips.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

I walk into a room
Just as cool as you please,
And to a man,
The fellows stand or
Fall down on their knees.
Then they swarm around me,
A hive of honey bees.
I say,
It's the fire in my eyes,
And the flash of my teeth,
The swing in my waist,
And the joy in my feet.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

Men themselves have wondered
What they see in me.
They try so much
But they can't touch
My inner mystery.
When I try to show them
They say they still can't see.
I say,
It's in the arch of my back,
The sun of my smile,
The ride of my breasts,
The grace of my style.
I'm a woman

Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.

Now you understand
Just why my head's not bowed.
I don't shout or jump about
Or have to talk real loud.
When you see me passing
It ought to make you proud.
I say,
It's in the click of my heels,
The bend of my hair,
the palm of my hand,
The need of my care,
'Cause I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me. 
Maya Angelou

segunda-feira, 30 de julho de 2012


SUA SAUDADE É IDIOTISMO  
MILTON MACIEL
(Brincadeiras com o idioma português)

Você já se sentiu idiota por ter sentido saudade de uma certa pessoa? Justo daquela?

Pois se isso já lhe aconteceu, saiba que isso pode ter sido uma idiotice de sua parte. Mas nunca um idiotismo SEU.

Mas saudade é, sim, um idiotismo. Sempre. Já idiotice é a qualidade ou atitude de quem é idiota. E idiotismo é uma coisa completamente diferente.

Idiotismo linguístico é uma palavra que não pode ser traduzida literalmente em nenhum outro idioma. É o que em inglês se chama de IDIOM e em espanhol é chamado de MODISMO. Se for uma expressão, será um idiotismo fraseológico. Como, por exemplo, “triste de mim”.

Idiotismos são o inferno dos tradutores. Traduzir a palavra saudade para outros idiomas é terrivelmente difícil.

Em compensação, pegue qualquer das muitas expressões idiomáticas do inglês e tente traduzi-las ao pé da letra para o português. Fica terrível, não é? Por exemplo “a piece of cake” (um pedaço de torta), quer dizer algo muito fácil de fazer. É um idiom, um idiotismo fraseológico do inglês.

E saudade é um idiotismo lingüístico do português. Portanto, você pode sentir saudade à vontade. Será sempre um idiotismo. Agora, se vai ser idiotice sua, bem aí são outros quinhentos. Ah, por favor, faça a gentileza de explicar esses other five hundreds para o tradutor que vai tentar dizer isso de forma compreensível a seus leitores de inglês. 

domingo, 29 de julho de 2012


PARA MEU FILHO – 2o. excerto: AS MULHERES
MILTON  MACIEL
 
Filho, a alma feminina
É trama de tal sutileza,
Que exige delicadeza
No trato do dia-a-dia
(Pois ser grosseiro vicia
e o equilíbrio elimina).

Nas discussões seja firme,
Porém não perca o respeito.
Sempre busque por um jeito
De o seu gênio controlar.
Trate sempre de lembrar:
Pela força não se afirme!

Bater em mulher é crime,
É coisa de homem covarde:
Se impõe, com o maior alarde,
Mas só tem valor no músculo.
Um ser assim é minúsculo,
Selvagem, não se reprime.

Pois lhe digo, com certeza,
Que devemos ter no peito
O mais profundo respeito
Pela alma feminina:
Mãe, avó, bebê, menina,
Trate-as com delicadeza.

Traduza esse seu respeito
Numa atitude gentil.
Não pense que é servil
Quem co’a mulher é cortês,
É polido, da-lhe a vez,
E é um cavalheiro perfeito.

O homem moderno parece
Não ligar mais prá mesuras;
Ele as chama de... frescuras.
Mas a sensível mulher
Sabe as mesuras que quer
E o respeito que merece.

Portanto, filho querido,
Em sua mãe e sua irmã
Reconheça, com afã,
A nobreza da mulher.
Respeite-as quanto puder:
Seja justo e agradecido.

Figura: No 30o. Festival de Dança de Joinville, Ana Botafogo materializa toda a sutil delicadeza, toda a espiritualidade da condição feminina

sábado, 28 de julho de 2012



LOLITA DE ARACAJU,
A Mais Jovem Dona de Bordel do Mundo
MILTON MACIEL

(trecho):  Madame Lammounier, Elza do Crato

   Madame Lammounier foi uma lenda viva em Aracaju. Uma legítima francesa, que chegara no esplendor da forma e da beleza ao Brasil, para fazer a vida em grande estilo. Muitos homens se apaixonaram perdidamente por essa Elise Lammounier, muita peixeira foi puxada em duelos por sua preferência. Mas, acima de tudo, muitos cruzeiros, cruzados, cruzados novos, URVs, reais e dólares haviam corrido das mãos de ricos coronéis, de fortes negociantes, de mal remediados empregados do comércio, para engordar a polpuda conta bancária da belíssima francesa. Até mesmo um grande desfalque foi dado em sua honra, por um desatinado gerente do Banco do Brasil que, descoberto, acabou capando o gato e se escafedendo lá para as bandas do Seridó do Rio Grande do Norte.

   O dinheiro da herança de Jean Jacques, os conselhos da bondosa cafetina de Pituba e a colaboração inestimável de duas velhas quengas aposentadas de Aracaju acabaram dando, bastante cedo, a Elise Lammounier a possibilidade de tornar-se, ela mesma, dona de castelo. Com suas reservas, adquiriu uma casa grande e a reformou, adaptando-a para as necessidades de funcionamento de um castelo de categoria. Depois de um ano apenas, o negócio e os lucros cresceram tanto que Elise comprou uma casa muito maior e a reformou graças um irregularíssimo empréstimo concedido por aquele mal-fadado gerente. Quando o dinheiro do empréstimo revelou-se insuficiente para a decoração requintada da casa, o providencial desfalque veio complementá-lo e, assim, a segunda casa de Madame Lammounier foi inaugurada em grande estilo. Mas, como este mundo é mesmo cheio de injustiças, o pobre gerente não pôde estar presente à grandiosa festa de inauguração, posto que já tivera que correr do banco e da polícia, dedicado a salvar a liberdade na caatinga potiguar.

   O castelo de Madame Lammounier prosperou de imediato e, em pouco tempo, tornou-se referência para toda a região. Até mesmo de Salvador e do Recife afluíam clientes importantes, abastados fazendeiros deixavam suas grotas de cana, de gado ou de cacau e viajavam centenas de quilômetros para poderem desfrutar os múltiplos prazeres do novo jardim das delícias nordestino.

   Mulheres jovens e fantásticas, belas, limpas, sofisticadas, eram importadas por Madame de distantes cidades européias. A estas se somavam sensuais mulatas da capital federal, polacas do Paraná, altas e esguias gaúchas, argentinas e uruguaias que emocionavam no tango, cubanas na rumba. Qualidade e quantidade não se entrechocaram na casa de Elise e, por isso, ela cresceu em nome e influência por toda a região. Ser aceita na casa de Madame Lammounier era uma grande honra para uma mulher que fizesse a vida. Além disso, se tivesse a ventura de receber tal oportunidade, ela estaria com a vida feita: os ganhos eram garantidos, certos, polpudos, constantes, originados sempre de homens ricos ou, no mínimo, de classe média bem alta.

  Gerações e gerações de profissionais e de clientes se sucederam sob a sábia batuta de Elise. Jovens estudantes, que estouravam ali suas gordas mesadas, graduaram-se e se tornaram expoentes em suas respectivas profissões. Tenentes fizeram-se coronéis, um até a general chegou. Todas as correntes políticas fartaram-se nas generosas carnes da casa, de tal forma que, fosse qual fosse a curriola na situação e na oposição, Elise estava sempre por cima, assim com prefeitos, deputados, governadores, senadores.

  A casa se consagrou, Madame Lammounier inscreveu seu nome na história do Nordeste brasileiro. E Elise, a francesa, enriqueceu sempre mais com o passar dos anos. Aliás, este último – o passar dos anos – foi o único problema de Elise: envelheceu. Mas o fez com tal classe e com tal suavidade, que muitos nem sequer perceberam seu lento fenecer. Sempre manteve um rol de apaixonados, mesmo ao ultrapassar a perigosa barreira dos sessenta anos. Alguns de seus clientes mais importantes envelheceram também com ela, porém muito mais gastos e maltratados pelo tempo do que ela: largas barrigas, luzidias carecas, leques de rugas, falhas nos dentes, deficiências de audição. Mas mantiveram a admiração por sua musa, que parecia conservar-se infensa e indiferente ao passar do tempo.

   Também com o pior problema dos clientes envelhecidos, a progressiva impotência, Elise sabia lidar como ninguém. Dava a esses menos afortunados prazeres novos e diferentes, deixava-os felizes e confiantes, sabedores que existia vida além da ereção e que – ainda mais importante – seu embaraçoso segredo estava para sempre guardado a sete chaves com a discretíssima francesa, naqueles heróicos tempos em que ainda não havia o maravilhoso comprimido azul.

   Por tudo isso, sabedoria, técnica, encanto, inteligência e, inegavelmente, talento para os negócios e para a política, Elise mereceu chegar onde chegou, tornando-se uma lenda viva no Nordeste. Teve também sabedoria ao reconhecer a hora de parar, fazendo-o enquanto ainda estava por cima. No mais completo sigilo vendeu seu castelo, com nome, freguesia e fundo de comércio inteiro, à amante paulista de um senador usineiro de Alagoas.

   Na noite final, deu a maior festa de que a cidade tivera notícia até então. Escolheu obviamente o dia do seu aniversário, data das mais importantes do calendário estadual, quando centenas de pessoas importantes compareciam para o beija-mão, em longas noitadas de pacífica convivência entre governo e oposição

   No dia seguinte, Elise Lammounier desapareceu para sempre de Aracaju. Para a cidade deixara a notícia de uma longa viagem à Europa, mais do que merecidas férias. A nova proprietária apresentou-se somente como uma competente gerente, recém-chegada de São Paulo, para dar a Elise a oportunidade de descansar e passear por longos meses. A manobra, obviamente nascida da mente brilhante da francesa, funcionou perfeitamente. A paulista teve tempo de cativar a clientela, entender-se com as moças, introduzir aos poucos suas inovações, assenhorear-se, enfim, do negócio.

   A transição foi suave e lenta; a paulista, também dotada de encantos e classe, foi aos poucos cativando os clientes, impondo a força de sua carne nova e apetitosa ao desejo dos lúbricos coronéis, políticos, militares e negociantes. Hábil estrategista ela também, soube manter o restante dentro do padrão de excelsa qualidade elisiana. Até mesmo a festa de aniversário da francesa foi mantida por longos anos, ainda que a aniversariante estivesse sempre ausente, encantada com sua nova residência européia, de endereço jamais revelado, por mais que o demandassem as mais importantes personalidades locais e de outros estados. Tiveram, enfim, que se conformar: Elise Lammounier retirara-se para sempre dos negócios, gozava agora sua fortuna, em justa e merecida aposentadoria, em algum lugar de sua França querida.

   Na verdade, em algum lugar não revelado do seu querido Cariri, no Ceará. Para ali se retirara Madame Lammounier ao fim de sua longa e próspera vida comercial. Deixara Aracaju na companhia de sua ajudante de confiança, Zezé, seu braço direito, a única que conhecia sua verdadeira identidade: Elza Conceição da Silva, nascida em Crato, criada em Missão Velha, alguns poucos meses como empregada doméstica em Juazeiro do Norte.

E dali retirada pela paixão fulminante e pela generosidade de Jean Jacques Lammounier, fotógrafo suíço em viagem pelo Brasil, que a protegeu, amou e instruiu até que a morte o colhesse tão cedo em Salvador, Bahia.

sexta-feira, 27 de julho de 2012


DESTRO LASTRO
MILTON  MACIEL

Destro lastro,
tosco mastro,
duro engodo.
Tredo lodo,
turvo modo,
mau estorvo.
Negro corvo,
lerdo cervo,
pífia enguia,
Feia cria,
fossa fria,
vil rochedo.
Lasso medo,
torpe credo,
ledo engano.
Sério dano,
triste ano,
vão denodo!...

PRENDA MINHA  
MILTON  MACIEL

Estou de volta, estou de volta, prenda minha
Tive muito o que fazer,
Tive que parar rodeio,
Prenda minha,
Nos campos do bem querer.
E apartar do meu anseio, prenda minha,
O medo de te perder.

Tive que aprender co’a vida,
Prenda minha,
Que a saudade dói demais.
E que minha despedida,
Prenda minha,
Foi orgulho e nada mais.

Tive que voltar, sofrendo,
Prenda minha,
Implorando o teu perdão.
Descobri que venho sendo,
Prenda minha
Prisioneiro da ilusão.

E por isso agora imploro,
Prenda minha,
Que me aceites outra vez.
Fui um tolo, agora choro,
Prenda minha:
Recobrei a lucidez.

É na forma desta trova,
Prenda minha,
Que proclamo esta paixão,
Ela é mais uma prova,
Prenda minha,
Desta minha devoção.

quinta-feira, 26 de julho de 2012


PARA MEU FILHO
MILTON  MACIEL
Pequeno trecho do poema “Para Meu Filho”

.........................................

Uma coisa lhe peço, filho:
Não me tome por modelo
De perfeição ou de zelo,
Pois sou apenas humano.
E aqui, neste nosso plano,
Bem discreto foi meu brilho.

Mas, se posso ter orgulho
De certas coisas na vida,
Vivendo esta dura lida,
Não é de não ter errado,
Mas ter errado e acertado.
A outra, é você, meu filho.

De ser seu pai o orgulho
É mais que justificado:
Quer dizer que fui julgado,
Apesar de tudo, à altura
De tão nobre criatura
Recebê-la como filho.

E assim minha vida vai,
Seguindo, dia a pós dia,
No esforço, na porfia:
Tentando me melhorar,
Tratando de merecer
A honra de ser seu pai.


quarta-feira, 25 de julho de 2012



E-BOOKS: o seu presente e futuro como leitor e como autor
MILTON MACIEL

Neste artigo vou citar normalmente a Amazon, maior livraria do mundo, como exemplo de operação do mercado de e-books. Mas esclareço que não sou vendedor dessa empresa e que o que cito aqui pode, de um modo geral, ser aplicado a outras plataformas concorrentes dela. Uso a Amazon como exemplo apenas por ter mais experiência com ela.

Em 2008 a Amazon lançou o Kindle, o aparelho pioneiro dos leitores de livros digitais. Custava quase 500 dólares. No ano seguinte, 2009, já a comercialização de e-books para Kindle ultrapassava toda a venda (17%) de livros de capa dura na Amazon. No ano seguinte, 2010, a venda de e-books na Amazon ultrapassou a venda de todos os livros físicos de capa mole (brochuras). E no ano passado, na Amazon, a maior livraria do mundo, a venda de e-books ultrapassou a venda total de livros físicos, brochuras e capas duras.

É isso mesmo que você leu: mais e-books do que todos os livros impressos!

O leitor Kindle, modelo inicial, hoje é vendido a 67 dólares. O Kindle Fire, uma espécie de irmão mais novo, um autêntico tablet atual com tela colorida, custa menos de 200 dólares. E seu preço vai continuar caindo, pois a guerra dos tablets é total e todos eles são leitores de e-books, não apenas da plataforma Kindle da Amazon, mas também da plataforma Nook da Barnes and Noble, da Kobo, da Sony, do Ipad. E ainda temos os leitores no Iphone e nos smart-phones Samsung e outros, que funcionam com o sistema Android. Eu tenho uma verdadeira biblioteca em cada um dos meus dois smart-phones Samsung, que prefiro aos tablets, pois além de tablets reais, eles também são telefones.

Quando poderia eu imaginar, apenas meia dúzia de anos atrás, que um dia eu poderia ter no bolso da minha camisa mais de uma centena de livros, entre eles a obra completa de Carl Gustav Jung, de Dostoievsky, de Tolstoi, junto com livros da maior atualidade, lançados dias atrás. Imagine-se, leitora ou leitor amigos, vocês com 112 livros de verdade, de papel e capa grossa, no bolso da camisa! Não dá, não é?

O que facilita esse processo é que os livros não são armazenados na memória interna do computador ou dispositivo de leitura, mas ficam na “nuvem” de dados da Amazon, Barnes & Noble ou da Apple Store, etc. Para ter acesso a eles, você precisa estar conectado à Internet (ponto a favor dos smart-phones, que independem de redes wi-fi no ambiente!). Isso apenas caracteriza o aspecto pioneiro dos e-books, quanto ao uso das nuvens de armazenamento na rede, tendência a se tornar totalmente dominante nos próximos anos.

Em outras palavras, a revolução atual dos e-books veio para ficar. Não matará os livros de papel, as árvores ainda não terão esse alívio de imediato. Mas a publicação de livros físicos certamente vai declinar. Em especial, a revolução dos tablets vai atingindo as crianças, que vão se acostumando rapidamente com essa nova forma de material de leitura, um dispositivo do tamanho de um livro, porém mais leve e que é, ao mesmo tempo, um computador. E como esses baixinhos de hoje sabem fazer coisas com um computador! Agora esse computador lhes dá acesso a um enorme número de livros, muitos deles interativos, mais revistas e até mesmo jornais para os mais crescidinhos.

Minha esposa adora minha biblioteca no smart-phone: posso ler na cama sem precisar deixar a luz de cabeceira acesa, o que atrapalha o sono dela. Meus filhos também curtem uma outra praticidade do e-book em celular inteligente: Agora eles vão para o banheiro sempre com os celulares, não levam mais revistas ou livros. Como todos sabemos, aquele instante sagrado nos banheiros brasileiros é um dos grandes promotores do salutar hábito de leitura neste pais.

Por isso tudo recomendo, nos cursos de formação de escritores que costumo dar, que os candidatos a escrevinhadores se preparem para ter seus livros publicados no explosivamente crescente mercado de livros eletrônicos. Ainda mais que esses e-books não são legíveis apenas em tablets, smart-phones, Nooks e Kindles. Você tem aplicativos gratuitos para fazer downloads de e-books em qualquer computador: desktop, notebook ou netbook. Um dos meus prazeres, por exemplo, é conectar um notebook na TV de 52 polegadas, pela entrada HDMI, e ler livros, revistas e jornais naquele monitor gigantesco, a metros de distância. É também o melhor substituidor de comerciais que já descobri.

O download de um livro típico no formato Kindle leva cerca de 2 minutos. Quer dizer, você entra no site da livraria, faz a compra em 3 minutos, o download em mais 2, a instalação local do arquivo em mais 2 e, sete minutos depois de iniciar o processo de compra, você já está começando a ler. Isso é... imbatível! Isso sem falar que existem vários milhares de livros de custo zero para baixar. Dos livros de Jung, o que me custou mais caro, saiu por 2.95 dólares, seis reais hoje.

Uma outra coisa muito importante para os leitores de português. A Amazon já está publicando livros em diversos idiomas além do inglês. O português entre eles. Ou seja, agora você pode fazer o upload do seu arquivo para as diversas plataformas e pouco depois já começa a tê-lo disponível no mercado. No caso da Amazon, quando encaminho um arquivo de livro em inglês, 48 horas depois o e-book já está disponível para o planeta inteiro no formato Kindle.

No caso de um arquivo em português, eles pedem cinco dias para poder passar o arquivo para a plataforma deles. Ou seja, menos de uma semana depois de você fazer o upload do arquivo do seu livro na Amazon, esta o disponibiliza para download em todo o mundo, Brasil incluído, em português. Comparado com os longos meses (ou mais de ano) que você tem que esperar até ter seu livro impresso e distribuído da forma convencional...

A produção de livros físicos também vai declinar por outras razões.

Uma delas é no aspecto quantitativo: Graças ao processo “printing on demand” (impressão sob encomenda) não é mais necessário imprimir grandes quantidades de livros previamente ao lançamento. Ou seja, vai-se imprimindo à medida que entram os pedidos de livros. Sobre esse assunto falarei em uma próxima postagem.

A outra razão é no aspecto relativo: Cada vez é maior o número de títulos lançados como e-books, uma vez que o custo de publicação tende a zero e os próprios autores podem ser seus próprios editores. Numa ótica relativa, aumenta o percentual de títulos publicados como e-books, que não ousariam ir à praça como livros físicos e isso provoca um encolhimento relativo percentual dos livros físicos.

Mas há um outro fenômeno se observa em constante crescimento: é cada vez maior o número de títulos que são lançados exclusivamente como e-books. Isto é, nunca serão impressos! Por que razão? Bem a coisa pega aqui é pelo preço do livro. A maior parte dos e-books é comercializada com preços abaixo de 10 dólares. O valor mais típico está mesmo abaixo de 5 dólares, opção em que preferi situar meus próprios títulos de e-book. Os grandes beneficiados aqui são o autor e o leitor. Por que?

Tomando o exemplo da Amazon, se você fixa o seu preço de venda em menos de 10 dólares, o seu royalty vai ser de 70%. Isso mesmo: 70 por cento! Se escolher colocá-lo acima desse valor, o royalty baixa para 30%. Mesmo assim é muito mais que os magros 10% do preço de capa que o autor pode obter no livro impresso. Veja que quem define o preço final de venda é sempre o autor, não a Amazon.

Com custos de produção e distribuição absolutamente irrisórios, a Amazon pode pagar esses royalties tão altos a ainda lucrar muito com a parte que lhe toca. Evidentemente, a venda tende a ser muito maior se você tem, contra a opção do livro físico a 20 dólares (mais frete), a opção do e-book a 5 dólares; Agora veja o benefício para o autor:

Se ele escolhe seu preço final como 5 dólares e tem 70% de royalty, seu ganho é de $3.50 por livro. Isso equivale a ter que ter o mesmo livro, se impresso, vendido por 35 dólares, para que ele possa ter o mesmo royalty de $ 3.50. Agora pense só no potencial de venda de um título a 5 dólares versus a 35 dólares.

Obviamente em qualquer das duas opções, a Amazon irá fazer o desconto legal do Imposto de Renda norte-americano, o que é perfeitamente normal. E o pagamento é feito por depósito em uma conta que você abre em um banco americano ou então pelo envio de um cheque para seu endereço, todos os meses. E você pode, sim, mesmo não morando nos Estados Unidos, publicar e receber normalmente os seus royalties da Amazon, pagos em dólares americanos e descontadas apenas as taxas do IRS (imposto de renda). 

terça-feira, 24 de julho de 2012


UM BLOG DE ANIVERSÁRIO
MILTON MACIEL

Este blog é junino e joanino. Nasceu em Junho, trinta dias atrás exatamente, no dia de São João. Então ele, como o não-planejado patrono, “acende a fogueira no meu coração”. Vê-se, portanto, que o blog está de aniversário hoje: completa o seu primeiro mês de vida. Comemoro-o com este texto.

Um blog é uma nova realidade maravilhosa dos nossos tempos. Você vira seu próprio editor (Publisher). Nem bem escreve e já está entregando sua produção para o mundo, para o universo. Não depende de agente literário, não depende de revisor, de diagramador, de casa publicadora. VOCÊ é tudo isso ao mesmo tempo.

E você também vira a editora que publica matérias de outros escritores, contemporâneos ou antigos, vivos ou falecidos. Você converte seu blog no que você quiser e ele fica sempre com a sua cara.

Nos meus trabalhos de consultor e coach, costumo recomendar enfaticamente que meus clientes aprendam a desenvolver seu blogs pessoais, grande parte deles com temáticas de suas respectivas profissões. Assim eles começam a escrever, sem aquela obrigatoriedade de fazerem uma obra prima. E sem precisarem se preocupar se um dia alguém vai se interessar em publicar os seus trabalhos.

No seu blog, seguindo critérios totalmente seus, você posta o que quiser, com a extensão que quiser, com a qualidade que conseguir, com a freqüência que lograr – e entrega tudo na mesma hora aos seus leitores potenciais.

O blog ensina você a escrever textos curtos, força você a ter uma certa disciplina na freqüência das postagens, a assumir uma responsabilidade crescente com seus leitores, à medida que a estatística lhe mostra que o número de acessos a seu blog vai crescendo continuamente. Esse é, sem duvida o primeiro grande dividendo que você tem ao começar e sustentar seu blog. Ele o faz potencialmente escritor, caso você ainda não o seja.

É verdade: Não só você se exercita com muita freqüência na arte de escrever e revisar, como também, à medida que você vai acumulando matérias suas com o passar dos meses, você está potencialmente construindo a existência de um livro de crônicas, ou de contos, ou de poesias, ou de crítica.

E agora, com o advento das maravilhosas tecnologias do e-book e do printing on demand, você mesmo pode publicar seus livros a custo zero (e-books) ou muito próximo de zero (printing on demand). Adeus ditadura das grandes editoras, adeus ditaduras dos livros apenas físicos, adeus meses ou anos de espera até ter seu trabalho publicado. Palavra de editor, de livros físicos e de e-books! Postarei mais sobre estes assuntos em breve.

Mas hoje quero apenas comemorar um aniversário com minhas leitoras e meus leitores, afinal devo a vocês todos a sobrevivência e a continuidade deste blog. É para vocês que escrevo diariamente. Sou muito grato pelos apoios que tenho recebido, pelas palavras amigas, pelos incentivos, pelos LIKES no Facebook, pelos followers no Twitter e no Linked In.

Fechamos o balanço dos primeiros 30 dias deste nosso blog com 1860 acessos (62 por dia, em média) e 75 postagens, uma média de 2,5 por dia. E com leitores em lugares inesperados para um blog em português: depois do Brasil, a maior quantidade de acessos vem da Rússia e Alemanha, mais até do que dos Estados Unidos, onde resido.

Enfim, tudo isso graças a vocês, amigas e amigos que têm interesse e paciência de acompanhar estas linhas. Ficaria elegante dizê-las “poucas e mal traçados linhas”, mas isso seria faltar com a verdade. É que elas foram muitas e não podem ser mal traçadas de forma alguma, já que quem as traça é o computador, que escreve bonito e retinho, com sua caligrafia perfeita de Arial 12.

Agora, para finalizar por hoje, vejam o que significa quase 2000 leitores em um mês: Quantos livros teriam que ser impressos, vendidos e dados – e em quanto tempo? – para que se tivesse esse mesmo número de leitores? Uns 2500, certamente, quantidade que ultrapassa muitas edições de livros físicos no Brasil.

Sim - você poderia objetar - mas em compensação você não vendeu nada, não ganhou nada, deu tudo de graça. É verdade, concordo, mas, em compensação, também nada foi investido em fabricação, distribuição e promoção do livro físico. Ninguém arriscou capital aqui. Só que o autor saiu ganhando assim mesmo: deu-se a conhecer a um número grande de novos leitores que, ao se tornarem assíduos na leitura desse autor, vão se constituindo num mercado potencial para a aquisição futura de seus livros, sejam eles e-books ou livros físicos.

É o conceito mercadológico de degustação, de amostra grátis. E é o conceito certo. Afinal, estamos cansados de saber, que é dando que se recebe. Por isso mesmo, autores consagrados fazem questão de manter seus blogs vivos e bem alimentados de novas postagens. Espero que um dia vocês, leitoras e leitores, venham a fazer o mesmo também, com seus próprios blogs. (MM)

segunda-feira, 23 de julho de 2012


LITERATURA BRASILEIRA – JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO
O Coronel e o Lobisomem

Com esta postagem inicio no meu blog uma série de homenagens a grandes escritores da literatura brasileira, alguns dos quais menos conhecidos e, consequentemente, injustiçados segundo minha concepção.

José Cândido de Carvalho, jornalista e escritor fluminense, nascido em Campos, viveu 74 anos e tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras. Escreveu poucos livros, mas um deles, seu segundo romance, “O Coronel e o Lobisomem” tornou-se um grande best seller, ganhou vários prêmios, entre os quais o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira e é reeditado até hoje, 23 anos após a morte do autor. 

O Coronel e o Lobisomem é considerado um dos mais importantes romances já publicados no Brasil. Eu o releio todos os anos, mais de uma vez por ano. O estilo de José Cândido é apenas fantástico. A forma como esgrime o idioma, como usa palavras menos comuns, com as combina formando quase-neologismos, adaptando-as ao linguajar dos homens dos campos do Norte fluminense, é realmente antológica.

Para aqueles que viram “O Coronel e o Lobisomem” no cinema ou na série deTV, ao lerem o livro vão constatar a veracidade do ditado italiano “Tradutore, traditore”. Nada como ler e reler o velho Cândido e se encantar com o fraseado do Coronel Ponciano de Azeredo Furtado e suas dezenas de companheiros de história. Abaixo um pequeno trecho, para dar uma amostra do talento desse gênio da nossa literatura:

Excerto de “O Coronel e o Lobisomem”:

“Correu o tempo de um mês, choveu nos currais, perdi um boi de carga em dente de surucucu. Antão Pereira teve caxumba de um lado só. E por cima de tais desbenefícios, a costa soprou seus ventos brabos. De noite, São Bartolomeu, padroeiro deles, estumava aquela matilha de lobisomens que assobiava e fuçava portas e janelas. Enfastiado, vesti casacão de inverno e fui tirar uns dias em Paus Amarelos, na mesa e na cama de meu primo Juca Azeredo. Era visita prometida e adiada desde longe. Pelo que chegava ao Sobradinho, o parente andava amofinado, de inchação embutida em parte velhaca. Fui chegando e requerendo as pormenorizagens da tal moléstia que fazia e acontecia:

– É apanhada em rabo-de-saia ou é mazela de velhice?

Juca Azeredo gemia a um canto da cama larga onde Cicarino Dantas, antes de torrar o engenho, peneirava suas mulatas na receita de uma por noite. Na recordativa dessas desregragens, brinquei de novo com o primo Juca:

– Diga logo, seu Azeredo, onde apanhou tal galiqueira?

Coitado dele! Tinha contraído bicho-de-pé e caiu na asneira de amamentar a gosturinha da comichão para além do tempo estipulado, que é de cinco dias no mais espichar. Da exorbitância resultou florir na ponta do dedo do primo aquele botão de rosa de mau caráter. A pedido de Juca Azevedo, a obrigação do mestre de alambique escarafunchou a parte ofendida. Esperava criança a dita madama, barriga na casa dos sete meses. O dedo dela assim pejado só podia trazer desfavorecimento ao embaraço do parente. E foi o que sucedeu. Nem era morto o dia e já o primo via chegar a primeira remessa de maldade: a perna pegou peso de chumbo, um frio de maleita deu de vadiar pela espinha dele e como arremate sofreu vexame de barriga de não ter sossego.”

E por aí vai. Para quem gostou do estilo, não há tempo a perder: Internet ou biblioteca pública. A obra ainda não caiu em domínio público. (MM)

domingo, 22 de julho de 2012

DEUS SEGUNDO SPINOZA
Baruch  Spinoza 

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.

A PRIMEIRA PALMADA A GENTE NÃO ESQUECE  
MILTON  MACIEL

Nasci como todos nascem, hoje eu sei. Mas com uma grande diferença: tive imediata consciência do que acontecia. Vou explicar. Foi assim:

A primeira coisa de que recordo, ainda de olhos fechados, foi aquela aguda sensação de frio. Quando abri os olhos para ver o que se passava, fui violentamente ofuscado por um festival de luzes feéricas. Fechei os olhos imediatamente, reação defensiva automática. Foi quando senti aquele golpe traiçoeiro, que foi vibrado por alguém em minhas costas, mais exatamente nas nádegas. Nunca mais o esqueci!

Fui obrigado a abrir os olhos novamente e a me adaptar à dor e ao ofuscamento que a luz daquele ambiente provocava. E imediatamente bradei, em protesto:

– Que é isso?!

Mas o som que escutei não foi de minha voz, porém algo que me lembrou um horrível miado de tigre. Nesse momento, para meu completo pavor, percebi que estava suspenso no ar. E de cabeça para baixo! Um gigante mascarado me suspendia pelos pés e era ele o agressor que havia batido em meu traseiro.

Então notei, horrorizado, que havia sangue, muito sangue abaixo de mim. E que daquele lugar partia uma espécie de corda grossa arroxeada que parecia entrar em minha barriga. Protestei outra vez em altos brados e só então o gigante parou de bater em minha derrière.

Vi então que havia mais gigantes naquela estranha sala. Uma dessas figuras me apanhou, pegou alguma coisa e cortou a corda arroxeada perto da minha barriga. Aí ela me depositou em uma espécie de maca ou algo assim, sei lá. Era uma gigante-mulher. Foi aí que passei a primeira grande vergonha da minha vida!

Tive a clara consciência de que estava nu, completamente pelado na frente de uma mulher. Tentei me erguer na maca para ver se achava algo com que pudesse me cobrir. Mas, misteriosamente, eu não consegui mover o corpo para cima. Aí a mulher enorme não só viu as minhas partes baixas, como começou a passar as mãos nelas e no resto do meu corpo, usando uma espécie de pano para retirar alguma coisa viscosa que havia grudado em minha pele.

Devo ter ficado vermelho de vergonha. Felizmente a enorme criatura pareceu ter percebido o meu embaraço, porque tratou logo de me cobrir e depois embrulhar em uns panos. E me levou no colo para um lugar onde me depuseram num leito aquecido. Finalmente a sensação de frio passou! Na porta do lugar havia uma placa em idioma estrangeiro, onde estava grafada a estranhíssima palavra Berçário, lembro disso perfeitamente até hoje.


Mas aí começou o pior. De repente me veio a maior sensação de fome e de sede. Mas fome extrema, cruel, insuportável. Comecei a gritar de novo, pedindo comida. Lembro-me de ter chamado em altos brados pelo garçom. Mas, outra vez, tudo o que eu consegui escutar foi aquele horroroso miado de tigre que atormentava os meus delicados tímpanos com indizível crueldade.

Ah, como eu ansiava ali por uma variada tábua de queijos, um bom vinho, uma baguette fatiadinha. Eu queria meu Brie, meu Camembert, um Gorgonzola italiano, um Merlot não muito envelhecido, pouco mais de vinte anos, safra 1743. E uma baguette, uma enorme baguette quentinha, hummm.

De novo a telepatia funcionou: como se lesse meu pensamento, uma nova gigante mulher colocou algo em minha boca que eu, sem entender bem por que, comecei a sugar avidamente. Mas, Grand Dieu, era ÁGUA! Foi choque demais. Desmaiei imediatamente e só lembro de ter recobrado a consciência muito tempo depois, quando era uma espécie de bebê roliço que estava aprendendo a caminhar.

Mas foi só para passar pelo segundo horror da minha vida: os gigantes daquele novo ambiente me chamavam por um nome errado. Errado e horroroso: Sebastião. Tiãozinho. Une chose térrible! Mas isso eu conto outra hora. Au revoir.

quinta-feira, 19 de julho de 2012


O EMPREENDEDOR    
MILTON  MACIEL

Ah, fornecedores! De um tempo para cá os fornecedores, triste espécie de maciça e reconhecida intolerância, passaram a achar que eu devia pagar suas duplicatas, em que pese minha evidente impossibilidade – para não mencionar minha total falta de vontade – de fazê-lo. Engraçado, isso: os caras vendem a prazo, o vencimento chega e eles se julgam no direito de receber em dia. Ora, não vendessem, então! Que falta de espírito esportivo, francamente...

Por outro lado, os clientes deram para achar que meus produtos não são bons. Vejam só: justo os meus produtos! Uns incoerentes, uns ingratos, só querem o venha-a-mim, uns refinados egoístas. Nem querem saber do trabalhão que dá fazer aquilo no Paraguai, passar por baixo da Ponte da Amizade (nome dado em reconhecimento à amizade dos guardas, nossos fachas), produzir e colocar embalagens e rótulos idênticos aos verdadeiros, aos importados mesmo.

Ora, rotular virtualmente é uma arte. E impedir que a importação se faça de verdade é um ato patriótico – bi-patriótico, aliás, pois beneficia tanto a economia guarani quanto a tupiniquim. Afinal, essas coisas com marcas suntuosas, grifes norte-americanas ou européias, são todas feitas na China mesmo!... Ora, os verdadeiros patriotas preferem o Guarani e o Real ao Yuan, é lógico.

O problema é que os ingratos dos clientes queriam devolver os produtos – produtos paraguaios legítimos, não qualquer porcaria Made in China, vejam bem. Muita ignorância, maldade humana mesmo! E deram para exigir o cumprimento da garantia, queriam trocas, devolução de dinheiro, conserto de materiais. Francamente, como se fosse responsabilidade minha garantir essas pendengas, consertar ou trocar essas bugigangas. Ora, não comprassem, então! Que falta de espírito esportivo, francamente...

Digam-me então, como pode um bom cristão, temente a Deus, trabalhar como um salutar agente de importação de produtos de grife legitimados sob condições tão adversas? Ora, simplesmente não pode.

Já não basta ter que se esconder da esposa com a amante e da amante com a namorada, o cristão ainda tem que se esconder de credores inconvenientes e de compradores metidos a sebo. Grossa falta de responsabilidade dos governos, que não prestigiam os empreendedores honestos e cheios de iniciativa como eu. Somos todos vítimas desse sistema medieval e obscurantista, que quer nos obrigar a pagar dívidas impagáveis com os SPCs da vida, que quer nos obrigar a cumprir garantias impossíveis com os Procons da vida. Que país é este, Senhor? E, como se não bastasse essa espoliação, ainda querem que a gente pague impostos.

Impostos, vejam bem! Algo que é imposto, enfiado goela abaixo no coitado do cidadão, que passa a ser tachado de contribuinte, nome mais horroroso, desrespeito total. Ora, como contribuinte? Como pensar em contribuição, quando o negócio é imposto a ferro e fogo pelos nababos no poder? Ora, minha filosofia sempre foi a mais correta e honesta possível: sempre fui contra a corrupção pública, contra o desvio de dinheiro do povo. Por isso mesmo é que sempre me neguei a pagar impostos, sempre evitei que meu dinheiro particular virasse dinheiro público. Para que? Para ser vítima de desvios e maracutaias? Não, não o meu, prefiro que ele fique no meu bolso ou no meu banco, antes que seja transformado em dinheiro sujo nas mãos de administradores públicos corruptos. Não, não mesmo – meu lema é tudo pela honestidade, dinheiro limpo, limpinho na minha mão.

Agora vejam a incoerência, o despautério, o desrespeito total e absoluto: ambos, fornecedores e clientes, passaram a insinuar que eu é que sou desonesto. Justo eu, que tenho essa divisa marcante, unívoca – tudo pela honestidade. Chega a dar um desencanto total, um desânimo, uma vontade de deixar todos eles na mão, não lhes comprar mais nada fiado, não lhes fornecer mais nenhum desses meus produtos de grife (pagos obrigatoriamente de forma antecipada, é lógico, nunca se sabe se os clientes vão ser honestos e pagar em dia suas dívidas comigo).

Com essa demonstração de incompreensão e intolerância por parte de clientes e fornecedores, cheguei a cogitar seriamente em deixar o país, oferecer meus préstimos de importador a nações mais civilizadas, onde o empreendedorismo e a honestidade sejam de fato reconhecidos, estimulados e enaltecidos. Minha primeira opção foi a Bolívia, por ser a mais óbvia.

Mas depois passei a considerar seriamente as Ilhas Fiji, por causa da qualidade da água mineral. Confesso que acabei ficando num impasse, o que me manteve imobilizado até este dia, impedindo-me de tomar uma decisão. Bom para o Brasil que, enquanto isso, vai se locupletando de minha presença benfazeja. Que o faça enquanto pode, pois não há de ser por muito tempo.
DIVERSÕES COM O IDIOMA PORTUGUÊS - 1  
MILTON MACIEL  

A cerca fica a cerca de dez metros do pavilhão acerca do qual falávamos há cerca de dez minutos, pois estamos a cerca de quatro meses do verão. (MM)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

ESPOSA AMADA  
MILTON  MACIEL

Há tantos anos que te amo tanto,
que a mim mesmo isso causa enorme espanto.
 
Tu te distingues tanto entre os demais.
Não, não são apenas meus olhos amantes!
São tuas qualidades superiores, contrastantes,
Tuas qualidades espirituais.
Por isso tanto te admiro
E, se te admiro,
Te amo muito mais!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

É A VIDA!  

VERA  ALBUQUERQUE    http://papocomvera.blogspot.com.br

Criativa, imaginária beleza...
Dona do poder e da memória, da hora, agora, do saber criar...
Jogo, carícias, certezas.
Criatura encantada embarca nesta canoa que sobre plumas navega...
Mar aberto, liberdade.
Águas claras, límpidas, espuma prateada roçando os pés.
Criação, canção, execução.
Águas revoltas, borbulhantes, o pulsar de um coração.
Natureza; Mãe Terra; nobreza...
Sincera execução de hinos a saúdam, reverenciando-a.
Energia.
Criança despertando no seu dia de glória, alma amiga.
Essência autorizada a produzir imagens, a colorir os sonhos, a
reproduzir emoções.
Vida!!...
É a vida abrindo-nos o caminho, proporcionando oportunidades,
estendendo as mãos.
Portas abertas. É a vida!!...

MAR DE SOLIDÃO  

MILTON  MACIEL

Nos ventos que correm por sobre as montanhas,
nas ondas que oscilam perenes no mar,
nos raios de luz que provêm das estrelas,
não vejo mais nada, senão teu olhar.

Se vivo, que importa, sem tua presença?
Se vejo, que adianta, sem ver teu olhar?
E agora que espero, em vão, tua lembrança,
não há nem  beleza, nem luz, neste mar.

Sozinho na praia, vagando na areia,
carrego um vazio que só faz aumentar.
Amargo me vejo, porque reconheço:
Perdi teu amor - eu não soube te amar!

Se agora me deixas e buscas tua vida,
que posso fazer, a não ser concordar?
Enquanto te tive fui fraco, insensível.
Agora tua ausência me faz delirar.

Enquanto caminho, sem rumo, na praia,
pergunto a mim mesmo onde posso chegar.
E as ondas respondem, incessantemente:
- Não há porto algum onde logres parar.

E, triste, definho ainda mais cada dia.
Só vejo o vazio do meu próprio olhar.
Estou só, te perdi... e agora percebo:
Minha solidão é maior que este mar.


A MENINA DA LADEIRA – 4ª. Parte (Final)    
MILTON  MACIEL

Quatro horas depois, duas da madrugada, duas viaturas estacionaram em frente à casinha da ladeira. O delegado Aldrovando desceu com seus homens e todos abraçaram efusivamente o ex-chefe.

Dentro de um dos carros, três homens algemados: o cafetão e seus capangas. Arregalaram os olhos ao reconhecerem o velho do trapiche; e os esbugalharam totalmente quando ouviram a despedida do Dr. Aldrovando: “Sabe, chefe, puxei a ficha dos três pelo rádio, isso aí não tem mais jeito, caso perdido. Não tenho lugar na delegacia pra eles, não. No caminho pra capital eles vão resistir à prisão, sabe como é, não é?”

O antigo chefe de polícia sacudiu a cabeça, pensando: “Esse Aldrovando! Continua o mesmo, com ele é sempre do velho jeito. Bem, deixa pra lá, eu estou mesmo aposentado, o que acontecer com os presos dele não é problema meu.”

Estava feliz agora, tinha enfim um novo propósito de vida. Cortar o mal pela raiz fora uma das partes dele. A outra seria devotar-se a resgatar aquela flor-menina do lodaçal a que a maldade humana a tinha arremessado.

E isso ele já tinha começado a fazer, quatro horas antes. Depois que ligou para seu ex-subordinado, deixou o trapiche enquanto as mocas ainda estavam lá se lamentando. E estugou o passo, usou outras ruas, chegou à ladeira antes que a garota, esperou por ela em frente à casinha de madeira. A menina apontou lá embaixo muitos minutos depois, andando devagar, mancando visivelmente. No percurso sua almazinha doía muito mais que os ferimentos, a revolta e a desesperança mais uma vez faziam o estrago costumeiro: lembranças horríveis a acossavam outra vez, outra vez ela tremia...

Fugindo da mãe que a vendera aos onze anos, de caminhão em caminhão chegara primeiro ao agreste, depois ao sertão. Lá aprendeu a sobreviver na mais difícil das condições para uma criança de onze anos, destroçada, totalmente sozinha: prostituta de estrada. Sempre em estradas secundárias, desimportantes, onde os caminhões eram poucos e as meninas eram muitas, porque muita era a miséria faminta que em derredor grassava.

Essas meninas da miséria eram as filhas da seca, formavam estranhos magotes de crianças com fome, que tinham que ganhar com seus corpos mirrados o alimento que faltava também para seus irmãos e irmãs menores, produzidos em séries ininterruptas por mães permanentemente grávidas.

Estas gestavam as futuras filhas da seca em seus ventres desnutridos – as novas crianças que manteriam as estradas poeirentas permanentemente abastecidas de novos corpos mirrados, repastos do machismo mais primitivo, precocemente negociados, precocemente engravidados e adoecidos, numa corrente macabra sem fim, num moto perpétuo que esmaga crianças e seus sonhos, como fossem rolos de brutais moendas.

E agora, aos quatorze anos recém–completados, ela estava de novo numa cidade. Não que tivesse mais esperanças. A lição de três anos de vida pelas estradas e postos de gasolina lhe ensinara que não havia amanhã para gente como ela. O amanhã trazia apenas uma única certeza: ele seria pior do que hoje. Aprendera, com a aniquilação de suas últimas ilusões ao longo desse tempo, a aceitar a vida como ela é: dura, cruel, sofrida, sem volta. Não tinha mais vontades. Sonhos? Besteira. A vida não permite sonhar, a vida é só realidade, realidade da pior, da mais brutal, sempre pior amanhã do que foi ontem.

Foi quando passou de novo em frente à casa de madeira que descobriu que estava errada. Deus estava à sua espera em frente à casa. E Deus tinha assumido a forma de um velho homem cínico e descrente, até aquela noite fechado totalmente em seu egoísmo.

Para o velho delegado Deus se manifestou também, chegou como uma prostituta de quatorze anos e estava ali para resgatar o velho do cinismo e do desamor a que vivia acorrentado. Então o Deus que estava dentro da menina libertou o Deus que estava dentro do homem e ele agiu. Levou-a para dentro de casa, cuidou de suas feridas, matou sua fome, colocou-a em sua cama de casal, cobriu-a cuidadosamente e a embalou presa entre seus braços, até que ela parasse de tremer e adormecesse.


Daquele dia em diante, ela passou a morar na casinha de madeira. E o velho não a desejava mais. Compreendeu perfeitamente qual seria o seu papel, quando a menina terminou de lhe contar toda sua longa e terrível história de abusos e sofrimentos. Não, não a faria sua amante, como a própria menina havia sugerdo, por dever de gratidão. Seria para ela muito mais do que isso, seria o seu redentor, o redentor de sua própria redentora. Começaria tudo de novo: dando a ela tudo o que precisasse, ela o redimiria do seu passado de frieza e violências.  De violências profissionais e de frieza sentimental., quando não soubera dar aos seus a atenção e o cuidado que eles mereciam.

Acabara de aprender, graças a ela, a diferença entre fazer 'amor' e DAR Amor. Cuidaria daquela menina, tinha tempo e recursos à vontade para isso. E resgataria para ela todos os seus direitos usurpados de criança e de mulher: alimento, segurança, respeito, educação, auto-estima. E amor. Verdadeiro. De PAI.